Artigo

Construindo um ambiente seguro

A questão da segurança nas escolas desperta cada vez mais a atenção. Veja quais ações são mais efetivas e como abordar o assunto com os alunos

Por Natália Jorge

 

A segurança dos alunos vem ganhando relevância e já faz parte dos principais fatores de decisão para os pais. E isso pode ser explicado por um dado preocupante: somente no primeiro semestre de 2023, sete ataques em escolas foram registrados no Brasil, segundo o Instituto Sou da Paz. A pergunta que fica é o que realmente pode ser feito para construir um ambiente escolar mais seguro para todos?
Em busca dessas respostas, as instituições tentam se movimentar. Segundo pesquisa feita pelo site Melhor Escola com 2.217 escolas públicas e particulares em julho deste ano, 91% delas trabalham com alunos e professores temas ligados à prevenção contra violência. Mas que tipo de trabalho realmente funciona?

 

Treinamento contínuo
Este é um ponto no qual quase todos concordam. Os funcionários da escola precisam ser treinados para entender o que fazer, onde e como denunciar se houver algo estranho. “Quando você ganha repertório, enxerga mais coisas”, aponta Rodrigo Bressan, psiquiatra, professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e presidente do Instituto Ame Sua Mente, com programas de saúde mental nas escolas.

“O treinamento deve ser recorrente e focar casos práticos e falhas frequentes”, sugere Katia Dantas, especialista internacional e líder em proteção infantil dedicada à prevenção de abuso institucional.

Pensando a longo prazo, pode ser feito ainda um trabalho que evite que alunos passem por experiências traumáticas no ambiente escolar – um possível gatilho para ações violentas no futuro. Assim, o currículo pode contar com aulas ou palestras com foco na prevenção de situações de abuso, inserindo conceitos como autonomia corporal, ideia de consentimento, o que é uma relação saudável e espaço pessoal.

 

Aliança pais e escola
Os protocolos de atuação em casos de ameaças ao ambiente escolar também funcionam, desde que sejam claros e tenham ferramentas objetivas. Por isso é essencial colocar as regras do jogo para todos os envolvidos: alunos, profissionais da instituição e pais. “Quando trazemos um guia com diretrizes, geramos segurança”, explica Rodrigo.

“Aprisionar a escola não resolverá a questão. Na verdade, estaremos isolando a escola em vez de transformá-la em um espaço cada vez mais livre para desenvolver projetos artísticos, esportivos, culturais e educativos de uma forma mais ampla”
Catarina Santos, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB).

Foco nas causas
“Aprisionar a escola não resolverá a questão. Na verdade, estaremos isolando a escola em vez de transformá-la em um espaço cada vez mais livre para desenvolver projetos artísticos, esportivos, culturais e educativos de uma forma mais ampla”, analisa Catarina Santos, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB). “Precisamos fazer com que ela se aproxime mais de uma escola e não de uma prisão. O caminho é formar para não precisar da vigilância.”

Por isso, a recomendação para as escolas é de um trabalho direcionado para as causas. “Precisamos ter um currículo que combata o ódio às diferenças. Se fizermos uma escola e um processo educativo a partir disso, estaremos evitando que o ataque aconteça”, conclui Catarina.

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