Grupo de países emergentes foi o que mais sentiu os impactos da pandemia
11 de setembro de 2021
A pandemia da covid-19 trouxe incertezas para a economia mundial e, no Brasil, a antecipação da campanha eleitoral de 2022 coloca um ingrediente a mais em um cenário já catastrófico. “No caso brasileiro, existe um componente de risco-país que sempre gera dúvidas, principalmente em anos eleitorais”, afirma Ricardo Rocha, professor do Insper. Segundo ele, basta olhar 2018. “Da eleição do ex-presidente Lula em 2002 para cá todo ano eleitoral causa preocupação, independentemente do governo”, avalia o acadêmico. “A gente não consegue ter alguns princípios econômicos e financeiros que fiquem estáveis além da tendência política”, complementa Rocha.
Para o professor Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em Gestão Financeira da FGV, apesar da antecipação eleitoral, a independência do Banco Central, a partir da lei sancionada em fevereiro pelo presidente Jair Bolsonaro, é muito importante. “Mas não é só o BC, tem uma série de outros fatores envolvidos e precisamos separar o momento para não deixar que atrapalhe a economia”, avalia Teixeira.
A escalada inflacionária e o Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre abaixo do esperado têm gerado apreensão no setor produtivo. O controle da inflação deve ser o principal gargalo da economia brasileira em 2022. Além disso, apesar de a economia ter afetado o mundo todo, o grupo dos países emergentes, com o Brasil, foi o que mais sentiu.
Segundo a avaliação dos especialistas, o ano que vem será bastante difícil, por conta de toda a conjuntura política das eleições, aliada às mudanças de política fiscal e de programas sociais, como o Bolsa Família. Por outro lado, representantes do governo garantem que o Brasil respeitará o teto de gastos. O reajuste de 50% no benefício e o aumento no número de beneficiados para cerca de 17 milhões, conforme o plano do governo federal, custarão entre R$ 26 bilhões e R$ 28 bilhões a mais em 2022. Algo que ainda precisa ser encaixado no orçamento federal.
Segundo Ilan Goldfajn, presidente do conselho do Credit Suisse e ex-presidente do BC, existe preocupação com o controle da inflação e principalmente na chegada do preço ao consumidor. “Vemos a previsão de crescimento do PIB de 1,5%. O problema é que houve uma interrupção da cadeia produtiva, os fretes subiram muito e a inflação local também teve uma alta. A política fiscal e monetária foi expansionista e teremos consequências ligadas aos ruídos políticos e fiscais”, avaliou o executivo, que assim como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participou do evento do Finanças Mais.
“A figura do Brasil tem melhorado bastante. A economia volta a reabrir. Neste momento, vemos o Brasil muito parecido com Rússia, Índia, América (na retomada da economia x inflação)”, afirmou o presidente do BC. Segundo Campos Neto, a inflação é um fenômeno mundial e o Brasil foi um dos primeiros países que elevaram a taxa de juros, com o objetivo de cumprir a meta de inflação. “Isso é o elemento mais importante para garantir a estabilidade com crescimento sustentável de curto, médio e longo prazo”, afirmou.