Artigo

TRANSIÇÃO ESCOLAR

Os desafios da adaptação

É possível lidar com o processo de início em uma nova escola de uma forma tranquila e segura para toda a família

Por Natália Jorge

Qualquer mudança de escola é um momento de atenção. Crianças e adolescentes podem ter medo de perder os amigos, do desconhecido, de não ser aceito em um novo grupo, o que pode gerar ansiedade e insegurança. Principalmente quando a opção de mudança nem partiu do próprio aluno. Ela pode ter ocorrido por uma necessidade, pela insatisfação dos familiares em relação aos colégios anteriores, por uma mudança de bairro, de cidade, de emprego ou até mesmo por uma questão financeira. Quanto mais os pais estiverem atentos às características individuais de seus filhos, maiores são as chances de todos superarem essa etapa com maior tranquilidade. “Saber quais são os gostos das crianças, como elas aprendem, como se relacionam, como enfrentam desafios e como lidam com o medo e as frustrações são aspectos muito importantes. Cada criança e adolescente possui sua singularidade, que precisa ser considerada no momento dessa transição”, lembra Valquiria Rodrigues, pedagoga e diretora-assistente do Colégio Rio Branco. 

 

Nesse processo, o problema mais comum acaba sendo mesmo a adaptação à nova instituição. Quando a criança vivia algum problema na escola anterior, não gostava muito dos colegas ou de um professor, eventualmente, as coisas podem ficar mais fáceis. Já se ela era feliz e tinha sua vida muito bem resolvida, essa adaptação tende a ficar um pouco mais complicada. “Emocionalmente, a criança precisa de apoio quando está passando por essa mudança. Apoio dos pais, da família, da escola e da turma. É preciso que haja um acolhimento, porque, quanto mais forte for o sentimento de pertencimento ao novo grupo, mais fácil será a adaptação”, explica Amábile Pacios, vice-presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep).

“É preciso que haja um acolhimento (da criança), porque, quanto mais forte for o sentimento de pertencimento ao novo grupo, mais fácil será a adaptação.”
Amábile Pacios, vice-presidente da Fenep

 

Beatriz Gallian, coordenadora pedagógica do ensino fundamental II do Colégio São Luís, considera que essa acolhida é estendida à família. “Há uma expectativa muito grande também por parte dos pais nessa adaptação dos filhos. Por isso, se o colégio está focado no estabelecimento de um vínculo com a família, a adaptação da criança ou adolescente tende a transcorrer de forma mais simples”, revela a coordenadora. O ideal, segundo ela, está em os pais conhecerem bem a proposta pedagógica do colégio, as metodologias, as estratégias utilizadas, o sistema de avaliação, os projetos, as atividades extracurriculares, os valores e, na medida do possível, ter uma participação ativa para que seja criado um vínculo.

 

Outro ponto importante é entender que isso tudo não acontece de um dia para o outro. Trata-se de um processo. “Nos pequenos, a gente percebe que o sofrimento passa muito pela separação dos pais. Nos adolescentes, envolve mais a interação em um grupo novo, a aceitação no grupo social e a criação de diferentes vínculos. Portanto, pensar essa adaptação é fundamental. Para isso, são necessárias, pelo menos, duas semanas para estabelecer essa familiaridade”, explica Beatriz.

 

“O primeiro dia em uma nova escola é um dos maiores desafios para crianças e adolescentes, pois eles precisam conhecer o ambiente e o espaço físico, os novos colegas e professores, apropriar-se das regras e da cultura daquela comunidade. É preciso ter em mente que cada criança possui suas particularidades, e elas devem ser consideradas nessa jornada”, reforça a diretora do Rio Branco, Valquiria Rodrigues.

 

A perspectiva dos pais  

 

Ana Laura Tronzano Campos, mãe da Clarice, passou por duas adaptações com a filha de dois anos por causa da pandemia. Morando em São Paulo, no bairro de Moema, ela escolheu a Aviva Desenvolvimento Infantil por acreditar nos valores trabalhados pela escola e por ela estar localizada próxima de sua casa. “A primeira experiência na escola e a adaptação foram supertranquilas. Mas, como ficamos mais de um mês em casa por causa do isolamento, ela voltou para a escola e ficou um pouco mais receosa porque a professora tinha mudado. Chorou por duas semanas na hora de entrar. Isso só acontecia no momento da entrada mesmo, porque ela queria ficar comigo. Por ser professora, sei que é um processo e é natural existir um período para que ela se acostume novamente com o ambiente e as pessoas”, afirma a mãe. 

A adaptação de Sabrina, aluna do 1° ano do ensino fundamental, do Colégio Rio Branco, não teve problemas. Ela mudou para a escola porque o antigo colégio era somente de educação infantil. Para a mãe, Alys Abreu Cobra, sua filha foi muito bem acolhida. “Pesquisamos bastante antes de matricular a Sabrina. Tínhamos muito receio da mudança de uma escola pequena para um colégio grande, porque a Sabrina é um pouco tímida. Mas o colégio sempre se mostrou muito seguro. Então, foi uma transição muito confortável, acolhedora e empática tanto com ela quanto com a gente. Sentimos que ela estava bem amparada, porque, mesmo sendo uma escola grande, tinha um olhar individual para cada aluno”, conclui Alys.

 

Dicas práticas para encarar a mudança

 

  • Ao perceber que seu filho está enfrentando problemas durante a transição para a nova escola, aproxime-se da instituição para compreender como é o processo de adaptação e como seu filho está passando por ele;
  • Converse com seu filho a fim de perceber quais são as angústias, o que está incomodando ou até mesmo o que está faltando;
  • Peça orientações aos profissionais da escola;
  • Incentive seu filho a enfrentar desafios;
  •  Valorize as conquistas por menores que sejam;
  • Diminua as críticas;
  • Não deixe seu filho sozinho nesse momento. Lembre-se de que você é o porto seguro dele. Nesse sentido, você deve mostrar segurança e confiança na nova escola;
  • Esteja ao lado de seu filho. Isso fará toda a diferença para que ele supere esse momento;
  • Lembre-se de que essa mudança de escola pode ficar um pouco mais complexa em tempos de pandemia, ocasionando diversos impactos, em especial, nas relações pessoais e interpessoais dentro e fora da escola por causa do isolamento social;
  • Reflita bastante sobre a mudança de escola. Ela deve ser bem pensada e feita de uma forma que agregue mais valor para que a criança se sinta um pouco mais segura.

 

Quando é preciso pedir ajuda

Geralmente, ao chegar a uma nova escola, a criança é submetida a sondagens nos aspectos cognitivos e não cognitivos que contribuem para um olhar mais refinado sobre as necessidades de cada aluno. Uma vez que os problemas de adaptação à nova instituição continuem por muitos meses, ou sejam até intensificados depois de todas as estratégias apresentadas pela escola e da dedicação da família à fase de adaptação, pode ser que seja a hora de procurar uma ajuda externa.

O novo colégio pode sinalizar que seja útil recorrer a profissionais especializados para dar suporte psicológico ou psicopedagógico à criança e à família. “O auxílio de um profissional entra em uma situação de extrema urgência ou no caso de a família não conseguir lidar com os sintomas da criança. O mais indicado é ouvir a escola, pois ela é um termômetro muito afinado nessa orientação”, destaca Amábile Pacios, vice-presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep).

E, como destaca Valquiria Rodrigues, diretora-assistente do Colégio Rio Branco, para evitar se chegar a esse ponto, é fundamental um trabalho prévio de alinhamento da família com a nova instituição: “A escola ideal é uma das decisões mais difíceis para os pais durante a trajetória acadêmica de seus filhos, pois precisa estar atrelada aos valores e às crenças da família. Quando se opta por uma escola que não esteja alinhada, isso pode ser uma das causas de dificuldade dos filhos.” 

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