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Intercâmbio

Intercâmbio na educação básica: vale a pena?

Entenda em qual fase essa experiência, que vai além do aprendizado de um idioma, pode favorecer o aluno

28 de setembro de 2024

Por Caio Volpe Arnoni

Com o fim da pandemia, a procura por viagens cresceu, incluindo os programas de intercâmbio, que aumentaram de forma significativa nos últimos anos. Um estudo recente do Studyportals, plataforma global de busca e escolha de programas educacionais que conecta estudantes a universidades no mundo todo, revelou que o número de brasileiros estudando fora do País chegou a mais de 88 mil em 2023, consolidando o Brasil entre os 15 países que mais enviam estudantes para o exterior. Os destinos mais populares incluem Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Austrália. A maioria busca cursos de inglês, programas de high school, e combinações como curso de inglês mais Au Pair – programa no qual jovens entre 18 e 30 anos vivem temporariamente em um país estrangeiro enquanto trabalham como cuidadores de crianças para uma família anfitriã e recebem por isso.

Para escolher o intercâmbio ideal, é importante considerar a idade e o nível de maturidade do aluno. Para estudantes do ensino fundamental e médio, há opções curtas, durante as férias (2 a 4 semanas), ou mais longas, entre 6 meses e 1 ano. Para alunos mais jovens, que ainda estão nos anos finais do ensino fundamental, o intercâmbio de curta duração, muitas vezes em grupo, é o mais indicado, como sugere Mariane Prestes, gerente da agência Education First (EF).

Já os intercâmbios de maior duração exigem mais maturidade e autonomia, sendo recomendados para adolescentes entre 17 e 18 anos. Essas viagens podem oferecer experiências valiosas para quem está prestes a entrar no ensino superior ou no mercado de trabalho, conforme observa a psicóloga Valéria Gallo, especializada no atendimento de adolescentes e jovens adultos. Os intercâmbios mais longos exigem maturidade emocional, pois os estudantes precisam lidar com a saudade, tomar decisões por conta própria e administrar responsabilidades, como a organização do tempo de estudo e as tarefas domésticas. Além disso, esses programas demandam maior conhecimento do idioma e um investimento financeiro significativo, exigindo ainda mais cuidado e planejamento dos pais na hora de optar por esse formato.

Relação com a escola atual
Outro ponto que exige um planejamento prévio é a comunicação com a escola atual do estudante, para entender qual é o posicionamento dela em relação ao intercâmbio. Christina Bicalho, vice-presidente da agência de intercâmbio Student Travel Bureau (STB), reforça a importância desse diálogo, principalmente para os programas de longa duração: “Se você estiver pensando em fazer um intercâmbio, já entenda como sua escola opera e como ela olha para isso. Porque tem muita escola que adora, mas também muita escola que não gosta”.

Algumas escolas internacionais incentivam a realização do intercâmbio por parte de seus alunos, inclusive sem a intermediação de agências. A Avenues, uma renomada escola internacional com unidades em Nova York e São Paulo, promove a ida de estudantes de São Paulo para sua unidade em Nova York, com durações variadas. Nesse caso, a escola valoriza não só o aprimoramento de um idioma, mas principalmente a experiência cultural e como essa vivência enriquece o aluno. “Costumamos focar mais no aspecto acadêmico, que naturalmente será desenvolvido, independentemente do currículo. Porém, as habilidades adquiridas fora da sala de aula, como adaptação, independência e convivência com diferentes culturas, são igualmente importantes e enriquecedoras”, explica Anne Baldisseri, diretora da Avenues.

Existem dois tipos de intercâmbio durante a educação básica: o primeiro, em que o estudante faz uma parte do high school no exterior, e o segundo, em que há uma interrupção temporária nos estudos, com o aluno voltando a frequentar a escola no Brasil no ano seguinte. Em ambos os casos, é importante planejar com a escola de origem para garantir a continuidade adequada dos estudos.

Ana Bergamin, coordenadora do ensino médio do colégio Vera Cruz, de São Paulo, já acompanhou de perto a experiência de vários alunos que interromperam o ciclo escolar por causa do intercâmbio. Ela aponta que os alunos com bom rendimento dão conta de organizar a vida escolar rapidamente, enquanto aqueles com dificuldades costumam ter notas ruins no primeiro momento. Ana observa que o intercâmbio pode desenvolver qualidades e habilidades nos jovens:

“Alguns alunos voltam mais desenvoltos, mais maduros na condição de falar de si e de circular num mundo mais diverso, trazendo para a escola o repertório cultural que viveram em outro país e agregando experiências ao conjunto de sua turma”.
Ana Bergamin, coordenadora do ensino médio do colégio Vera Cruz

Hora de ir
Para as famílias que estão certas do valor de um intercâmbio, essa experiência pode até influenciar mudanças escolares. Marina Balieiro, psicóloga, conta que seu filho Gabriel Arnoni Balieiro, de18 anos, trocou de escola para ter maior flexibilidade e fazer o intercâmbio no segundo ano do ensino médio. A flexibilidade oferecida pela nova escola permitiu que ele concluísse o ano letivo no Brasil antes de partir para a experiência no exterior, facilitando o planejamento da viagem sem perder o ritmo de estudos. Gabriel passou seis meses no Canadá, aprimorando seu inglês e desenvolvendo habilidades como autonomia e confiança.

“Eu já tinha uma boa proficiência e sempre gostei muito de inglês, mas acredito que o intercâmbio me ajudou a perder a timidez em várias situações, me obrigando a enfrentar desafios de forma mais direta. Nesse aspecto, ganhei muita autonomia. Voltei com uma mentalidade totalmente diferente”, conta Gabriel.

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