Artigo

A importância da saúde mental nas escolas

Instituições reforçam projetos de saúde mental e integração socioemocional, com resultados positivos no clima escolar

25 de setembro de 2025

Por Juliana Gottardi

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um em cada sete jovens de 10 a 19 anos apresenta algum tipo de transtorno mental, sendo a depressão, a ansiedade e os distúrbios comportamentais as principais causas de doenças e incapacidades nessa faixa etária. Como os estudantes passam grande parte do tempo na escola, é importante que as instituições promovam ações concretas de apoio à saúde mental.

A ideia de que a escola tem apenas função técnica e intelectual está ultrapassada. Não basta mais preparar crianças e adolescentes só para o vestibular e o mercado de trabalho, quando é no ambiente escolar que eles aprimoram competências socioemocionais como empatia, solidariedade e diálogo. “A educação é um processo integral e não há possibilidade de desenvolvimento de uma criança ou adolescente sem habilidades socioemocionais adequadas”, afirma André Ricardo de Castro, diretor do Colégio Fibonacci, em Ipatinga (MG).

Essa visão é compartilhada por profissionais da Ame Sua Mente, organização da sociedade civil voltada à promoção da saúde mental. Segundo o documento Recomendações sobre Saúde Mental para a Gestão Escolar, produzido pela entidade em parceria com o Instituto Unibanco, estudantes com problemas emocionais enfrentam dificuldades acadêmicas, como baixa concentração e falta de motivação, que podem levar à evasão. “A depressão costuma ser marcada por desconexão. Essas crianças tendem a perder a motivação para se manterem socialmente ativas, o que aumenta o risco de evasão”, explica Gustavo Estanislau, psiquiatra e membro da Ame Sua Mente.

“A educação é um processo integral e não há possibilidade de desenvolvimento de uma criança ou adolescente sem habilidades socioemocionais adequadas”
André Ricardo de Castro, diretor do Colégio Fibonacci

Saúde socioemocional
Para a OMS, saúde mental é “um estado de bem-estar que permite lidar com momentos estressantes da vida, desenvolver habilidades, aprender e trabalhar bem e contribuir para a comunidade”. O conceito está em sintonia com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que tornou o ensino socioemocional obrigatório no País. “A escola precisa criar condições para que os alunos exercitem atitudes de cooperação, empatia, qualidade de vida, autorregulação e autocontrole”, afirma Ednalda Umada, assessora pedagógica do programa de educação socioemocional da Somos Educação, o Líder em Mim.

As condições ideais para trabalhar o acolhimento emocional dos alunos precisam levar em consideração as diferentes faixas etárias. Na educação infantil e nos anos iniciais do fundamental do Colégio Fibonacci, o acompanhamento é feito pela professora e coordenadora, com envolvimento da família, se necessário. Já nos anos finais do fundamental e no ensino médio, o acolhimento é feito pela coordenação, complementado por palestras regulares e a disciplina Projeto de Vida, voltada ao equilíbrio emocional.

No Colégio pH, no Rio de Janeiro, que integra a rede Grupo Salta, a saúde mental está incorporada ao projeto pedagógico. O programa prevê aulas semanais sobre empatia e resolução de conflitos; assembleias mensais de convivência; equipes de ajuda formadas por alunos voluntários; protocolo antibullying; formação contínua de educadores e parceria com as famílias. “É na escola que a criança se depara pela primeira vez com a alteridade e com o diferente. A escola é uma das principais instâncias formadoras de identidade, valores, emoções e personalidade”, explica Camila de Oliveira, psicóloga do colégio.

“A depressão costuma ser marcada por desconexão. Essas crianças tendem a perder motivação para se manter socialmente ativas, o que aumenta o risco de evasão”
Gustavo Estanislau, psiquiatra e membro da Ame Sua Mente

Resultados positivos
A preocupação com o acolhimento emocional não é exclusividade das escolas privadas. Na rede pública, também há boas práticas, como na Escola Estadual Deputado Pedro Costa – na Vila Isolina Mazzei, em São Paulo –, finalista em 2024 do World’s Best Schools, prêmio da plataforma global T4 Education. A instituição criou um grupo de estudantes acolhedores, que oferece tutoria individual e em grupo e realiza assembleias para fortalecer protagonismo e escuta entre os alunos. A diretora Janaína Alves Pereira Freire explica que a escola mantém parceria com o Posto de Saúde local para encaminhamentos e reuniões com famílias para acompanhamento de casos específicos.

Representantes de escolas ouvidos pelo Guia de Colégios concordam que as ações de acolhimento emocional trouxeram resultados positivos no clima escolar e nas relações interpessoais. Isso se reflete em maior pertencimento e confiança entre os alunos, engajamento nas atividades, redução de conflitos e diminuição de casos de bullying.

Esses relatos mostram uma mudança em curso nas escolas e respondem a uma expectativa crescente das famílias. Em pesquisa global do Center for Education, dos Estados Unidos, 61% das famílias afirmaram que a aprendizagem socioemocional deve ser prioridade no ambiente escolar — uma demanda que as instituições já começam a atender.

“A escola precisa criar condições para que os alunos exercitem atitudes de cooperação, empatia, qualidade de vida, autorregulação e autocontrole”
Ednalda Umada, assessora pedagógica do programa Líder em Mim, da Somos Educação

Foto: Getty Images

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