Por Gabriel Corrêa – editada por Mariana Collini em 03/01/2025
O Brasil conheceu na última semana os seus resultados no TIMSS (Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências), uma das mais importantes avaliações globais de desempenho escolar. Aplicada em mais de 60 países e regiões, a prova analisa o aprendizado de estudantes do 4º e do 8º anos em Matemática e Ciências. O TIMSS é feito desde 1995, mas o Brasil iniciou sua participação em 2023. E o nosso resultado não traz surpresas: estamos nas últimas posições entre os sistemas educacionais avaliados.
Para ilustrar o cenário crítico, podemos observar os resultados de Matemática entre alunos do 8º ano. O Brasil teve o pior desempenho, empatado com o Marrocos e a Palestina, países com PIB per capita 50% e 70% menor que o nosso, respectivamente.
Mais de 60% dos alunos brasileiros sequer chegaram ao nível de Matemática considerado baixo na prova. E esses péssimos resultados se refletiram também na avaliação do 4º ano e nas avaliações de Ciências.
Mas o retrato triste não pode apenas gerar lamentações e nos limitar a constatar que estamos atrasados. Participar deste tipo de avaliação internacional é importante para trazer senso de urgência e fornecer informações que nos permitam aprender com outros países, identificando o que cada um tem de melhor e os desafios que ainda possuem.
No TIMSS, os países asiáticos ocupam as primeiras colocações nos rankings, com destaques para Cingapura, Coreia do Sul, Japão, Hong Kong e Taiwan. São países e regiões com práticas consistentes que são fundamentais para o sucesso educacional:
currículos bem estruturados;
formação robusta de professores;
escolas em tempo integral;
uso constante de avaliações;
alta valorização social da educação;
continuidade de reformas com visão de longo prazo.
São também sistemas educacionais que dão ênfase ao ensino de Matemática e Ciências desde cedo na educação básica, com alta qualidade, o que ainda nos falta muito no Brasil.
No entanto, é preciso reconhecer que nem tudo nesses sistemas é um modelo a ser seguido. A cultura de alta pressão e competitividade, comum em muitas nações asiáticas, traz desafios significativos para a saúde mental e o bem-estar dos estudantes. Isso tem gerado preocupações crescentes nos governos e nas escolas desses países.
Além disso, esses sistemas ainda têm dificuldades em integrar competências socioemocionais ao currículo e em oferecer uma formação integral, que prepare os jovens não apenas para as provas, mas também para os desafios da vida contemporânea.
Assim, há muito o que se inspirar, mas é fundamental análise crítica, refletindo sobre o que faz sentido para o Brasil e a abordagem educacional que desejamos promover no país. Avaliações como a do TIMSS precisam ser utilizadas para aumentar nossas perspectivas e nossos horizontes, ao observarmos cuidadosamente as referências internacionais e aprendermos com elas. É para isso que mais servem.
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