TEMPO DE RECUPERAÇÃO

Sequelas pós-pandemia

Escolas e alunos foram impactados pela longa interrupção das aulas presenciais, mas têm encontrado soluções para enfrentar os problemas

Por Isabella Baliana

Escolas fechadas. Alunos e professores em casa. Aulas suspensas ou a distância. Além de uma crise no sistema de saúde, a pandemia de covid-19 trouxe diferentes consequências para a sociedade brasileira, sendo a educação básica uma das áreas mais afetadas, com impactos diretos e indiretos para alunos, professores e escolas.

No caso dos estudantes, alguns dos maiores obstáculos foram a falta de atenção e concentração nas aulas online e a dificuldade na utilização de algumas plataformas virtuais. Cauã Lima, aluno do 2º ano do ensino médio no Instituto Presbiteriano de Educação (IPE), em Goiânia, relata que muitos alunos não conseguiam focar no que estava sendo ensinado virtualmente: “Estar no conforto da sua casa e ter aula online, ficar basicamente cinco horas olhando para uma tela, realmente não dá. Então muita gente acabava deixando lá logado e ia embora, ia fazer outra coisa”.

Professora no IPE, Marta Regina Ferreira afirma que um problema enfrentado pelos professores foi o domínio das aulas e avaliações, já que os alunos dificilmente ligavam suas câmeras e participavam de fato das atividades. Por outro lado, ela acredita que, apesar de todos os desafios enfrentados, a rápida transição para o modelo virtual foi essencial para que as aulas não parassem.

Superação em passos curtos

Diante desses dilemas, é compreensível que a parte psicológica e emocional de estudantes e professores também tenha sido afetada. Segundo o psicólogo Alex Cambruzzi, especialista em psicologia educacional, foram revelados altos índices de adoecimento mental nos alunos por conta do cenário trazido pela pandemia. Quadros de ansiedade, depressão e a transformação de transtornos já existentes em casos crônicos são alguns dos exemplos. Um dos caminhos para superar as dificuldades, de acordo com Cambruzzi, é oferecer momentos que regulem o emocional, como campanhas e palestras de orientação promovidas por profissionais da saúde, dias de convivência, reunião de pais e capacitação dos profissionais. “Há muitas alternativas eficazes. O que precisamos é que elas aconteçam”, salienta.

Felizmente, a importância do apoio psicológico nesse período pós-pandemia parece ter sido entendida também em parte da rede pública. Professora na Escola Municipal Coronel Ary Gomes, na capital paulista, Maristela Scaravelli afirma que na instituição os estudantes têm recebido ajuda da equipe pedagógica e, quando necessário, são encaminhados para o Núcleo de Apoio e Acompanhamento para Aprendizagem (Naapa), plataforma da Prefeitura de São Paulo em parceria com o Instituto Liberta, por meio da qual psicólogos e psicopedagogos realizam atendimentos aos alunos.

As escolas privadas têm focado em dois pontos para ajudar os estudantes: apoio psicológico e reforço de conteúdo para superar déficits de aprendizado gerados no período.

No IPE, em Goiânia, os alunos contam com o apoio de psicólogos, psicopedagogos e professores à disposição, que realizam atividades destinadas à resolução de conflitos psicossociais e emocionais. Já para recuperar os atrasos nos conteúdos, a escola tem focado em aulas de reforço, monitoria e tutoria com professores para revisão e recuperação de conteúdos específicos.

Ações parecidas têm sido tomadas no Centro Educacional Construir (CEC), em São José dos Campos (SP). A coordenadora Viviane Cardozo relata que o colégio adota um material socioemocional que tem sido um grande apoio no retorno às aulas presenciais. “Agora, em relação ao aprendizado, foi necessário implantar aulas de reforço para aqueles alunos que percebemos estarem com muita dificuldade”, conta.

Na rede pública, há ainda um outro esforço que precisa ser direcionado para reduzir o risco de abandono das escolas por parte de alunos impactados pela pandemia. Em São Paulo, a Secretaria Municipal de Educação desenvolveu o programa Busca Ativa, que utiliza ferramentas tecnológicas com o objetivo de identificar, controlar e acompanhar crianças e adolescentes que estão fora da escola ou em risco de evasão.

“Todos os professores aprenderam a utilizar novas ferramentas para tornar as aulas mais dinâmicas mesmo quando hoje não estão em aula online.”
Viviane Cardozo, coordenadora do Centro Educacional Construir

Algum legado positivo?

Tirando os claros impactos negativos na formação dos alunos, seria possível apontar algum bom legado deixado pela pandemia de covid na área educacional? Muitos educadores acreditam que sim.

Um dos pontos citados é o avanço tecnológico. “Todos os professores aprenderam a utilizar novas ferramentas para tornar as aulas mais dinâmicas mesmo quando hoje não estão em aula online. Também pudemos perceber o quão importante é a atenção individualizada para cada aluno”, afirma a coordenadora do Centro Educacional Construir (CEC), Viviane Cardozo.

A experiência do professor Fernando Dias de Oliveira, docente na Escola Estadual Lourdes de Carvalho, em Uberlândia (MG), corrobora essa percepção: “Eu não sabia quase nada de informática. Hoje consigo manuseá-la sem problemas. Outra coisa boa foi que consegui fazer muitos cursos e contatos com professores de outros Estados”.

Em Goiânia, a professora Marta Ferreira relata que sua escola, o Instituto Presbiteriano de Educação, passou a adotar aulas cada vez mais inovadoras e interativas, com a perspectiva de futuramente utilizarem ainda mais recursos tecnológicos, como o metaverso.

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