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Artigo
Por Heloísa Costa
Em 2023, a empresária Camilla Araujo se surpreendeu com o filho, Maurício, 13 anos: ele contou à mãe que uma colega de classe era alvo de bullying e racismo e, enquanto relatava as violências que ela vinha sofrendo na escola, não teve dúvidas em nomear o que estava testemunhando. O espanto de Camilla aconteceu, justamente, por notar que o garoto expunha o caso de modo certeiro, mobilizando conceitos bem definidos e identificando os acontecimentos como inaceitáveis. A mãe de Maurício avisou a instituição de ensino, que agiu rapidamente com a ajuda de uma psicóloga, conta. “A escola interferiu diretamente, tanto com o agressor quanto com a agredida. Houve um trabalho com os dois, com a sala inteira e com a comunidade escolar, conscientizando os estudantes e suas famílias”, explica a mãe do adolescente.
Esse exercício de nomear emoções e sentimentos é algo que no Colégio Ofélia Fonseca, onde o adolescente estuda, é feito desde as séries iniciais. “É importante identificar, classificar e distinguir o que acontece”, pontua Wylma Ferraz, orientadora educacional dos ensinos infantil e fundamental 1 do Ofélia. A cruzada contra o bullying e intolerâncias das mais diferentes naturezas, porém, está só no início quando se nomeia um preconceito, garante. Constatado o problema, é preciso agir.
Mas a escola atua também na prevenção. Uma das atividades organizadas pela instituição para promover diálogos e a construção coletiva de conhecimento entre alunos, pais e professores se chama Manhãs de Convivência e é realizada um sábado por mês. É um espaço de reflexão e de acolhimento para os temas atuais que aparecem não apenas no dia a dia do colégio, mas que são observados em toda a sociedade de hoje.
Acompanhamento
A preocupação de encontrar uma escola que acolhesse todos, inclusive seu filho, que é negro, levou Camilla a matricular o filho no Ofélia Fonseca no meio da pandemia, em 2021. O currículo da escola onde Maurício estudava antes era voltado quase que exclusivamente para o conteúdo das disciplinas curriculares, sem espaço para uma formação mais crítica e diversa. “Onde ele estudava antes, era matéria, matéria, matéria e acabou. E havia ainda incômodos como quando alguém perguntava ao Maurício se eu sou a mãe dele”, lembra Camilla, que é branca.
No então novo ambiente, o menino passou a ter um acompanhamento próximo por parte de uma rede interessada em conhecê-lo, trabalhar suas aptidões e qualidades e, de quebra, ajudá-lo com algumas dificuldades que surgissem no decorrer do processo de aprendizagem. Com o fim das aulas online e a volta à escola, o adolescente sentiu que o novo colégio era um lugar seguro para ser quem realmente é, sem receio de julgamentos.
“Agora ele está mais à vontade, com orgulho de si, tanto que quer fazer tranças no cabelo, o que me deixa muito feliz. Isso é resultado da nossa atuação enquanto família em parceria com a escola”
Camilla Araujo, empresária
Diversidade
Em 1996, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação foi incluído um artigo que tornou obrigatório o ensino sobre a História e Cultura Afro-Brasileira, nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio de escolas públicas e privadas. Algumas instituições de ensino criaram comissões antirracistas, reforçando seu compromisso com o letramento social e a diversidade da comunidade docente e discente. “Passamos, inclusive, a questionar o currículo escolar, os materiais didáticos e chegamos à tarefa de repensar a biblioteca”, afirma Luis Massagardi, coordenador das séries finais do ensino fundamental 2, do ensino médio e da Comissão Antirracista do Ofélia. Desse movimento, notaram a necessidade de aumentar a oferta de livros de autoria de escritores negros, priorizando, assim, compras de obras que colaborem com essa meta. Outras leituras da história, outras narrativas literárias, outras referências valorizadas.
As realizações da Comissão Antirracista incluíram ainda visita à exposição em homenagem à professora Lélia Gonzalez (intelectual e ativista nos estudos de raça e gênero, 1935-1994), a palestras que estimulem educadores, educandos e familiares a compreender noções fundamentais para uma educação plural.
“Fora essas dinâmicas, estamos atentos aos processos seletivos do colégio, buscando abrir oportunidades”, ressalta Massagardi. Constroi-se a procura constante, dessa maneira, por ações que contribuam para o crescimento de pessoas com senso crítico, de coletividade e pertencimento, capazes de, como Maurício, nomearem não apenas violências, mas também as expressões de suas identidades.
Foto: Cibele Barreto