Atualize o cadastro
da sua escola!
Envie email para guiadecolegios@melhorescola.com e adquira um link exclusivo para agregar mais informações sobre a sua escola
Artigo
Por Ana Beatriz Paiva
Entre os vários desafios que o Brasil enfrenta para melhorar o nível de qualidade das suas escolas, um tem despertado cada vez mais a atenção entre os educadores e a preocupação das famílias: a violência. De acordo com dados do Disque 100, canal ligado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, as denúncias sobre violência em instituições de ensino cresceram cerca de 50% entre 2022 e 2023. Foram mais de 9.500 ocorrências, envolvendo intimidação e agressões sofridas por alunos, professores ou funcionários dessas instituições.
Se na relação entre os estudantes a prática do bullying é o que causa maior preocupação (leia mais nas págs. 14 e 15), entre alunos e professores há o desafio de manter o relacionamento saudável dentro e fora da sala de aula, prática fundamental para que a escola realmente seja um lugar de aprendizagem e crescimento. Segundo a pesquisa Violência nas Escolas, realizada pela Associação Nova Escola e pelo Instituto Ame sua Mente, em 2022, que ouviu cerca de 3 mil professores, seis em cada dez entrevistados enxergavam um aumento na agressividade dos alunos contra docentes e funcionários em relação ao estudo realizado no ano anterior.
“Muitas vezes, a única ferramenta que o estudante tem para lidar com o desconforto é o protesto, manifestado por meio de atos de indisciplina.”
Fernanda Pontes, chefe da Coordenação de Orientação Educacional e Pedagógica do Colégio Pedro II (RJ)
O que é?
A violência no ambiente escolar se manifesta de diversas formas e pode ser a reprodução de outras violências que ultrapassam os muros da instituição de ensino, aponta Fernanda Pontes, chefe da Coordenação de Orientação Educacional e Pedagógica do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. “Muitas vezes, a única ferramenta que o estudante tem para lidar com o desconforto é o protesto, manifestado por meio de atos de indisciplina”, explica. Problemas familiares, que podem passar por questões de relacionamento e de falta de diálogo entre pais e filhos, podem ter reflexo no dia a dia das escolas.
O cenário é complexo, afirma Claudia Sartori Zaclis, diretora pedagógica do Colégio Santo Américo, em São Paulo. Segundo a educadora, o uso excessivo de redes sociais pelos jovens também tem um papel importante nessa crescente agressividade. “O acesso precoce a conteúdos inadequados exerce uma influência significativa no comportamento dos alunos”, afirma. E essa superexposição também tem um importante papel no aumento dos casos de ansiedade, estresse e depressão entre crianças e jovens, completa.
Nova perspectiva
Além de estreitar a relação com os pais, escolas que lidam com o tema de forma mais atenta veem os conflitos como oportunidades de aprendizado e crescimento. “Da mesma forma que planejamos [as aulas de] Português, Matemática, Artes, também precisamos planejar de forma intencional, regular e preventiva a convivência na escola”, diz Adriana de Melo Ramos, pós-doutora na formação de professores pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Parte desse planejamento pode focar uma construção proativa, ouvindo as crianças e jovens da instituição. “Quanto mais os estudantes se envolvem com o ambiente escolar e participam da criação das regras de convivência, mais se sentem motivados a respeitá-las”, complementa Fernanda Pontes, do Colégio Pedro II. E esse olhar mais atento não pode deixar de lado a observação da saúde mental, de alunos, mas também de professores. “A falta de apoio psicológico contínuo, tanto dentro de casa quanto na escola, pode tornar ainda mais difícil lidar com sintomas de ansiedade, estresse e agressividade”, diz Alessandra Samaan, gerente pedagógica do sistema de ensino Positivo.
E todas as iniciativas em busca de um ambiente escolar mais saudável não podem ser confundidas com um silenciamento das vozes de crianças e adolescentes, explica Adriana Ramos, da Unicamp: “Queremos um ambiente onde haja respeito mútuo. A ideia de disciplina não significa ter alunos mudos e calados, como se o silêncio fosse sinônimo de aprendizado, o que não é verdade. O problema real é a algazarra, a desordem e a violência”.
Foto: Adobe Stock