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Ensino médio: será que agora vai?

Última versão da reforma entrou em vigor no início do ano, voltando a reforçar os conteúdos tradicionais na grade curricular

26 de setembro de 2025

Por Yuri Marques

Após quase dez anos de muitas discussões, reformas e contrarreformas, o en­sino médio parece finalmente ter chegado a um formato definitivo no Brasil. Em 2025, as escolas de todo o País passaram a oferecer o mais novo modelo para os alunos do primeiro ano. Disciplinas tradicionais recuperaram boa parte do espaço que haviam perdido na grade curricular e os chamados itinerários formativos, talvez a principal novidade das reformas, ficaram mais padronizados.

Para Ivan Gontijo, gerente de Políticas Educacionais da organização Todos Pela Educação, ainda é cedo para avaliar o impacto de mais um ciclo de alterações: “Este ano tem sido de transição para que as escolas e as redes de ensino se adaptem às novas diretrizes que foram estabelecidas no ano passado”, afirma.

A nova rodada de mudanças surgiu em resposta às insatisfações da comunidade escolar. Professores, pais e alunos reclamavam que a implementação inicial dos itinerários formativos reduziu demais o espaço para disciplinas mais tradicionais – que continuam sendo as mais cobradas nos vestibulares –, além de gerar confusões e ampliar desigualdades entre as redes pública e privada.

A partir deste ano, os itinerários formativos, parte do currículo em que o aluno pode escolher o que estudar, tiveram seu número de horas reduzido de 40% para 20% da carga horária total. Além disso, passaram a ser, obrigatoriamente, vinculados a uma das quatro grandes áreas do conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza ou Ciências Humanas. Isso deu mais direção e coesão às trilhas opcionais oferecidas pelas escolas. “O modelo anterior estava apresentando uma série de problemas, especialmente duas grandes questões: a redução drástica da formação geral básica e a disparidade entre os itinerários formativos. Essas questões foram corrigidas”, diz Gontijo.

“Houve uma reformulação nos focos temáticos. Os itinerários, antes mais multidisciplinares e abrangentes, passaram a ser mais objetivos e diretamente ligados às áreas específicas de conhecimento”
Mário Fioranelli, diretor pedagógico do ensino funda­mental II e médio

Na prática
No Centro Educacional Pioneiro, em São Paulo, essas reestruturações já foram bem absorvidas. “Houve uma reformulação nos focos temáticos. Os itinerários, antes mais multidisciplinares e abrangentes, passaram a ser mais objetivos e diretamente ligados às áreas específicas de conhecimento”, afirma Mário Fioranelli, diretor pedagógico do ensino funda­mental II e médio. Apesar de as mudanças terem trazido mais clareza e facilidade na organização pedagógica, Mário acredita que elas reduziram o caráter experimental e criativo de algumas atividades anteriores: “Não basta preparar os alunos apenas para os vestibulares, embora isso seja importante. Precisamos formar cidadãos críticos, capazes de atuar com autonomia na vida social e no mercado de trabalho. A atratividade e o sentido do conteúdo para o aluno precisam estar no centro da proposta.”

Mesmo com um modelo de itinerários formativos mais ancorado em disciplinas tradicionais, o processo de escolha da trilha a ser seguida pelos jovens no ensino médio ainda segue sendo um desafio. E as escolas vêm buscando formas de apoiar esse processo. Um bom exemplo vem do Colégio Nossa Senhora das Graças (Gracinha), em São Paulo. Lá, os alunos vivenciam uma etapa de experimentação antes de definirem seus itinerários. “Os alunos não escolhem seus itinerários logo no início do ensino médio. Durante o primeiro ano, vivenciam uma espécie de menu-degustação , com experiências trimestrais em cada uma das áreas. Em agosto, realizamos um grande evento com participação das famílias, no qual alguns alunos já compartilham suas escolhas e outros ainda estão em processo de decisão”, explica Paulo Rota, coordenador pedagógico do ensino médio.

 

Reforma redefine itinerários

Saber se os itinerários oferecidos pela escola têm uma base pedagógica sólida não é algo muito fácil. O Conselho Nacional de Educação (CNE), vinculado ao Ministério da Educação (MEC), constrói as diretrizes que orientam a implementação dos itinerários em todo o País. Entretanto, essas orientações são interpretadas por cada conselho estadual de educação. “Então, é difícil dizer hoje se todos os itinerários têm uma base pedagógica sólida, pois depende de como serão normatizados e implementados”, aponta Ivan Gontijo.

Apesar disso, com esse novo desenho curricular, é possível ter mais clareza no processo de avaliação. “Como agora os itinerários passam a ter combinações de aprofundamento nas áreas de conhecimento, vai ser mais fácil fazer um acompanhamento, porque a base pedagógica acaba sendo mais parecida com a das disciplinas tradicionais”, destaca o especialista.

Como os pais também têm mais referências sobre as disciplinas tradicionais, isso facilitará a aproximação com as escolas para acompanhar de perto os itinerários oferecidos. Estar presente nesse percurso dos filhos e dialogar com as instituições de ensino é muito importante. “As famílias devem acompanhar a proposta pedagógica e manter a conversa sobre as inclinações e os desejos de seus filhos com relação à escola”, afirma Ana Bergamin, coordenadora pedagógica do Colégio Vera Cruz, em São Paulo (SP)

“As famílias devem acompanhar a proposta pedagógica e manter a conversa sobre as inclinações e os desejos de seus filhos com relação à escola”
Ana Bergamin, coordenadora pedagógica do Colégio Vera Cruz

E essa conversa e o mapeamento das diferentes trilhas de formação oferecidas aos estudantes são um processo que pode, e deve, ser feito pela família antes mesmo da matrícula no ensino médio.

Foto: Getty Images

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