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Mauricio de Sousa anuncia sucessão familiar e revela nova liderança

Conheça os executivos que lideram a primeira grande transformação da casa de criação de Mônica, Cebolinha, Chico Bento e tantos personagens queridos pelos brasileiros

Mauricio de Sousa anuncia sucessão familiar e revela nova liderança

Por Igor Ribeiro – editada por Mariana Collini

Era uma vez uma família repleta de talentos. Começava pelo desenhista que, inspirado nas filhas e amigos, criou personagens icônicos dos quadrinhos brasileiros. A família foi aumentando, transformando-se numa empresa e, depois, numa dinastia. Quando uma daquelas meninas cresceu, ela se juntou ao pai para liderar a turma na próxima fase de personagens, desenhos e revistinhas. Agora, uma nova geração de Sousas vai seguir contando essa e outras histórias pelas próximas temporadas. E a casa dessa família muda de nome, passando a se chamar MSP Estúdios.

A sigla MSP é mais conhecida dentro do mercado de conteúdo infanto-juvenil e se refere a Mauricio de Sousa Produções, marca que ocupou o lugar, ainda nos anos 1960, da Bidulândia, primeiro nome do escritório criado pelo cartunista em 1959. E se você não é um brasileiro que viveu em Marte pelas últimas décadas, já sabe que o Mauricio de Sousa é o criador da Turma da Mônica, do Chico Bento e de tantos outros personagens queridos pelo público (inclusive o Astronauta, caso você tenha estado em Marte).

Com a nova marca, assume também uma nova diretoria, composta por Marcos Saraiva, filho da Mônica “original” e neto de Mauricio; Marina Sousa, a primogênita do terceiro (e atual) casamento do cartunista; seu irmão Mauro Sousa; e Fábio Junqueira, que não é da família, mas está na empresa há mais de 15 anos. “A nova diretoria executiva da MSP Estúdios representa um processo natural da nossa trajetória”, diz o presidente e fundador, com exclusividade ao Estadão. Mauricio de Sousa está com 89 anos e ainda vai ao escritório semanalmente, tomando parte ativa nas decisões, inclusive no processo sucessório. Ele ressalta o tempo de grupo que os novos diretores possuem e como ajudaram a construir diferentes capítulos de sua história. “Cada projeto teve a participação ativa deste time, que conhece a essência de todo o universo da MSP, com um olhar inovador para construir o futuro.”

O pai da Mônica reserva grandes sonhos para o império que criou. “Sei que a nova gestão vai levar a MSP Estúdios a lugares que talvez nem imaginemos ainda. Com certeza farão parte de mais um momento inesquecível da nossa jornada. O futuro está logo ali e estamos prontos para desenharmos juntos!”, complementa Mauricio.

As diretoras Alice Takeda (esposa de Mauricio) e Mônica Sousa deixaram neste início de 2025 suas funções executivas para assumirem cadeiras no conselho, presidido por Mauricio. No novo quarteto, todos são diretores-executivos e lideram juntos. Para as tomadas de decisões, trazem a respectiva experiência como vetor: Marcos era diretor de digital e audiovisual; Marina liderava a área de conteúdo; Mauro era diretor de live experience; e Fábio dirigia o departamento financeiro.

Prioridade inevitável
Além de preparar para uma nova gestão, o movimento também reflete uma reorganização corporativa tendo em vista aquilo que o grupo já vinha construindo organicamente nos últimos 20 anos. Exceto pela exploração de formatos — especialmente desenhos animados com personagens tradicionais — a primeira diversificação de propriedade intelectual (IP) foi a “Turma da Mônica Jovem”, quadrinhos inspirados nos mangás japoneses e direcionados ao leitor adolescente criados em 2008. Em 2012, foi lançada a série animada “Mônica Toy”, inspirada em desenhos de toy art como o coreano “Pucca”, dedicados a jovens e adultos.

“Em 2015 começamos a estudar melhor nossa variedade de IPs: pegamos 49 projetos audiovisuais de gaveta para entender a elasticidade da marca”, conta Marcos Saraiva. Quadrinhos permaneceram sendo editados, assim como a área de licenciamento seguia crescendo, desde materiais pré-escolar até as maçãs Turma da Mônica. Mas a era digital, com o desenvolvimento de diferentes telas e formatos, apontava o audiovisual como uma prioridade inevitável.

No meio desse crescimento, mas ainda sob o rescaldo generalizado que provocou a pandemia da Covid-19, o processo de sucessão começou a tomar forma por meio de um comitê executivo, envolvendo os nomes que hoje formam a diretoria. Eles davam suporte aos executivos da época e à presidência, enquanto testavam novos modelos de gestão. Consultorias e consultores entraram no processo de sucessório, com destaque para Celso Ienaga, sócio-fundador da Dextron Management Consulting e sócio do Cambridge Family Enterprise Group (CFEG). O executivo, que tem mais de 30 anos de experiência em governança, consultoria estratégica e reestruturações corporativas, já havia trabalhado com o Grupo Silvio Santos, por exemplo. E segue participando de reuniões estratégicas da nova diretoria.

Mauro Sousa lembra que o comitê deu indícios de que havia boa sinergia. “Esse grupo se formou porque já tinha uma relação familiar boa, não só de carinho e respeito, mas também de competências profissionais. Isso foi importante para que naturalmente isso resultasse nesse formato”, diz o executivo. Mauro chegou a estudar sucessão familiar na Fundação Dom Cabral, assim como Fábio Junqueira.

Enquanto isso, as duas produções de audiovisual que existiam em 2018 (“Turma da Mônica” e “Mônica Toy”), saltaram para 23, resultado de 15 diferentes IPs. Até ano passado, mais de R$ 200 milhões foram movimentados em projetos audiovisuais.

Diferentes verticais de negócio foram reorganizados para direcionar as atividades do grupo. Internamente, foi desenvolvido os novos nome e marca MSP Estúdios, assim como um brandbook. Liderados por Marina Sousa, equipes passaram a retrabalhar os manuais de estilo. “É o material no qual os roteiristas e desenhistas se baseiam para produzir as histórias, incluindo dos e dont’s, perfil dos personagens, glossários… O do Chico Bento, por exemplo, é bem parrudo”, relata a diretora. “Esses guias estavam defasados e temos investido muito nisso, pois se o conteúdo está mais estruturado, ajuda a impulsionar os novos produtos no mercado.”

Em agosto do ano passado, os quatro foram nomeados diretores-executivos, com posição estatutária na empresa. Foi realizado, no início deste ano, um evento de lançamento interno, reunindo pela primeira vez todos os funcionários para um café-da-manhã fora dos escritórios, sendo apresentados resultados dos últimos anos, objetivos dos próximos, diretrizes para cada área de negócio e lançamentos previstos, além da nova identidade visual.

Decisão colegiada
“A gente fala em rebranding, mas é quase um branding mesmo, já que muita gente, principalmente o consumidor final, não faz ideia do que é o MSP”, afirma Mauro. “Quisemos resgatar o protagonismo do discurso de nossa marca, pois era muito comum que um parceiro, um licenciado, um produtor de conteúdo falassem por nós, divulgando o projeto trabalhado junto a Turma da Mônica, MSP, Mauricio de Sousa”, complementa Marcos. Pela primeira vez, o MSP Estúdios realizará campanhas de awareness de marca para seu novo nome, assim como para os IPs Turma da Mônica e Chico Bento.

Sem abrir números, os executivos apontam que o orçamento de marketing para este ano está dez vezes maior que o de 2024. “Além das campanhas, mudam todos nosso perfis em redes sociais, assim como a comunicação interna, a fachada da sede, os crachás, os logos nas diferentes propriedades e junto aos parceiros. E planejamos fazer um summit, provavelmente no fim do primeiro semestre, dedicado a licenciados, produtoras, parceiros”, antecipa Marcos.

Para tamanho investimento, um intenso trabalho de bastidores precisou ser realizado integrando consultorias e equipes internas, principalmente os times liderados por Fábio Junqueira. “Nosso objetivo era dar fôlego para a criatividade e conteúdo. Mais especificamente nos últimos dois anos, com melhores ferramentas de controle, alinhamento de informações de gestão de pessoas e capacitação profissional”, relata o executivo. “No segundo semestre de 2024 foi definido um planejamento bastante sólido prevendo as ações para 2025. Passamos por um intenso trabalho de governança para o grupo estruturar os objetivos do próximo ciclo.” Permanecem no radar o investimento em capacitação executiva já que, na reestruturação, muitos profissionais deverão assumir novas responsabilidades de gestão.

Uma dúvida é inevitável: não é complicado quatro lideranças discutindo problemas e tomando decisões? Segundo eles, não. A começar que os executivos dividem uma só sala, para melhorar a comunicação. Explicam que certas soluções demandam posicionamento coletivo, mas também há responsabilidades e autonomias divididas nas interfaces com as áreas, deixando o dia-a-dia mais dinâmico e menos burocrático.

Há, contudo, situações em que precisam compartilhar responsabilidades. “Estimulamos a conversa e tentamos entender a hora em que cada um precisa ceder. Sempre teremos as equipes para dar o suporte necessário, mas o primordial para a decisão coletiva é saber ouvir, ceder e entrar num consenso. Tem dado super certo, mesmo quando tem discordância, o que é saudável”, descreve Mauro. “A gente se complementa muito e cada um traz seu repertório para a gestão”, acrescenta Marina.

Estúdios, no plural, traduz não só as diferentes áreas do grupo, mas também valoriza sua diversidade de IPs, produtos, formatos e gerações. No ano passado, estreou na Globoplay a série “Turma da Mônica: Origens”, com protagonistas como Louise Cardoso e Paulo Betti, representando Mônica e Cascão na fase prateada. Por outro lado, o filme mais recente, “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa”, teve um target mais infantil e fez enorme sucesso entre pais e crianças. Nesse ínterim, Isabelle Drummond protagonizou, nos palcos, a peça “Tina: Respeito”, direcionada aos jovens adultos e inspirada na graphic novel homônima produzida por Fefê Torquato em 2019.

Ainda estão previstas, para 2025, a animação de “Horácio” (dirigida por Carlos Saldanha, de “Rio” e “A Era do Gelo”) e a cinebiografia de Mauricio de Sousa (em outubro, aniversário do desenhista). A família mantém em segredo um projeto do universo pets que também pode estrear este ano. (Além de Bidu, o cachorro azul que já apareceu na série “Franjinha e Milena: Em Busca da Ciência”, outro personagem clássico é Floquinho, pet do Cebolinha.)

“Nosso objetivo hoje é manter de três a quatro lançamentos anuais e, nos próximos cinco a dez anos, criar produtos audiovisuais de todos os IPs da MSP Estúdios”, aponta Marcos. Tantas metas audaciosas se encontram no objetivo de dobrar o faturamento nos próximos três anos. E assim, de conto em conto, de reestruturação em reestruturação, Mônica, Cebola, Chico e seus amigos vão se atualizando e encontrando modos de viverem felizes para sempre.

Mauricio de Sousa anuncia sucessão familiar e revela nova liderança

Foto: Alex Silva/ Estadão

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