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Balança difícil de equilibrar: como proteger, mas ensinar os filhos a lidar com frustrações?

Superproteção de pais e mães tem impedido as crianças de aprender a fazer escolhas, a planejar e a regular suas emoções

Por Renata Cafardo

As redes sociais estão cheias de posts sobre a importância de se criar filhos fortes, preparados para a vida, mas ao mesmo tempo que se sintam amados e acolhidos. Pela quantidade de seguidores desses influencers da parentalidade, parece que é o que os pais e mães mais querem.

Mas na vida real é uma balança difícil de equilibrar: proteger e dar independência, disciplinar e acolher, confiar e controlar, não deixar sofrer, mas ajudar a crescer. São contradições intrínsecas à educação. Junta-se a isso tudo a competição com a rápida satisfação que a tecnologia proporciona às crianças e aos adolescentes.

Nos Estados Unidos, o best seller The Coddling of American Mind, ainda sem tradução no Brasil, que virou até site de dicas aos pais, tenta destrinchar a razão de uma geração tão dependente e com dificuldades para lidar com frustrações. E que está contribuindo para criar uma sociedade polarizada, individualista, ansiosa e depressiva.

Para os autores, a culpa é de pais medrosos e superprotetores (ajudados pelas redes sociais). Uma das grandes mentiras que eles ensinam a seus filhos, segundo a hipótese do livro, é “o que não te mata te deixa mais fraco”, em oposição ao conhecido ditado “o que não te mata te fortalece”. Ou seja, proteção máxima para que as crianças não sofram nunca.

Pode-se pensar que há exageros na tese ou uma tendência americana de criar manuais para tudo, mas há reflexos disso no Brasil também. Matéria do Estadão mostrou uma interferência, antes impensada, de pais e mães nas faculdades dos filhos, com cobrança de notas aos professores e universidades que já têm até reuniões para as famílias.

Esse comportamento quando os filhos já são adultos é uma continuidade de algo que começou na infância. Por mais que doa para pais que não querem repetir uma criação rígida, autoritária ou com pouca compreensão que tiveram, as frustrações, os erros e até os pequenos machucados no parquinho ensinam muito às crianças.

Ao superproteger, as famílias impedem seus filhos de desenvolverem funções executivas que vão precisar para serem adultos saudáveis e emancipados. Ao errar, ao se deparar com dificuldades e ao serem estimulados a ter responsabilidade, eles vão aprender a fazer escolhas, a planejar, a regular as emoções (como controlar a raiva e sustentar a frustração), a ser flexível, a ter foco.

Além das famílias, as escolas também têm de olhar para o desenvolvimento integral do estudante e seu papel na sociedade. Em especial, de mostrar a eles a importância de sobrepor o coletivo ao individual, especialmente no pós pandemia, quando as salas de aula se transformaram em quartos com apenas um aluno.

A grande dificuldade em um mundo tão complexo, cheio de perigos reais e virtuais, é saber onde segurar e onde deixar fluir. É uma sabedoria que adultos responsáveis por crianças precisam se esforçar para aprender, todo dia, a cada situação. Não há manual, e a solução também não é ir para o outro extremo, largar, endurecer e achar que tudo é frescura de criança mimada.

O que ajuda é estar atento, se interessar pelos filhos, observar o que cada um precisa para se devolver. O que está em jogo não é só uma vida adulta autônoma para nossos filhos, mas o futuro da própria sociedade.

 

Créditos da imagem: Getty Images

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