Por Maurício Oliveira
Nos últimos dois anos, a sigla ESG tornou-se onipresente nas estratégias corporativas. Trata-se de um conceito mais amplo de sustentabilidade, criado no mercado financeiro para unir os três pilares que a compõem: Ambiental (Environmental, em inglês), Social e Governança. A visão é de que esses pilares estão conectados não apenas à necessidade de conciliar os interesses de todos os stakeholders (acionistas, clientes, funcionários, consumidores, comunidade), mas também ao desempenho financeiro e à gestão de risco – ou seja, à sobrevivência das corporações a longo prazo.
A chamada “gestão ESG” envolve a definição de metas e o acompanhamento de indicadores nos mais diversos aspectos ligados aos três pilares. “Por mais que seja um conceito amplo, que envolve muitas áreas da organização, os indicadores ESG precisam ser acompanhados para que tragam resultados efetivos”, diz Ana Karina Bortoni Dias, conselheira de empresas, ex-CEO do Banco BMG e com quase 20 anos de trabalho na consultoria McKinsey.
Neste momento em que as empresas estão adaptando suas estruturas a essa nova visão, a área de ESG tem sido, muitas vezes, assumida por uma equipe composta por profissionais que atuam em setores diversos, não raro como uma “tarefa a mais”. “Vemos que está ocorrendo uma certa improvisação. Gente que cuida de compliance, da gestão de pessoas ou da área ambiental está sendo ‘puxada’ para trabalhar na gestão da agenda ESG”, descreve a professora Angélica Lucia Carlini, dos cursos de Mestrado e Doutorado em Administração da Universidade Paulista (Unip).
Há muitas empresas que estão chegando agora à conversa e ainda têm tudo a ser construído. De acordo com pesquisa recente da consultoria Robert Half, especializada em recrutamento, a escassez de especialistas em ESG está barrando os avanços do projeto em 55% das organizações. Essa dificuldade faz com que bons salários estejam sendo oferecidos a profissionais especializados em ESG – de R$ 10 mil a R$ 35 mil, de acordo com o Guia Salarial 2023 da consultoria.
Oceano azul
Como se trata de uma área ampla, ESG desponta como uma nova carreira em potencial para profissionais com qualquer formação que queiram explorar o novo “oceano azul”. “Se você pensar em qualquer profissão, é possível fazer uma conexão com ESG”, diz Angélica. Trata-se, assim, de um campo atraente não apenas para jovens em início de carreira, mas também para profissionais mais experientes que planejam uma segunda carreira.
O melhor caminho é fazer um dos cursos de especialização que muitas instituições conhecidas já estão oferecendo no mercado e, a partir disso, correr atrás das oportunidades, que podem estar tanto dentro das corporações e Organizações Não Governamentais (ONGs) quanto na atuação como consultor independente.
Desenvolver consciência
Ana Karina lembra que cada organização precisa desenvolver uma política de ESG adaptada às suas circunstâncias. “Não existe receita de bolo, porque não é um modelo que vai sendo simplesmente replicado. É preciso uma profunda reflexão sobre o papel da organização no mundo.”
Fernando Penedo, especialista sênior em ESG do Instituto Amazônia+21, ligado à Confederação Nacional da Indústria (CNI), lembra que o conceito é fortemente baseado na interdependência de ações e de preocupações. “Não adianta dizer que não faz testes com animais e tratar mal os funcionários, por exemplo. A empresa pode e deve priorizar alguns temas, mas precisa ter lastro e consistência no conjunto de ações. ESG é, basicamente, entender que uma organização não está sozinha no mundo.”
Por conta dessa natureza sistêmica, atuar em ESG exige uma visão aberta e holística, avalia Penedo. “Acredito que profissionais com experiências diversificadas, tanto na carreira quanto no campo pessoal, levam vantagem ao migrar para a área.”