Artigo

ENSINO FUNDAMENTAL

Considerar especificidades de cada faixa etária é grande desafio na escolha da escola

Entenda o que levar em conta para cada momento dessa etapa e como pensar eventuais mudanças de instituição

Por Bianca Bibiano

 

De acordo com a organização da educação básica vigente no Brasil, o ensino fundamental é a etapa que compreende do 1º ao 9º ano, abarcando uma faixa etária que vai, em média, dos 6 aos 15 anos de idade. Exatamente por envolver um ciclo tão longo da infância e o início da adolescência, a escolha de uma escola precisa ser vista com atenção.

Seja na entrada da criança nessa etapa ou em uma eventual mudança ao longo do ciclo, Silvia Colello, pedagoga com mestrado, doutorado e livre-docência pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), orienta que as famílias alinhem bem as expectativas antes de seguir para o momento da matrícula. “Muitas vezes, os pais visitam uma escola e se apegam a detalhes estéticos da decoração ou modismos, como salas de robótica e espaços maker, mas se esquecem do mais importante, que é o projeto político-pedagógico.”

Além de especificar os materiais didáticos e pedagógicos, esse projeto fala sobre a maneira como a escola pretende trabalhar com seus alunos, expondo a visão que tem do desenvolvimento educacional e do projeto de vida, além de detalhar os caminhos para executar o projeto em parceria com estudantes, educadores, famílias e comunidade. “Muitas escolas, infelizmente, apresentam um projeto pedagógico com cunho mercadológico, e cabe aos pais verificar se os aspectos apresentados ali são de fato viabilizados na rotina”, pontua Silvia.

Outro ponto importante antes da decisão é refletir sobre o que a escola representa na vida daquela família, orienta a especialista. “Os pais valorizam a educação como projeto de vida para aquela criança? Ou tratam a escola como algo obrigatório e secundário para o futuro? Quando os pais se empenham e valorizam essa etapa, a criança valoriza junto.” Nesse sentido, ela diz ainda que frases como “você só vai para a escola porque preciso trabalhar” ou “essa escola não é boa, mas é a única que posso pagar” devem ser evitadas, por depreciarem a importância da educação em seu sentido mais amplo.

“Salvo em casos inevitáveis, como alteração de cidade ou Estado, as demais razões precisam sempre ser vistas em detalhes, pois podem prejudicar o desenvolvimento social e até o desempenho escolar.”
Ioana Yacalos, doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP.

Mudança de escola requer diálogo e negociação
Por se tratar de um ciclo longo da vida estudantil, mudanças de instituição são comuns ao longo do ensino fundamental e devem ser manejadas com muito diálogo e objetividade. Ioana Yacalos, doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP, afirma que, antes de optar pela troca, a família precisa ter certeza de que ela é realmente necessária. “Salvo em casos inevitáveis, como alteração de cidade ou Estado, as demais razões precisam sempre ser vistas em detalhes, pois podem prejudicar o desenvolvimento social e até o desempenho escolar.”

Quando a opção é pela mudança, ela recomenda inserir a criança ou o adolescente em todo o processo. “Validar o sentimento do estudante é importante. Às vezes, a família menospreza isso, mas, se compararmos com adultos, sabemos o quanto é difícil mudar.”

Ela indica apresentar os pontos positivos do novo local e levar a criança para conhecer a escola e o professor antes do primeiro dia de aula. Falar como será a nova rotina também ajudará a minimizar a ansiedade natural causada pela mudança. “Para algumas, pode ser mais fácil, para outras, nem tanto, mas sempre há conflito emocional e sofrimento pela perda de amigos e professores. Os pais precisam estar atentos e acolher a angústia da criança.”

Após o início na nova escola, ela recomenda atentar para alterações de comportamento, sintomas fisiológicos ou isolamento social, que podem acontecer entre crianças que não conseguem expressar seus sentimentos.

Alinhamento constante
Sobre mudanças, Silvia Colello costuma dizer que “não existe escola perfeita para toda a vida”. “Há sempre um embate relacional, social, pedagógico, cognitivo, pois as relações humanas são assim, e a escola, por ser um espaço formativo, também.” Para evitar que problemas cotidianos excedam a ponto de ser um conflito e causar mudanças, ela defende o diálogo constante da família com o ambiente educativo. “Mesmo pais que não se acham aptos a dialogar sobre aspectos pedagógicos têm que buscar esse diálogo, e a escola tem obrigação de traduzir em linguagem leiga tudo o que diz respeito à educação da criança, abrindo espaço para as famílias.”

 

5 perguntas para fazer antes da matrícula

1. A escola tem projeto político-pedagógico? Se sim, ele está disponível para os pais?

2. Há alguma linha metodológica definida? Como isso se traduz nas ações da rotina?

3. Como é feito o acolhimento da criança que chega da educação infantil?

4. Como é pensada a transição entre os anos iniciais e os anos finais do ensino fundamental?

5. Há atividades complementares no contraturno ou período integral? Como é o diálogo com as aulas do período regular?

Créditos da imagem: Adobe Stock

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