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Artigo
Por Daniel Lisboa
O chamado “Projeto de Vida” é uma das inovações que mais chamaram a atenção no currículo do Novo Ensino Médio. Trata-se de uma disciplina nova, para a qual não há referência anterior ou formação específica. Além disso, cada escola privada teve a liberdade de implantá-la à sua maneira – algumas optaram por criar uma nova disciplina, enquanto outras a agregaram às matérias já existentes.
Em linhas gerais, o objetivo do Projeto de Vida é ajudar o aluno a descobrir suas metas pessoais e profissionais. Mas não se trata, ao menos na teoria, de apenas promover sua vocação. A ideia é que o programa estabeleça um espaço de diálogo e reflexão em um momento em que o jovem está sob enorme pressão para decidir sobre seu futuro.
Conceito
A liberdade dada às escolas particulares para a implementação do Projeto de Vida trouxe oportunidades, mas também muitos desafios. É preciso conciliar a parte teórica com uma aprendizagem que trate de objetivos concretos. Ao mesmo tempo, o programa não deve ter um viés de coaching, como se fosse uma mentoria para o sucesso pessoal. Embora sejam importantes para o aluno lidar com suas angústias pessoais, as aulas do Projeto de Vida também não são uma sessão de terapia em grupo.
Para a coordenadora pedagógica do ensino médio do Colégio Vera Cruz, Ana Bergamin, a proposta oferece ao jovem “um espaço para lidar com a aflição que esse momento da vida traz”. Afinal, eles passaram a vida toda na escola e muitas vezes veem um futuro incerto pela frente.
“Não é uma angústia individual, é algo do momento de vida que todo mundo passa. E eu acho superimportante a gente poder falar sobre essas coisas que fazem parte de ser adolescente.”
Ana Bergamin, coordenadora pedagógica do ensino médio do Colégio Vera Cruz
O colégio paulistano tem um psicólogo escolar para cada série, profissional que acompanha o mesmo grupo de alunos do primeiro ao terceiro ano do ensino médio. O colégio trabalha também com atividades práticas, como visitas de grupos de alunos a locais de trabalho dos familiares. “Nessa conversa dos jovens com adultos profissionais e ex-alunos, os estudantes ficam sabendo como foi o caminho deles até a universidade, como viveram suas escolhas, quem precisou refazer essa escolha”, explica Ana.
Orientar os jovens sobre o futuro, porém, não significa optar por uma abordagem individualista ou centrada apenas na carreira. Para a coordenadora, é exatamente isso que o Vera Cruz procura evitar. “A aula é também um espaço para a gente discutir as relações sociais e o projeto antirracista da escola”, diz Ana. “O Projeto de Vida não diz respeito apenas ao indivíduo, é também sobre a relação com os outros.”
Adaptação
A chegada do Projeto de Vida ao currículo causou alguma estranheza no início. Não só entre alunos, mas também entre professores e coordenadores. “Se disserem que não, estão mentindo”, brinca André Condes, coordenador do ensino médio da unidade Morumbi do Colégio Pentágono, em São Paulo. Ele explica que, no início, foi preciso combater entre os alunos a sensação de que a nova disciplina era “perda de tempo”. “Isso muda quando o jovem vê as consequências do projeto. Quando ele ouve de ex-alunos que, se não fossem as aulas, eles não teriam tido a performance necessária no vestibular, não teriam a ‘virada de chave’.”
No ensino médio do Pentágono, o Projeto de Vida tem duas aulas semanais e ganha outro nome, Projeto de Desenvolvimento Pessoal, e é ministrado somente em inglês. Os alunos aprendem conceitos filosóficos e teóricos, mas o colégio também trabalha questões práticas, orientação disciplinar e mentoria de carreira. A mentoria não está oficialmente dentro da disciplina, mas, segundo André, faz parte do “pacote” que tem o Projeto de Vida como eixo central.
Recursos
Se escolas como o Vera Cruz e o Pentágono têm recursos para fazer do Projeto de Vida algo criativo e abrangente, esse não é o caso de muitas instituições da rede pública e mesmo de outros colégios privados. É o alerta que faz Débora Goulart, professora da Unifesp e integrante da Rede Escola Pública e Universidade (Repu).
Para a especialista, “todo o arcabouço teórico sobre o assunto foi completamente ignorado” e a disciplina pode virar um grande “saco de gato em que ninguém acaba discutindo nada”. “Na rede pública do Paraná e de São Paulo, por exemplo, os professores precisam seguir uma plataforma pronta. Não há a menor chance de fazer algo que seja diferente”, diz Débora. “É uma boa intenção que, no fim das contas, acaba acentuando a desigualdade.”
Força extra em tempos de vestibular
Gracco Ariston é pai de Pedro Lopes, aluno do terceiro ano do ensino médio do Pentágono. Ele acredita que o Projeto de Vida vem ajudando muito o filho de 17 anos neste ano de vestibular. “Felicidade é um conceito muito aberto. Não tem a ver com ser o mais bonito, ou o mais visto, ou com ter mais likes. É fazer aquilo que te faz feliz, aquilo para o qual você tem vocação”, diz Ariston. “Ele se preparou para este momento dos 11 aos 16 anos e a nossa opinião foi ouvida muitas vezes. Mas, quando ele precisou de uma segunda opinião, encontrou.”
A mãe do jovem concorda. “Ė uma grande oportunidade que os alunos têm de sair do contexto da grade curricular e trabalhar algo que é personalizado. Que faz cada um se desenvolver de acordo com as suas características”, afirma Ana Paula Vilas Boas.
Foto: Colégio Pentagono