Por Gilmara Santos

O cenário de alta na taxa básica de juros tem levado muitos investidores a aplicar seus recursos na renda fixa, já que o risco é menor e o retorno está alto. Dessa forma, o capital destinado para as startups, empresas com base em tecnologia e inovadoras, tem diminuído. No primeiro trimestre deste ano, houve queda de 86% no volume total de investimentos em startups brasileiras na comparação com os três primeiros meses do ano passado. Desde janeiro, foram registrados aportes no valor de US$ 247,02 milhões, em 91 rodadas, ante US$ 1,7 bilhão, em 306 rodadas, do ano passado. Os dados são do Inside Venture Capital Report, relatório do distrito que monitora a atuação dos fundos de investimento em empresas de tecnologia no Brasil.

De acordo com Bruno Diniz, ex-presidente do comitê de fintechs da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) e sócio-fundador da consultoria de inovação Spiralem, os picos de investimento, sobretudo no Brasil, foram entre 2018 e 2021, mas depois houve um declínio.

“Quando se pensa do ponto de vista de investimento, as startups são sempre oportunidades para um potencial retorno alto. Só que quando olhamos o cenário de taxa de juros alta como agora, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, temos uma situação em que investidores preferem, em alguns casos, buscar retorno com menos risco e acabam alocando menos capital para o setor”, afirma Diniz. A queda na taxa de juros, no entanto, pode mudar esse cenário e aumentar a procura dos investidores pelas startups.

Setor de seguro é um aliado

Para Hugo Tadeu, professor e diretor do núcleo de inovação e empreendedorismo da Fundação Dom Cabral, o investimento na aceleração de startups das grandes empresas – como seguradoras, financeiras e bancos – tem foco em retorno financeiro, pois elas compram um porcentual dessas startups buscando conhecimento novo e até mesmo a atração de mão de obra para o seu negócio. “Estratégias de investimentos em inovação têm uma relação direta com uma possível agenda de parcerias e até mesmo M&A para inovar, além dos mecanismos usuais de P&D, digital e geração de ideias.”

Empresas grandes buscam startups quando precisam resolver um problema e não têm recursos internos, algo muito comum no mercado. Recentemente, a 100 Open Startups divulgou o ranking Top Open Corps 2023, que reconhece as corporações que mais praticaram inovação aberta com startups no Brasil no último ano. Só as corporações do setor de seguros estabeleceram 319 parcerias de negócios com 230 startups contratadas pelas corporações da área no último ano. Ao todo, ocorreram 49 incorporações e 19 contratos no período. Foram cerca de R$ 80 milhões em investimentos ante R$ 45 milhões no ano anterior, um crescimento de 78%, de acordo com Bruno Rondani, CEO e fundador da 100 Open Startups.

Foco no desenvolvimento

“Os investimentos na aceleração de startups são superimportantes para o desenvolvimento do País, pois aceleram a entrada de novos negócios, potencializando também o ciclo de vida e o impacto na produtividade. Basta ver esta mesma realidade no mercado norte-americano e a oportunidade de crescimento desse país por esses investimentos”, diz Hugo Tadeu. Ele considera que as startups têm um papel relevante para gerar negócios, com adoção de novas tecnologias com um perfil não tradicional nos mercados usuais. Por outro lado, percebe-se um empreendedorismo mais por necessidade do que por opção no Brasil, com muitas empresas sendo fundadas por falta de boas oportunidades no mercado de trabalho.

Bruno Diniz avalia que em países com a economia mais madura, como nos Estados Unidos, empresas já bem estabelecidas investem nas startups para que se mantenham sempre atualizadas. O foco do retorno é inovação. “Por aqui, o enfoque maior é o retorno financeiro com o crescimento da startup, o que faz com que os fundos invistam no seu estágio inicial, mas, quando crescem, precisam lidar com a falta de dinheiro. Aos poucos isso está mudando, com alguns fundos já colocando recursos em outros estágios do negócio e alcançando bons retornos”, finaliza.

Cinco principais ecossistemas por financiamento per capita na América Latina

1. São Paulo
2. Bogotá
3. Cidade do México
4. Santiago
5. Curitiba

Fonte: The Global Startup Ecosystem Report

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