Cá estamos nós, no meio da pandemia, isolados, trabalhando, amedrontados, olhando para a contagem diária de casos, sofrendo com amigos e parentes, doentes ou que nos deixaram. São meses que se arrastam lentamente, esperando que, em algum momento, sairemos do “túnel”. Uma sucessão de dias que deixam a sensação de que o calendário foi derretido. Como se aquela sequência bem organizada e repetida de dias que começa oficialmente no domingo e vai até o sábado perdesse o significado. Parece que derretemos e os despejamos em pequenas forminhas, como as que a gente usa para fazer gelo.
Bem, nessa travessia, continuamos a pousar o olhar em nossos planos pessoais, no local em que moramos, nos que estão ao nosso lado. Tudo isso muito mais intensamente do que antes. Mas, seja por força da minha profissão, seja por uma insaciável curiosidade de voyeur social, que sempre me persegue, continuei olhando para fora. Dia após dia, nessa sequência de calendário derretido, venho olhando pelas frestas que nos mostram o mundo aí fora. Seja em observações informais, ocasionais, de caráter puramente pessoal ou com ferramentas profissionais, o que temos visto neste ano reforça certas convicções pré-pandêmicas. Esta é uma delas: por que algumas empresas vão deixar um doce sinal de reconhecimento na sociedade?
No futuro próximo, e esperamos que seja bem próximo, teremos colecionado belas histórias de organizações que fizeram algo difícil de esquecer, durante este período. Algumas fazem parte do ‘Marcas Mais’, que realizamos anualmente para o ‘Estadão’. O que foi que elas fizeram que acabará deixando esse legado? Elas não fizeram nada mais do que faziam antes! Porém, o que fizeram, e de uma forma admirável, foi utilizar suas competências além do limite das suas rotinas habituais. Não todos, mas alguns hospitais multiplicaram sua energia para atender e cuidar de seus pacientes.
Dia após dia, nesse calendário derretido, olho pelas frestas que nos mostram o mundo aí fora
Muitas redes de varejo compreenderam mais do que nunca a importância de ouvir o chamado de milhões de lares confinados. Nada que essas empresas, hospitais e outras organizações não fizessem antes, mas nunca na intensidade que foram levados a realizar agora, com um empenho adicional de energia e compromisso. As empresas que serão lembradas com carinho são aquelas que não agiram como arrivistas. Que não usaram nossa fragilidade, destes difíceis momentos, para ultrapassar o sinal. Ao contrário das que encheram nossa caixa postal, nosso WhatsApp com ofertas e mensagens absolutamente desconectadas de nossas autênticas necessidades. Que imaginaram que o cliente no “cativeiro” seria um alvo mais indefeso. Dessas, eu juro que também não me esquecerei. São situações-limite como a atual que mostram quem são nossos autênticos aliados e quem são os oportunistas.
Jaime Troiano, presidente da TroianoBranding