VESTIBULAR

Em busca da aprovação

Participação da escola e dos pais é fundamental para que alunos saibam lidar com a pressão da escolha profissional e com alta concorrência das universidades

Por Mathias Sallit

Chegou a hora dos jovens responderem a questão que os acompanha durante toda a infância. Desta vez, a pergunta “o que você quer ser quando crescer?” não se trata sobre ser astronauta, bombeiro, jogador de futebol, bailarina ou qualquer trabalho dos sonhos de uma criança. Agora, as respostas mais comuns são carreiras como médico, advogado, engenheiro, psicólogo, professor e outras tantas profissões.

A fase da escolha profissional e dos vestibulares é um desafio para todas as partes envolvidas na educação. Os alunos carregam a pressão de tomar uma decisão tão importante ainda na adolescência. Os pais, por sua vez, trazem a responsabilidade de estar ao lado dos filhos em um momento que exige diálogo e autonomia. Já os colégios precisam oferecer toda a estrutura necessária para a preparação dos estudantes para um cenário competitivo.

Nas escolas, a preparação para as provas começa anos antes do vestibular. O início da implementação do Novo Ensino Médio, que divide o modelo de aprendizagem por áreas do conhecimento, fez com que os colégios adiantassem o assunto “carreira” já para o final do Ensino Fundamental. “Nós adiantamos essa questão do Projeto de Vida e começamos a falar de carreira, de áreas de conhecimento e de vestibulares no nono ano”, explica Sandra Tonidandel, diretora pedagógica do Colégio Dante Alighieri, um dos mais tradicionais de São Paulo.

Esse suporte dos colégios faz toda a diferença quando chega o momento de realizar as provas mais concorridas do Brasil. São universidades procuradas por estudantes de todo o país, mas que oferecem um número de vagas bem menor que a demanda. No Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), por exemplo, foram apenas 150 vagas para mais de 8 mil candidatos inscritos no vestibular de 2022, um dos mais disputados do país.

Por ainda ser cedo tratar de vestibulares com alunos do 9º ano, que geralmente têm 14 anos de idade, o processo segue uma lógica para que os estudantes entendam o que vem pela frente. “Começamos a trazer o que eles terão que fazer, as escolhas da área do conhecimento, que precisa estar ligada aos talentos, com a possibilidade de propósito e futuro. Aí, sim, começamos a falar de vestibulares”, completa a diretora.

Práticas como essa são comuns em muitas escolas privadas, que incluem em seus projetos pedagógicos planos com atividades de orientação profissional. A cada semestre, o amadurecimento dos estudantes abre portas para que as atividades fiquem cada vez mais voltadas aos vestibulares. É quando os alunos fazem os simulados que reproduzem os dias de provas das principais universidades públicas e privadas do Brasil, como USP, Unicamp, Unesp e FGV.

Os alunos são estimulados a procurar reforços de disciplinas que não compreendem e aprofundamentos de temas específicos sempre cobrados nas provas. Nos últimos meses de preparação, professores de cada área fazem revisões de temas para refrescar a memória dos candidatos.

Exercícios prontos e a cabeça no lugar

Além do preparo pedagógico, a aprovação nos vestibulares também exige um cuidado mental para lidar com a alta concorrência nas faculdades e a sequência de provas no fim do ano. Quando chega o final do Ensino Médio, a pressão pelos resultados de todo o esforço dos últimos anos fica ainda maior. “É como se a maratona estivesse chegando ao fim”, afirma a diretora do Dante, Sandra Tonidandel.

Além de todas as revisões e simulados, as escolas seguem com o apoio psicológico necessário para que os alunos estejam preparados quando chegarem os dias de provas. “É um momento de ansiedade e de muitas dúvidas, não somente dos alunos, mas das famílias também”, conta Deivis Pothin, diretor da Escola Bilíngue Pueri Domus, em São Paulo. “Por isso, o acompanhamento da coordenação pedagógica com atendimentos individualizados aos alunos e familiares se faz importante”, completa.

Apoio dos pais é peça-chave

Para além do trabalho desenvolvido em sala de aula por professores, coordenadores pedagógicos e diretores, a participação dos pais também é fundamental no processo. Desde a escolha do colégio onde o filho irá estudar, os responsáveis ajudam a tornar o ambiente familiar propenso para os estudos na escola e em casa. “Pais presentes e ativos, com suas conversas, podem colaborar compartilhando suas experiências e ajudar com os planejamentos, tanto de estruturas socioemocionais quanto financeiras e de logística”, conta o diretor da Pueri Domus. “Acreditamos que quanto mais aberto este canal de comunicação entre pais e filhos estiver, mais fáceis se tornam as decisões.”

Para a orientadora da Coordenadoria de Futuro e Carreiras do Colégio Bandeirantes, Vanessa Passarelli, os pais podem ajudar a aliviar a pressão. “É importante que, a partir do canal de comunicação construído, seja possível refletir e discutir os diferentes cenários que podem se apresentar com a entrada ou não na faculdade de interesse. Assim como incentivar ações que promovam momentos de pausa e descanso na rotina de estudos, como atividades físicas e culturais”, finaliza.

Cursos concorridos chegam a ter mais de 100 candidatos por vaga

Unicamp – Medicina 324 candidatos/vaga
Unesp – Medicina 261 candidatos/vaga
USP – Medicina São Paulo 128 candidatos/vaga
Unicamp – Arquitetura 81 candidatos/vaga
USP – Psicologia 62 candidatos/vaga
ITA (engenharias) 53 candidatos/vaga
Unicamp – Música Popular 51 candidatos/vaga
Unicamp – Ciência da Computação 48 candidatos/vaga
USP – Relações Internacionais 47 candidatos/vaga
Unesp – Direito 39 candidatos/vaga

“Nós começamos a falar de carreira, de áreas de conhecimento e de vestibulares no 9º ano”

Sandra Tonidandel, diretora pedagógica do Colégio Dante Alighieri (SP)

“É importante que seja possível refletir e discutir os diferentes cenários que podem se apresentar com a entrada ou não na faculdade de interesse”

Vanessa Passarelli, orientadora de Futuro e Carreiras do Colégio Bandeirantes (SP)

“É um momento de ansiedade e de muitas dúvidas, não somente dos alunos, mas das famílias também. Por isso, o acompanhamento da coordenação pedagógica com atendimentos individualizados aos alunos e familiares se faz importante”

Deivis Pothin, diretor do Pueri Domus (SP)

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