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Ensino Técnico

O potencial do ensino técnico

Brasil pode se inspirar em países como Alemanha e Chile para expandir formação que traz altos índices de empregabilidade para os jovens

28 de setembro de 2024

Por Isabella Baliana

O Censo Escolar 2023 trouxe dados relevantes: a educação profissional e tecnológica (EPT) foi a área da educação básica que apresentou o maior crescimento no último ano. Entre 2022 e 2023, o número de matrículas em EPT aumentou de 2,1 milhões para 2,4 milhões, resultando em um crescimento de 12,1%. Mas, se comparado com alguns países que são referência na qualidade da formação técnica de jovens e adultos, como a Alemanha e o Chile, o número de brasileiros matriculados ainda pode ser considerado baixo.

Por aqui, apenas 11% dos estudantes de 15 a 19 anos estão em programas de educação profissional, enquanto nos países que fazem parte da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) são 37% de jovens da mesma faixa etária. Entre estudantes de 20 a 24 anos, essa diferença é ainda maior: 11% no Brasil, ante 65% na OCDE, mostrando que há potencial para ampliar esse engajamento.
Na Alemanha, tradicional referência na formação técnica, 89% dos jovens entre 15 e 24 anos estão matriculados em programas que combinam formação escolar ou universitária com a profissionalizante, graças ao sistema dual de educação (German Dual VET System). Esse modelo permite que os estudantes aprendam não só em salas de aula, mas também nos locais de trabalho. “Cerca de 70% do tempo de formação é cumprido numa empresa do setor no qual pretendem trabalhar posteriormente e 30% na escola profissional”, explica o chefe de comunicação do Escritório Alemão para Cooperação Internacional em Educação e Formação Profissional (Govet), Thorsten Schlich.

A proximidade do ensino com o mercado faz com que a maioria dos estudantes saia empregada da formação técnica, uma vez que as próprias empresas, as instituições e o governo asseguram essas condições. “Todos os anos, a Alemanha tem quase 500 mil novos estagiários, e 77% deles assumem os cargos após a formação”, revela Schlich.

Embora a comparação com a Alemanha possa parecer injusta pela disparidade de grau de desenvolvimento, países em condições mais próximas à do Brasil, como o Chile, estão avançados na educação técnica. Lá, a educação técnica é regulamentada por lei, abrangendo 15 setores econômicos e 35 especialidades. Além disso, há um acordo entre setor público e privado para desenvolver políticas públicas e promover a colaboração entre governo e sociedade.

Em 2023, se matricularam no ensino técnico no Brasil:
1,34 milhão de alunos se matricularam na rede pública
1,07 milhão de alunos se matricularam na rede privada

Caminho
Segundo o Censo Escolar, há um relativo equilíbrio no Brasil nas matrículas da educação profissional: em 2023, foi 1,34 milhão de novos alunos na rede pública e 1,07 milhão na rede privada. E há potencial para esses números aumentarem. “Com a modernização da economia, impulsionada pela globalização e mais recentemente pelas atividades remotas, há uma redistribuição do trabalho no mundo, que vem aumentando as demandas por profissionais de nível médio”, diz Gustavo Pilatti, diretor de cursos técnicos do Senac.

Para Geísa Boaventura, pró-reitora de ensino do Instituto Federal Goiano, um dos grandes desafios a se resolver é a desconexão entre o ensino e o mercado de trabalho. Ela destaca a necessidade de mais políticas que relacionem o aprendizado à prática: “Uma das medidas estratégicas é fortalecer parcerias entre instituições de ensino e o setor produtivo, permitindo que os currículos sejam atualizados de acordo com as demandas sociais, científicas, culturais e tecnológicas, e que os alunos tenham acesso a estágios e programas de aprendizagem prática”.
Apesar de o desafio ser grande, Geísa enxerga um caminho. “Acredito que universidades e instituições que ofertam educação profissional precisam buscar, juntas, alternativas de consolidação dos cursos técnicos no Brasil. A tarefa é árdua e envolve diferentes atores políticos e sociais, mas com essa articulação a realidade pode ser transformada.”

Mais chance de emprego e salário mais alto
Um dos principais atrativos do ensino técnico é a entrada mais rápida no mercado de trabalho e o retorno financeiro. De acordo com um estudo realizado em 2023 pelo Insper, em parceria com o Itaú Educação e Trabalho e o Instituto Unibanco, profissionais com formação técnica têm 7,6% mais chances de serem empregados formalmente do que aqueles com apenas o ensino médio. A diferença cresce ainda mais quando se analisa a remuneração: os jovens com formação técnica podem receber até 32% mais que os estudantes que só concluíram o ensino médio regular.
“A formação técnica possibilita o acesso a melhores salários, considerando a condição de ocupação de postos de trabalho que exigem formação específica inacessível a pessoas que têm apenas o ensino médio”, diz o reitor do Instituto Federal de Pernambuco, José Carlos de Sá.

Big Numbers

O que o ensino técnico oferece:
7,6% mais chances de obter emprego formal em comparação aos estudantes que concluíram apenas o ensino médio
32% a mais no contracheque do que no holerite de jovens que vão ao mercado de trabalho apenas com o ensino médio no currículo

Gol da Alemanha
89% dos jovens alemães de 15 a 24 anos participam de programas de formação técnica
11% dos jovens brasileiros de 15 a 19 anos estão matriculados em educação profissional

Foto: Adobe Stock

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