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Nas reuniões escolares, é cada vez mais comum ver pais ansiosos para saber se, ao final do 2º ano, seus filhos estarão lendo e escrevendo bem. A preocupação é legítima. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) determina que a alfabetização completa ocorra até os sete anos — justamente quando a criança conclui o segundo ano do ensino fundamental. A meta, criada para garantir igualdade de oportunidades, também aumenta a pressão sobre escolas, gestores e professores.
Alfabetizar vai muito além de juntar letras. Em uma mesma turma, é comum encontrar crianças em diferentes estágios de compreensão da escrita e com repertórios variados de leitura. Para Cristiane Mori, coordenadora de Formação Continuada do Instituto Singularidades, o primeiro passo é identificar o que cada aluno já sabe e planejar atividades que atendam à diversidade da sala.
“É preciso compreender o processo e considerar variáveis linguísticas, cognitivas, sociais e culturais”, afirma. Ela alerta que, a partir do 3º ano, um estudante que não esteja plenamente alfabetizado entra em um ciclo difícil de romper, sem domínio da escrita e com menos recursos para avançar nas demais áreas do conhecimento.
Currículo estruturado e monitoramento constante
Cumprir a meta da BNCC exige currículo bem estruturado, metas claras e acompanhamento contínuo. Tatiane Ramos, consultora pedagógica do Poliedro Sistema de Ensino, ressalta que o monitoramento de indicadores é essencial para garantir intervenções rápidas e progressos consistentes.
Na rede, a alfabetização é tratada como um processo de construção, em que a criança participa ativamente em um ambiente rico em estímulos — listas de palavras, livros, jornais, jogos e produções próprias. “Valorizamos a diversidade de gêneros textuais e a relação entre letra e som, de forma lúdica, para despertar curiosidade e interesse desde a educação infantil”, explica.
Acompanhamento individualizado
Em São José dos Campos, o Colégio Solare aposta em um ensino personalizado para que cada criança conclua o 2º ano alfabetizada. “Adotamos o sistema Bernoulli, que combina excelência e acompanhamento próximo, respeitando o ritmo de cada aluno. Acompanhamos o progresso com avaliações frequentes, o que permite intervenções rápidas e precisas”, afirma Giovana Silva, diretora pedagógica.
A escola prioriza o método fônico, “respaldado pela neurociência, que oferece base sólida para a relação entre sons e letras e garante compreensão e ritmo de leitura”. As atividades são lúdicas, com jogos sonoros, rimas e músicas, prevenindo dificuldades e fortalecendo a confiança dos alunos. “Também trabalhamos multiletramentos para ampliar o contato com diferentes textos, linguagens e contextos sociais, formando leitores críticos e curiosos”, acrescenta Giovana.
“Valorizamos a diversidade de gêneros textuais e a relação entre letra e som, de forma lúdica, para despertar curiosidade e interesse desde a educação infantil”
Tatiane Ramos, consultora pedagógica do Poliedro Sistema de Ensino
Intervenção rápida e formação contínua
Quando surgem dificuldades, o acompanhamento é imediato. “Elaboramos planos pedagógicos individualizados, que podem incluir reforço, o programa Alfa — focado em alfabetização —, atividades direcionadas e acompanhamento próximo do professor”, explica. Uma professora de Atendimento Educacional Especializado (AEE) complementa esse trabalho para que nenhum aluno fique para trás.
A preparação docente também é fundamental. Além de uma boa formação inicial, programas de educação continuada garantem atualização permanente e fortalecem o trabalho em sala, oferecendo novas estratégias e recursos para a alfabetização. “Um professor bem preparado atua integralmente com as turmas de alfabetização”, reforça Tatiane.
Parceria com as famílias
A participação das famílias é igualmente decisiva. “Alfabetizar é um processo que vai além da sala de aula. Mantemos diálogo constante com os pais, orientando como apoiar os filhos em casa e incentivando a leitura no cotidiano”, diz Giovana.
Essa parceria é confirmada por Elisa Pritsopoulos, mãe da Antonella, de 7 anos, aluna do Solare. “Os professores apresentam relatórios com frequência, e em casa podemos acompanhar o interesse crescente por leitura e escrita. A evolução é visível dia após dia”, relata. O aprendizado, acrescenta, vai além da escola: “Ela adora gibis, gosta de ler placas de rua, cardápios e de deixar bilhetes para nós”.
Com metas claras, metodologia consistente e envolvimento das famílias, a alfabetização deixa de ser motivo de angústia e se transforma em uma experiência prazerosa e transformadora — passo essencial para reduzir desigualdades educacionais no País.
Foto: Getty Images