ITINERÁRIOS FORMATIVOS

Novas trilhas de estudo no Ensino Médio

Estudantes agora podem escolher algumas disciplinas. Saiba identificar escolas que trabalham bem com esse conteúdo optativo

Por Luiza Vieira

Enquanto na maior parte do Brasil a reforma na matriz curricular do ensino médio começou a ser implementada este ano, em São Paulo ela já vigora desde 2021. A experiência desse primeiro ano de adesão no Estado permite antecipar vantagens e pontos de atenção do novo modelo para todo o País.

A principal novidade é a introdução dos chamados itinerários formativos, que ocuparão boa parte da carga horária curricular e poderão ser escolhidos pelos estudantes. Todas as escolas — públicas e privadas — são obrigadas a oferecer pelo menos dois itinerários formativos, contanto que as quatro áreas do conhecimento sejam contempladas: Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Linguagens e Matemática. Sendo assim, um único itinerário pode reunir mais de uma área de conhecimento.

Na teoria, as escolas têm autonomia para elaborar o seu próprio currículo, mas, na prática, não é bem isso que tem acontecido até agora. De acordo com a organização não governamental Rede Escola Pública e Universidade (Repu), na rede pública de ensino médio em São Paulo, 35,9% das escolas ofertam apenas o mínimo de duas opções de itinerário formativo. E, destas, 71,7% (ou 25,7% do total da rede) oferecem exatamente os mesmos dois itinerários: “Cultura em movimento” e o “Meu papel no desenvolvimento sustentável”.

Segundo João Cêpa, gerente de Articulação e Advocacy do Movimento Pela Base, a reforma do Novo Ensino Médio é profunda e demanda tempo e adaptação. “Os Estados vão precisar aprimorar o mecanismo de alocação de professores, de organização de tempo, espaço e estrutura para garantir a oferta dos itinerários formativos e a escolha do estudante”, afirma.

Os itinerários nas escolas privadas

Na prática, as escolas privadas, por terem mais recursos, estão largando na frente na construção do currículo flexível. Na Escola Vera Cruz, na capital paulista, a cada série, o aluno escolhe um itinerário formativo e duas disciplinas eletivas. “No conjunto, os estudantes vão escolher mais ou menos 16 disciplinas ao longo do trajeto e 12 possibilidades de itinerário”, diz Ana Bergamin, coordenadora do ensino médio.

O itinerário “Outros mundos são possíveis”, por exemplo, discute como as sociedades se estruturam e as diferentes formas de se viver sob a ótica das disciplinas de Geografia e História. Já um dos itinerários referentes à área de Linguagens combina fotografia, artes visuais e escrita para falar sobre o cinema como ferramenta de comunicação.

O Colégio Objetivo de Indaiatuba (SP) disponibiliza itinerários nas quatro áreas do conhecimento e cerca de 30 disciplinas eletivas, com duração semestral ou anual. Alguns exemplos das eletivas fornecidas são: “O gênero oral e escrito no ambiente acadêmico”; “O papel da estatística na leitura do mundo”; “Programação para projetos em Internet das Coisas”; “Física médica” e “Empreendedorismo social”.

Loide Rosa, mantenedora da escola, diz que a reforma curricular possibilita aos professores trabalharem o conteúdo de maneira interdisciplinar: “Nós temos uma eletiva chamada ‘A importância da ciência na perícia criminal’. Poxa, mas o que o aluno vai estudar? Tudo. Ao investigar a cena de um crime, o professor pode abordar diferentes matérias: a biologia entra na análise do DNA, a química, na busca pela marca de sangue, a física, para entender o trajeto da bala. Isso é muito diferente do que o estudante ir para uma aula de matemática avançada, por exemplo”.

Temas como sustentabilidade, cultura digital e empreendedorismo são algumas tendências que as escolas têm explorado mais na construção dessas trilhas, bem como unidades curriculares que propõem o protagonismo do estudante e o uso de metodologias ativas.

“Como o vestibular ainda não mudou, os alunos precisam se preparar, então ainda tem o peso do ‘velho’ ensino médio”
Loide Rosa, mantenedora do Colégio Objetivo de Indaiatuba (SP)

 

E a preparação para o vestibular?

Um dilema que ainda precisa ser enfrentado é como conciliar o novo modelo de trilhas formativas opcionais com a preparação para os processos seletivos que antecedem a entrada no ensino superior. “Como o vestibular ainda não mudou, os alunos precisam se preparar, então ainda tem o peso do ‘velho’ ensino médio”, lembra Rosa.

Para João Cêpa, considerando o foco que a rede privada tem nos exames vestibulares, as trilhas de aprofundamento também podem ser uma ótima oportunidade de garantir uma preparação mais específica para o estudante. Isso porque o Enem será adequado ao novo currículo em 2024, com um dia de prova dedicado à formação geral básica e outro ao itinerário formativo que o aluno escolheu durante o ensino médio.

 

Como avaliar as trilhas de uma escola?

  • Analise se o currículo proposto pela escola está dentro do que é previsto em lei e se foi aprovado pelo Conselho de Educação responsável;
  • Entenda se os itinerários formativos têm programas de curso acoplados a áreas de conhecimento e disciplinas;
  • Observe se o que é proposto dentro da arquitetura curricular está refletido na infraestrutura, nos recursos e na metodologia de ensino da escola;
  • Veja se a escola fornece suporte e acompanhamento que ajudem os alunos na escolha das trilhas de aprendizagem;
  • Questione se a escola investe na formação dos professores, visto que o Novo Ensino Médio possui uma proposta didática integrada;
  • Verifique se as unidades curriculares fornecidas estão conectadas com as aspirações e interesses do seu filho.

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