Artigo

Educação bilíngue

Aprendizagem além do idioma

Escolas bilíngues vão além do ensino de dois idiomas, oferecendo currículos que integram cultura, ciência e tecnologia e preparando alunos para desafios globais e acesso a universidades

28 de setembro de 2024

Por Vanessa Fajardo

Embora compartilhem características, como aulas em duas línguas e certificação dupla, as escolas internacionais e bilíngues têm propostas distintas. As internacionais seguem o sistema de ensino de outros países. Mesmo instaladas no Brasil, obedecem às diretrizes curriculares e ao calendário de suas nações de origem. Já as escolas bilíngues adotam o currículo nacional, incorporando a língua estrangeira em parte dele.

Ambas têm como objetivo desenvolver a fluência em outro idioma, além do português. Além disso, geralmente oferecem programas que preparam e facilitam o acesso dos alunos ao ensino superior no exterior.

Na Maple Bear, rede bilíngue que adota um currículo com conteúdos desenvolvidos por educadores brasileiros e canadenses, os alunos podem fazer intercâmbio no Canadá durante as férias ou cursar parte do ensino médio no país. Ao concluir a educação básica, o estudante recebe certificação tanto do Brasil quanto da província canadense de Nova Brunswick.

Em julho deste ano, Ana Carolina Moya, de 15 anos, aluna do 9º ano da Maple Bear de Porto Velho (RO), viveu essa experiência em Toronto. O intercâmbio incluiu visitas e pesquisas em universidades canadenses, além de um acampamento em “cabanas de madeira, longe da cidade, em uma espécie de floresta”, como ela define.

“Voltei com a certeza de que quero fazer faculdade no Canadá. Gosto de falar e escrever redações em inglês, gosto do frio. Minha vida mudou desde que cheguei na Maple, porque antes nem pensava sobre a possibilidade de estudar fora”
Ana Carolina, aluna do 9º ano da Maple Bear de Porto Velho (RO)

A dentista Giovanna Moya, mãe de Ana Carolina, explica que a escolha pelo colégio bilíngue foi para que a filha tivesse contato com o inglês de forma “natural e tranquila”. Hoje, o idioma já faz parte da rotina da casa, com séries, filmes sem legenda e livros. “Notamos grande evolução no vocabulário da Ana Carolina”, afirma.

Giovanna também valoriza a proposta pedagógica da escola, que estimula uma análise crítica e o respeito a diferentes opiniões. “Esperamos que ela use o aprendizado, o inglês e o convívio em sociedade para realizar seus sonhos e viver em harmonia.”

 

Cérebro bilíngue
A divisão da carga horária do segundo idioma varia conforme o projeto pedagógico de cada escola. Na Maple Bear, a partir do 1º ano do ensino fundamental, as disciplinas são ministradas metade em português e metade em inglês. Já na Escola Eleva, essa divisão ocorre a partir do 6º ano.

Segundo Adriana Kac, diretora acadêmica do Grupo Inspired, é possível que o aluno aprenda inglês, mesmo dividindo a atenção com aulas em português. “Ainda existe a falsa ideia de que é necessário estudar um idioma de cada vez. A neurociência mostra que o cérebro bilíngue é mais sofisticado e facilita o aprendizado simultâneo das duas línguas.”

A pesquisadora Maria Célia Lima-Hernandes, professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), reforça os benefícios do bilinguismo. Ela explica que, quanto mais cedo a criança tem acesso a esse tipo de projeto, mais vantagens obtém, embora não haja uma idade certa para começar.

“O contato com uma língua adicional cria uma flexibilidade cognitiva enorme, facilitando o aprendizado de outros idiomas e oferecendo diversas vantagens.”
Maria Célia Lima-Hernandes, professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP)

Uma dica para fazer a criança “pegar gosto” em aprender uma língua adicional é oferecer intercâmbios e ambientes de imersão que privilegiam o lúdico. “É uma questão de tempo para que a criança reconheça o valor e o bem que ela tem acesso em um colégio bilíngue. Saber línguas abre possibilidades enormes no mundo, faz com que a mente se expanda, fora as oportunidades de socializar e conhecer pessoas”, diz Maria Célia.

Cultura brasileira
Escolas internacionais, por representarem outros países, costumam estar imersas nas culturas e tradições desses locais. Mas há variações nos modelos. A Avenues, que nasceu em Nova York e chegou a São Paulo em 2018, combina abordagens, sem deixar de valorizar as tradições brasileiras.

“As crianças são alfabetizadas primeiro em inglês, mas também nos dedicamos ao português e à cultura brasileira. Queremos que nossos alunos usem ambas as línguas em todos os contextos do dia a dia”, explica Connie Dayller, diretora de Admissões da Avenues.

Com 75% do currículo em inglês, a Avenues segue o calendário do Hemisfério Norte, começando o ano letivo em agosto. No entanto, mantém celebrações brasileiras importantes, como a festa junina.

A valorização da cultura brasileira também é central na Escola Cidade Jardim PlayPen. A diretora-geral, Soraia Dale-Harris, explica que as famílias buscam o bilinguismo para ampliar os horizontes das crianças, mas se orgulham de sua identidade brasileira. “São pessoas que trabalham no Brasil e acreditam nele, mas entendem que o mundo é maior do que nossas fronteiras.”

Como identificar se uma escola é realmente bilíngue?
Para ser considerada bilíngue, uma escola deve ministrar componentes curriculares em duas línguas, e não apenas oferecer aulas diárias de inglês. Em 2020, o Conselho Nacional de Educação aprovou diretrizes nacionais estabelecendo de 30% a 50% do segundo idioma na educação infantil e fundamental, e no mínimo 20% no ensino médio.

Como as diretrizes não foram homologadas, Estados e municípios podem criar suas próprias regulamentações, permitindo diferentes formatos de escolas bilíngues, conforme explica Antonieta Megale, diretora acadêmica da Maple Bear.

Processo
É importante lembrar que o ensino bilíngue não garante que a criança domine automaticamente a segunda língua. Segundo Patrícia Romano, da Seven Idiomas, isso é um processo gradual e construído. “Assim como o aluno do fundamental 1 não aprende raiz quadrada de imediato, uma criança pequena tem limitações na aquisição da língua”, explica.

Na Maple Bear, o bilinguismo é parte do currículo, mas não o único foco. Antonieta Megale ressalta que a escola também oferece programas de aconselhamento para preparar adolescentes para a universidade, no Brasil ou no exterior. “Nosso objetivo é formar alunos curiosos, com letramento digital e científico, conectados com o mundo.”

Thomaz Hohn, de 16 anos, aluno do 2º ano do ensino médio da unidade de São Luís (MA) da Maple, diz que as oportunidades proporcionadas pela escola ajudam a abrir possibilidades e o deixam mais seguro para definir os planos para o futuro. “Amplia minhas opções porque consigo focar no Enem, mas tenho mentorias para me apoiar, caso queira ir para fora. É uma situação muito confortável. Com o sistema bilíngue, não fico preso a uma realidade só.”

Para escolher uma escola bilíngue

É importante considerar a proposta pedagógica e as práticas que favorecem o aprendizado do novo idioma. Observe os seguintes pontos:
Entender a proposta pedagógica ajuda a identificar se a escola incentiva o aprendizado bilíngue de forma natural e prática.
A formação do corpo docente é fundamental, já que professores capacitados em contextos bilíngues fazem diferença na imersão.
Verificar a compreensão da infância pela escola é importante para garantir um aprendizado respeitando o ritmo individual.
Atividades exploratórias e práticas indicam se a escola oferece experiências concretas para a assimilação do idioma.
Abordagens como imersões linguísticas são um diferencial para o desenvolvimento da fluência.

Foto: Adobe Stock

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