EDITORIAL
21/10 no digital, 27/10 especial no impresso
Metodologias ativas como gamificação e cultura maker desenvolvem habilidades desejadas pelo mercado de trabalho em universitários
Por Ângela Correa
“Qual será o tema de hoje?” Isso não costuma ser dúvida na rotina de estudantes em universidades adeptas à sala de aula invertida, uma das técnicas mais conhecidas das metodologias ativas, que, no ensino superior, antecipam dilemas do mercado de trabalho. Com a introdução das metodologias nas faculdades, saem longas aulas expositivas e entram técnicas como aprendizagem baseada em problemas, em projetos e em equipe, além de gamificação, cultura mão na massa e ferramentas colaborativas. Todas desenvolvem a autonomia e a capacidade de resolução de problemas.
Os ganhos podem ser medidos desde os primeiros semestres. “O principal é fazer o aluno perceber que é capaz de aprender dependendo menos do professor. Enfrentando desafios e interagindo, se pode alcançar novo nível de compreensão do mundo”, avalia Octavio Mattasoglio Neto, presidente da Academia de Professores do Instituto Mauá de Tecnologia, de São Paulo, que utiliza a metodologia.
Também há resultados na maneira com que se absorvem as informações. “Há estudos mostrando que em aulas expositivas o aluno retém 20% do conteúdo enquanto que, em aulas colaborativas, esse número chega a 70%”, diz Elda Stafuza Pires, coordenadora acadêmica da graduação em Medicina da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, de São Paulo, que utiliza metodologias colaborativas desde a sua criação, há oito anos.
Infraestrutura
O Instituto Mauá de Tecnologia implementa o modelo desde 2015 e adaptou espaços físicos. Salas de aula foram repaginadas: ganharam dois projetores e telas que garantem a visão de diversos pontos do ambiente, painéis e lousas em todas as paredes para uso dos alunos e substituição de carteiras convencionais por mesas de trabalho, além de muitos laboratórios.
No Einstein, a disposição dos alunos é semelhante. Turmas de 60 pessoas são divididas em nove grupos, que trabalharão juntos até o fim do semestre. Plataformas de gamificação como o Kahoot entram no dia a dia, assim como desafios que simulam o mecanismo das escape rooms, por exemplo. Cada tarefa resolvida “destrava” uma nova, até chegar a um “vencedor”.
Os temas são vistos várias vezes, por meios diferentes. “Em todas as etapas a bagagem aumenta, porque se interpreta e responde a questões em todas elas. Se o aluno mantiver um estudo contínuo, não vai precisar virar a madrugada antes de uma prova, se livra de grandes resumos e técnicas de memorização, porque realmente aprendeu”, completa Elda Stafuza.
“Em todas as etapas a bagagem aumenta, porque se interpreta e responde a questões em todas elas. Se o aluno mantiver um estudo contínuo, não vai precisar virar a madrugada antes de uma prova, se livra de grandes resumos e técnicas de memorização, porque realmente aprendeu”.
Elda Stafuza Pires, coordenadora acadêmica da graduação em Medicina da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein.
Ensino de autonomia
Alunos e professores também precisam se ajustar a essa cultura. “O ideal é que os docentes façam algum curso preparatório para aplicar as metodologias”, explica Sarita Mazzini Bruschi, presidente da Comissão de Graduação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), em São Carlos, interior do Estado.
Apesar de a autonomia do estudante ser a lei, isso não significa que ele será deixados à própria sorte. “O aluno tem protagonismo, mas não será um protagonista solitário porque sempre terá apoio e tutoria”, resume o professor José Morán, pesquisador de inovações em educação.
Anna Carla Travessa Siervo, 23 anos, que cursa o oitavo semestre de Medicina no Einstein, aprendeu a dar e receber feedbacks dos colegas com empatia e nunca levar críticas como algo pessoal. “De início é uma surpresa ter de conviver e trabalhar em grupo. Mas aos poucos ‘vira uma chave’ sobre as possibilidades que temos ao confiar nos colegas.”
Comportamento e emoções
Estudante do terceiro ano de Engenharia Civil no Mauá, Letícia Cirila Xavier Pereira, 20 anos, confirma que colocar a mão na massa é, além de lúdico, grande aliado da aprendizagem. “Geralmente as aulas em que mais me divirto aprendendo são as de laboratório, como mecânica dos solos e materiais de construção, pois fazemos os ensaios e interpretamos os resultados. É mais fácil de visualizar.”
Competências comportamentais também são destaque. Letícia já aplica o que aprendeu no estágio. “As atividades colaborativas me ajudam a ser mais curiosa e a entender melhor o que estou fazendo nas minhas atividades, tanto dentro da própria Mauá quanto no meu trabalho”, conta.
Foto: Adobe Stock
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