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Transformações sociais mudam ensino e carreira
Com IA e novas economias, futuro do trabalho exige formação contínua e foco em soft skills
12 maio 2025
Por Estadão Blue Studio
Se há algo que se pode afirmar com certeza sobre o futuro do mercado de trabalho – e, por extensão, do ensino – é que as transformações serão permanentes. A expectativa é de que a lista das principais habilidades esperadas dos profissionais será alterada em pelo menos 65% até o final da década, segundo dados globais do LinkedIn. “Isso mostra que o futuro do trabalho será cada vez mais baseado em competências, e não apenas em formações tradicionais ou certificações formais”, analisa Milton Beck, diretor-geral do LinkedIn para a América Latina.
Diante desse cenário, é fundamental investir no aprendizado contínuo – o chamado lifelong learning, que substituiu a visão tradicional do ensino, aquela em que formação e trabalho eram etapas separadas e subsequentes. Agora, mais do que nunca, é preciso que as duas dimensões se misturem o tempo todo. Isso não reduz, contudo, a importância de uma formação sólida – ao contrário, apenas indica que essa formação precisará ser constantemente atualizada e reforçada ao longo da carreira.
Mudança e adaptação
“O ensino está em transformação, e o motor principal dessa transformação é a tecnologia, que traz impactos transversais a todas as profissões”, diz Ana Luiza Kuller, coordenadora de Educação e Inovação Educacional do Senac São Paulo. Ela ressalta que a demanda sobre certas áreas de trabalho aumenta também por influência de fenômenos emergentes na sociedade, como economia verde (relacionada à sustentabilidade), economia criativa (atividades baseadas em inovação e conhecimento), economia do cuidado (foco no bem-estar das pessoas) e economia prateada (aumento da longevidade e poder de consumo da população acima de 60 anos).
Ana Luiza observa que cada curso superior precisa se adaptar no que diz respeito aos saberes específicos da área, mas há transformações que percorrem todos os cursos – é o caso da valorização dos atributos comportamentais, conhecidos no mercado de trabalho como soft skills, a exemplo de pensamento analítico, criatividade, flexibilidade e capacidade de trabalho em grupo.
Como as habilidades de comportamento não podem ser “ensinadas” teoricamente, o caminho é criar situações e práticas que fomentem o desenvolvimento dessas características. “Isso acontece naturalmente nos vários projetos em grupo que temos desde o início do curso”, diz Carolina Sant’Anna do Nascimento, 21 anos, aluna do 3º ano do bacharelado em Arquitetura e Urbanismo do Senac SP. “Quando a gente coloca a mão na massa de verdade, percebe que só o conhecimento técnico não basta. Dependemos uns dos outros para evoluir.”
Futuro do Trabalho
O diretor-geral do LinkedIn para a América Latina, Milton Beck, alerta para a necessidade de formação que una tecnologia, soft skills e propósito desde o início da formação
Como as instituições educacionais devem preparar seus alunos para o mercado de trabalho do futuro?
Preparar os alunos para esse novo cenário significa formar profissionais que saibam navegar bem entre o lado técnico e o lado humano do trabalho. É essencial que os currículos passem a incluir, desde cedo, temas como inteligência artificial, ciência de dados, pensamento computacional e ética digital.
Por outro lado, tão importante quanto isso é garantir que escolas e universidades continuem valorizando o que nenhuma máquina consegue entregar: criatividade, capacidade de adaptação, relacionamentos de confiança e sensibilidade para lidar com desafios humanos. São as habilidades comportamentais que ajudam a aplicar a tecnologia com propósito, a unir times em torno de objetivos comuns e a liderar mudanças com clareza e sensibilidade. No fim das contas, estamos vendo surgir um novo perfil profissional — mais versátil, adaptável e estratégico.
Quais os impactos que a inteligência artificial (IA) já está causando no mercado de trabalho?
Mais do que criar novas profissões, a IA já vem ajudando a melhorar a forma como trabalhamos. Ela automatiza tarefas repetitivas, otimiza processos e libera tempo para atividades mais criativas, estratégicas e humanas.
Ao mesmo tempo, transforma funções que já existiam e impulsiona o surgimento de novas carreiras. Uma pesquisa do LinkedIn mostrou que, atualmente, 10% das pessoas contratadas no mundo ocupam cargos que nem existiam no ano 2000. É o caso de profissões como especialista em IA, cientista de dados, analista de segurança cibernética e piloto de drone. Também está crescendo a demanda por cargos que unem habilidades humanas com domínio tecnológico, como engenheiro de prompts de IA, especialista em ética de IA, designer de interação humano-IA e diretor de automação.
Transformações sociais mudam ensino e carreira
Foto: Diego Padgurschi/Estadão Blue Studio
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