MUDANÇA CURRICULAR

Avaliando o Ensino Médio

Com o início da implementação do novo formato em todo o País, é hora de ver o que está funcionando e o que precisa ser aprimorado

Por Camilla Freitas

O Novo Ensino Médio passou a ser implementado para valer neste ano. De acordo com o Painel de Monitoramento do Novo Ensino Médio, do Ministério da Educação (MEC), até a produção dessa reportagem, dos 27 Estados brasileiros, apenas três ainda não tinham o referencial curricular aprovado e homologado nos Conselhos Estaduais de Educação: Alagoas, Roraima e Tocantins.

As mudanças de fato já começaram em quase todo o País, e, como era possível imaginar, esse primeiro ano tem sido um período de adaptação para escolas e estudantes. Um dos principais objetivos do MEC era a criação de um currículo mais flexível, no qual boa parte da carga horária é escolhida pelos alunos. De acordo com Cláudio Falcão, diretor do Sistema de Ensino pH, a possibilidade de escolha no Novo Ensino Médio e o protagonismo dos estudantes deixam os alunos ainda mais motivados em sala de aula: “Um dos problemas do ensino médio tradicional é que todos faziam as mesmas matérias como disciplinas. Não importava se o aluno fosse médico, engenheiro ou músico, ele tinha as mesmas aulas. Era o setor com mais alunos desinteressados e que mais abandonavam a escola”.

Luiza Lobo concorda. Aluna do 1º ano do ensino médio do Colégio Rio Branco, em São Paulo, ela tem interesse na área de Ciências da Natureza, diz se sentir mais motivada nos estudos e acredita que essa preparação contribui para se adaptar às disciplinas do ensino superior: “Estudar aquilo que você gosta e fazer trabalhos com pessoas que têm interesse na mesma área que você é muito motivador, é como se fosse um lembrete de que, daqui a alguns anos, não vou mais estar estudando as matérias de que não gosto tanto”.

Outro ponto positivo já detectado por alguns educadores é a possibilidade de as escolas trabalharem com novos temas. “A maior vantagem é sem dúvida trabalhar com temáticas que antes ficavam fora ou não eram trabalhadas de forma significativa, pois não fazem parte de programas de vestibulares, tais como projeto de vida, mundo do trabalho, esporte e inclusão e também novas tecnologias”, explica Washington Medeiros, diretor da Escola Estadual Frei Egídio Parisi, em Uberlândia (MG).

Problemas e desafios pela frente

Mas é claro que nem tudo está funcionando bem nesse primeiro ano de mudanças. A ideia de maior autonomia para estudantes e professores muitas vezes permanece mais no campo teórico. Segundo o diretor Medeiros, na rede pública de Minas Gerais essa autonomia ainda não chegou de fato para os alunos:

“Os itinerários para o 1º ano são compostos por eletivas, que nesse caso são disciplinas escolhidas pelos professores e não pelos estudantes”.

A Secretaria de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) confirma que essa limitação só deve acabar em 2023, quando os alunos poderão escolher seu itinerário formativo a partir de nove opções que serão oferecidas.

Outra preocupação de muitos professores é em relação à atualização e formação necessárias para os docentes trabalharem de forma correta com a nova estrutura curricular. “Não houve tempo suficiente de estudo, formação e maturação das equipes gestoras e docentes para se apropriarem dessas mudanças e, assim, elaborarem suas propostas pedagógicas”, comenta uma professora da rede pública de Minas Gerais, que prefere não se identificar.

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