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Ensino bilíngue promete formar cidadãos do futuro

Saiba como as escolas que trabalham com dois idiomas funcionam na prática e quanto custa esse tipo de instituição

24 de setembro de 2022

Por Giovana Pastori

Se até pouco tempo o inglês fluente podia ser considerado um diferencial no currículo, hoje o domínio da língua inglesa já é exigência do mercado de trabalho. Segundo um levantamento da Page Personnel, empresa de recrutamento mundial, a fluência em inglês será um pré-requisito básico das vagas de emprego até 2027. Neste cenário, o ensino bilíngue tem se tornado uma opção interessante para as famílias que querem preparar seus filhos para o mundo globalizado desde os primeiros anos de vida.

Apesar de ainda não ter suas diretrizes aprovadas pelo Ministério da Educação (MEC), o ensino bilíngue vem crescendo no Brasil. No estado de São Paulo, o número de matriculados em instituições bilíngues e internacionais cresceu 64% nos últimos cinco anos, ampliando de 2,8 mil para 4,6 mil alunos, de acordo com os dados da Organização das Escolas Bilíngues de São Paulo (Oebi).

“A escola bilíngue não entende o inglês como mais uma de suas disciplinas, e sim como uma ferramenta de comunicação, aprendizagem e trabalho interdisciplinar”,
Marina Dalbem e Viviane Jesuz, co-CEO e coordenadora pedagógica da Edify Education

Afinal, o que é o ensino bilíngue?

O ensino bilíngue é o ensino que integra duas línguas num único currículo escolar. Na prática, as aulas são ministradas em português e na língua estrangeira escolhida pela escola geralmente o inglês.

Diferentemente do imaginado pelo senso comum, o ensino bilíngue não se trata apenas de ter aulas “de” inglês, mas sim ter aulas “em” inglês. “A escola bilíngue não entende o inglês como mais uma de suas disciplinas, e sim como uma ferramenta de comunicação, aprendizagem e trabalho interdisciplinar”, explicam Marina Dalbem e Viviane Jesuz, respectivamente, co-CEO e coordenadora pedagógica da Edify Education, edtech de soluções educacionais em inglês. “Seu objetivo geral é desenvolver, linguisticamente falando, competências e habilidades nas duas línguas, com o idioma estrangeiro transformado em língua de instrução, deixando de ser apenas uma disciplina entre as demais que compõem a grade curricular”, complementa Maria do Carmo Fagundes, diretora pedagógica de línguas estrangeiras do grupo educacional Weducation e coordenadora do Colégio Mater Dei de São Paulo.

Para além do ensino da língua estrangeira em si, a educação bilíngue também engloba a cultura dos países falantes daquela língua, visando formar um estudante que seja cidadão do mundo. “Uma pessoa bilíngue é um cidadão multicultural e possui ferramentas para interagir globalmente, conhecer diferentes culturas e debater e argumentar sobre conteúdos mais amplos do que apenas os do ensino curricular regular”, conclui Christina Sabadell, head das escolas bilíngues do Grupo SEB.

E as escolas internacionais?

Atualmente, existem dois tipos de instituições que oferecem o ensino bilíngue no Brasil: as escolas bilíngues e as escolas internacionais. Ambas são definidas pela Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Plurilíngue de 2020, que ainda aguarda homologação do MEC.

As escolas bilíngues mantêm currículo brasileiro ministrado em duas línguas em todas as etapas da educação básica, do Ensino Infantil ao Ensino Médio. Elas devem seguir a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Já as escolas internacionais são aquelas que acompanham o currículo escolar e o sistema de avaliação do país de origem, mantendo o português como segunda língua. Em geral, elas são buscadas por famílias estrangeiras ou que desejam continuar os estudos no exterior. Apesar de seguirem as diretrizes curriculares dos países de origem, as escolas internacionais devem observar a legislação brasileira para expedir a dupla diplomação.

Dia a dia na sala de aula

O ensino bilíngue tem a metodologia de imersão na língua estrangeira. Em média, a segunda língua preenche cerca de 50% da carga horária. Muitas dessas escolas também são em período integral, o que aumenta as horas semanais de contato com a língua adicional.

No ensino bilíngue, a imersão na língua estrangeira acontece desde a educação infantil. Isso porque a infância é a melhor fase para se aprender outro idioma. Na escola Pueri Domus, por exemplo, as crianças do maternal são expostas ao inglês 90% do período escolar.

As representantes da Edify Education esclarecem que o aprendizado de outro idioma na infância não atrapalha o processo de alfabetização dos alunos: “Na verdade, o que diversas pesquisas sobre a educação bilíngue hoje comprovam é que o contato com uma língua adicional traz vários benefícios ao desenvolvimento dos alunos, seja em habilidades cognitivas, como atenção, criatividade e memória, seja em funções executivas, como autorregulação e tomada de decisões.”

“O aluno vai se tornando bilíngue aos poucos, ao utilizar a segunda língua como ferramenta, e não como objeto de estudo”
Natália Fernandes, proprietária da Maple Bear Mooca (São Paulo)

A partir do Ensino Fundamental, os estudantes passam a cursar disciplinas na língua estrangeira. “O aluno vai se tornando bilíngue aos poucos, ao utilizar a segunda língua como ferramenta, e não como objeto de estudo”, destaca Natália Fernandes, proprietária da escola Maple Bear Mooca, em São Paulo. Christina Sabadell, do Grupo SEB. exemplifica: “Na Pueri Domus, os alunos têm no currículo Matemática e Math, Ciências e Science, História e Geografia e Social Studies, além de aulas de Coding e Performing Arts, em inglês.”

Na Camino School, escola trilíngue de português, inglês e espanhol, os idiomas também são inseridos de forma orgânica no cotidiano escolar. “O inglês é o idioma de imersão e o espanhol aparece de forma gradativa nas diversas atividades em sala de aula”, explica Ana Paula Martins, coordenadora pedagógica da escola.

No Ensino Médio, muitas escolas bilíngues aliam o currículo brasileiro a programas internacionais, preparando os estudantes para universidades no exterior, por meio da dupla certificação.

Além da imersão na língua estrangeira, grande parte das escolas bilíngues também pratica metodologias de ensino ativas que visam formar o cidadão do futuro, trabalhando a capacidade crítica e analítica, criatividade, inteligência emocional, entre outras competências.

Como escolher

Na hora de escolher uma instituição, é importante avaliar se a escola é bilíngue, de fato, ou se apenas inclui algumas horas a mais de aulas de inglês, por exemplo, sem integrá-lo ao currículo escolar. “As escolas bilíngues têm características próprias, considerando sua história, mas as bases para que possam ser consideradas bilíngues devem estar postas em um currículo que trabalhe com os dois idiomas, que desenvolva a sua proficiência, que amplie o escopo linguístico e cultural do aluno”, pontua Maria do Carmo Fagundes, do grupo Weducation.

Outra dica é perguntar sobre a formação do corpo docente, uma vez que os professores precisam estar preparados para ensinar no contexto bilíngue em todos os níveis de ensino.

“A escola bilíngue costuma ser 40% a mais do ticket médio de uma escola não bilíngue”
Carol Stancati, diretora da Red Balloon English Solutions

Quanto custa essa formação

Quem opta pelo ensino bilíngue, como era de se esperar, acaba tendo que investir mais na formação dos filhos. Entre as escolas consultadas pela reportagem, o valor das mensalidades varia de 2,5 mil a 6 mil reais por mês, a depender do nível de ensino, da região e da carga horária de cada escola. Nessa conta, também pesa as horas a mais do período integral, presente na maioria das instituições desse tipo. “A escola bilíngue costuma ser 40% a mais do ticket médio de uma escola não bilíngue”, estima Carol Stancati, diretora da Red Balloon English Solutions.

Enquanto as mensalidades de uma instituição bilíngue em São Paulo começam num patamar de 2,5 mil reais, o custo médio de uma escola integral comum gira em torno de 1,5 mil reais, segundo pesquisa do site Melhor Escola*.

É preciso considerar, claro, que a educação bilíngue dispensa a necessidade de cursos de idiomas, pois ela garante a fluência na língua estrangeira alvo da instituição. Se considerarmos a soma da mensalidade de uma escola integral comum mais um gasto de cerca de 600 reais por mês em um curso de inglês**, o total mensal fica em torno de 2,1 mil reais, valor um pouco mais próximo do investido num ensino bilíngue.

Além do domínio linguístico em si, é preciso considerar que as escolas bilíngues em tempo integral proporcionam um desenvolvimento cognitivo, social e cultural mais intenso que as escolas de idiomas tradicionais, que costumam ter poucas horas de aulas por semana.

* Pesquisa realizada pelo site Melhor Escola em agosto de 2022 com 341 instituições de período integral na cidade de São Paulo, considerando todos os níveis de ensino

** Média de mensalidade de cinco escolas de idiomas consultadas pela reportagem para matrículas no primeiro módulo do curso de inglês

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