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Contraturno

Atenção ao equilíbrio!

Atividades extraclasse são benéficas, mas não devem tomar todo o tempo disponível de crianças e adolescentes

Por Maurício Oliveira

 

O menino Marcos Santos*, de 9 anos e comportamento normalmente tranquilo e amigável, começou a apresentar sinais de irritação e agressividade. A psicóloga contratada para acompanhar o caso logo identificou a raiz do problema: estava faltando tempo para que ele pudesse ser criança.

A agenda tomada por compromissos não permitia que o menino tivesse horas livres para descansar ou brincar livremente. Ele frequentava a escola pela manhã e tinha as tardes ocupadas por atividades extraclasse – aulas de inglês, de música e de futebol, esporte que praticava mais por desejo do pai do que por vontade própria. Com tudo isso, as sessões semanais de terapia precisaram ser encaixadas em um horário atípico, 20h de quarta-feira – o que representou, por si só, um sinal claro para a psicóloga do desequilíbrio que reinava na rotina da criança.

Convencidos de que a sobrecarga era justificável pelos supostos benefícios ao desenvolvimento do filho, os pais estavam também exaustos com a logística para levar e buscar o menino em tantos compromissos. “Há uma grande ansiedade diante da missão de preparar as crianças para um futuro que ninguém sabe como vai ser”, diz Marta Gonçalves, psicopedagoga do Instituto Singularidades.

“Optar por atividades que reforcem esses atributos na criança certamente significa contribuir para o futuro delas”, diz a psicopedagoga.

Fatores de escolha
O que se pode afirmar com certeza, ela ressalta, é que as chamadas soft skills – as características de comportamento, como colaboração, trabalho em equipe e empatia – serão cada vez mais importantes e valorizadas (leia mais neste artigo). “Optar por atividades que reforcem esses atributos na criança certamente significa contribuir para o futuro delas”, diz a psicopedagoga.

Marta recomenda que as atividades extraclasse sejam definidas a partir de uma análise ampla de todos os fatores relacionados.

Deve-se buscar a conciliação entre necessidades e interesses da criança e dos pais, dentro de um limite de tempo que permita respiros. Para quem estuda pela manhã, por exemplo, manter duas tardes livres por semana é um bom balanço. O prazer da criança na definição das atividades é importante, mas o ideal é que também sejam levadas em conta as necessidades de desenvolvimento observadas por profissionais especializados: aulas de teatro para lidar com a timidez ou de artes marciais para controlar a agressividade, por exemplo.

*O nome foi trocado para preservar a privacidade da criança.

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