Diretor de ranking global vê caminhos para melhora da universidades do Brasil

Em classificação divulgada pela consultoria QS na semana passada, USP perdeu o topo da América Latina para a Universidade de Buenos Aires

Por Isabela Moya - editada por Mariana Collini

17 de junho de 2024

O Brasil precisa investir mais na internacionalização de suas universidades e aproveitar mais seu potencial na área de sustentabilidade como forma de impulsionar suas instituições no cenário global. Essa é a visão de Elson Freire, diretor regional de América Latina e Caribe da Quacquarelli Symonds (QS), consultoria que elabora o ranking com as melhores universidades do mundo.

Na semana passada, a QS divulgou seu novo levantamento global, em que a Universidade de São Paulo (USP) perdeu o topo da América Latina para a Universidade de Buenos Aires. Ainda assim, a USP está entre as 100 melhores do mundo (92ª).

As cinco primeiras foram o Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT, dos EUA), Imperial College de Londres, seguido das universidades de Oxford (Reino Unido), Harvard (EUA) e Cambridge (Reino Unido).

No top 500, ainda aparecem a Estadual de Campinas (Unicamp, em 232ª), a Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, em 304ª) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp, em 489ª). Entre os critérios avaliados pela consultoria britânica, estão quantidade de artigos científicos, reputação entre os empregadores, sustentabilidade, internacionalização, entre outros.

Freire falou ao Estadão que considera a internacionalização dos estudantes e docentes uma lacuna do País na comparação com o restante da América Latina. Isso, diz ele, pode ser desenvolvido com empenho das universidades em atrair alunos e professores estrangeiros.

Na última edição do ranking, o Brasil teve como ponto fraco a diversidade de seus estudantes. Uma das explicações para isso é o tamanho do mercado educacional brasileiro, muito maior do que os dos outros países latino-americanos, além do fato de o Brasil ser o único país na região a falar português.

“Como o mercado dos outros países da América Latina é menor do que o nosso, acredito que isso os leva a ter foco maior na internacionalização, até como fonte de receita também, no caso setor privado. Até porque, dos vários países da América Latina, quase todos falam espanhol, e se veem como nações-irmãs”, afirma Freire.

O diretor da QS na América Latina vê no Brasil grande potencial de atração de estudantes e professores estrangeiros, mas recomenda esforços para simplificar o processo de entrada desses estudantes estrangeiros.

“Acredito que esses estudantes e docentes podem não estar encontrando o caminho até o Brasil”, diz. Ele cita, contudo, os esforços da Capes, agência federal ligada ao Ministério da Educação (MEC), que concede várias modalidades de bolsas e auxílios a pesquisadores.

A ligação com a pauta ambiental – critério analisado pela QS, em que o Brasil é líder latino-americano – também pode ser usada a favor na hora de atrair talentos de fora. “Em relação à sustentabilidade, eu diria que o Brasil é imbatível, mundialmente, na capacidade que teria de atrair estudantes internacionais”, diz Freire.

“Vejo outros países da América Latina mais ativos nessa atração de estudantes internacionais, como a Colômbia. Ela divulga seus diferenciais em termos de natureza e de Amazônia, que a gente compartilha”, exemplifica.

O critério de sustentabilidade é visto do ponto de vista ambiental, social e de governança, e medido por meio de fatores como o número de pesquisas e grupos de alunos ligados a temas que pertencem aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).

A International Student Survey, pesquisa internacional com estudantes feita pela QS, mostra que mais de um terço dos alunos consultam questões de sustentabilidade da universidade antes de escolher onde estudar.

Se a internacionalização está aquém, a rede internacional de pesquisa, por outro lado, é um diferencial positivo brasileiro. O indicador calcula o quão bem distribuída é a rede de produção científica da instituição e leva em conta cooperações em coautoria entre pelo menos duas instituições de países distintos que já tenham publicado ao menos três artigos científicos.

“O Brasil tem uma rede de pesquisa bem distribuída, comparada a seus pares da América Latina. Isso abre portas, algo que o Brasil talvez possa até utilizar melhor, também para atrair estudantes de graduação, de pós-graduação, não apenas colaborações de pesquisa”, diz Freire.

Qual é o desempenho do Brasil entre os emergentes?
Além de avaliar as universidades brasileiras no cenário regional, a QS estende a comparação a outros gigantes emergentes, colegas do Brasil no grupo dos Brics. Enquanto a Rússia tem ficado para trás, reflexo da guerra com a Ucrânia, China e Índia se destacam positivamente.

As instituições de ensino superior da Índia estão em forte crescimento e ocupam posições acima do Brasil e demais países latino-americanos na maioria dos indicadores. Já na China, as universidades estão se aproximando de países do “norte global” (principalmente Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental), com grande número de instituições alcançando o top 100 mundial.

“A China, um país que até um dia desses a gente tratava como em desenvolvimento, se descolou totalmente de Brasil e Índia”, diz Freire. “Independentemente de questões ideológicas, eles têm pragmatismo na pesquisa, nos programas de intercâmbio, na verba para a interação com países do norte global, e publicações em inglês, a língua vigente na pesquisa global”, diz o diretor da QD.

“No Brasil, as melhores universidades têm variado entre as posições 300 a 500 no ranking global, enquanto na China, estão em posições 30 a 40, disputando com as melhores universidades de Reino Unido, Canadá, Estados Unidos, Japão e Singapura. Ou seja, as instituições que são consideradas as melhores do mundo”, completa.

Diretor de ranking global vê caminhos para melhora da universidades do Brasil

Foto: Nilton Fukuda/Estadão. Harvard Business School, MIT

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