Por Senai-SP e Estadão Blue Studio
O mercado de trabalho nunca foi tão dinâmico quanto é hoje – e o futuro parece ser ainda mais imprevisível. Nos próximos quatro anos, de acordo com projeção do Fórum Econômico Mundial, serão extintos 12,3% dos empregos existentes, considerando-se a amostra de 803 grandes empresas ouvidas pela instituição em todo o mundo. Em contrapartida, as novas vagas corresponderão a 10,2% do total, fortemente concentradas em duas áreas, tecnologia e sustentabilidade. Em números absolutos, trata-se da extinção de 83 milhões de postos de trabalho e da criação de 69 milhões de empregos.
Quando se fala em novas oportunidades de trabalho, há algumas tendências imediatas claras, como a demanda crescente por especialistas em inteligência artificial, aprendizado de máquina, segurança da informação e comércio digital. Setores como agricultura e educação também deverão gerar um grande volume de vagas. O mesmo estudo enfatiza, contudo, que as empresas percebem fortes lacunas de habilidades na força de trabalho disponível, fator já visto como uma grande dificuldade e que deve se agravar nos próximos anos. Os gestores ouvidos estimam que, em média, 44% das habilidades dos trabalhadores precisariam ser atualizadas dentro do horizonte dos próximos quatro anos.
Por mais que seja necessária, a atualização é uma tarefa complexa, que exige atenção das empresas, esforço dos profissionais e adaptação constante por parte das instituições responsáveis por ensino e capacitação. Trata-se de um cenário percebido em todos os setores da economia, mas, na indústria, a velocidade das mudanças tem se revelado um fenômeno especialmente desafiador. Contribuem para essa sensação circunstâncias como a crescente pressão da concorrência global e o encurtamento dos ciclos de desenvolvimento e obsolescência das tecnologias.
Uma das consequências de todos esses fenômenos é que o conjunto de conhecimentos, competências e habilidades necessário para navegar no mundo da indústria está em permanente transformação. Ciente disso, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo (Senai-SP), como centro de excelência em Educação Profissional e Tecnológica (EPT), tem absorvido novas estratégias para continuar atendendo às demandas da indústria, tanto as atuais quanto as futuras.
Mudanças constantes
Uma das estratégias adotadas pela instituição é ter um olhar cada vez mais orientado por dados, utilizados em processos como a identificação de ocupações emergentes e o planejamento da oferta quantitativa e qualitativa de cursos e vagas, considerando-se as necessidades locais e setoriais. Para apoiar essa decisões, o Senai-SP mantém um robusto datalake – base de dados própria, com mais de 8 terabytes de dados –, reabastecido constantemente com um grande volume de estatísticas socioeconômicas, educacionais e tecnológicas de interesse da indústria.
A instituição faz também um mapeamento detalhado da oferta de emprego industrial, aplicando inteligência artificial para extrair o maior volume possível de detalhes sobre as competências esperadas pelas empresas nos anúncios de vagas. Outra linha de ação é acompanhar as projeções de investimentos em novas fábricas ou ampliações de infraestrutura da indústria paulista, para estimar a geração de empregos prevista – não apenas o número de vagas, mas também o máximo de informações possíveis sobre a descrição dos futuros cargos.
“O cruzamento analítico do grande volume de dados que temos à disposição permite embasar com mais assertividade decisões que asseguram maior alinhamento das nossas ofertas às necessidades reais do mercado”, diz Marcello Luiz de Souza Junior, gerente de Inteligência de Mercado do Senai-SP. “Esse é um processo que tem se mostrado fundamental para ampliar a eficiência e a relevância das ações da instituição.”
Ele ressalta que o uso intensivo de dados permite uma visão mais nítida sobre as ocupações emergentes e as respostas adequadas para alinhar a formação às transformações econômicas, tecnológicas e sociais que também são investigadas pela análise de dados. “É um processo que envolve tanto a identificação de novas profissões quanto a adaptação das ocupações já existentes às expectativas de demandas desse mercado em constante mudança”, explica o especialista em Inteligência de Mercado do Senai-SP.
Senai-SP desenvolve ‘fábrica de insights’
Diversos cursos já foram criados pelo Senai-SP para alinhar a oferta educacional às demandas emergentes, detectadas pelos estudos que a instituição realiza com o uso de tecnologia e dados de mercado (confira alguns exemplos no quadro). Ao longo de 2024, o Senai-SP reformulou o portfólio de cursos nas áreas de Biocombustíveis, Alimentos e Bebidas, Logística e Gestão, resultando em mais de 240 cursos inéditos ou atualizados, incluindo formações continuadas, cursos técnicos, superiores e pós-graduações.
Um dos marcos desse processo foi a inclusão da IA Generativa (GenAI) em diversos Cursos Técnicos e Cursos de Aprendizagem Industrial, reforçando a liderança do Senai-SP na preparação de profissionais para o futuro do trabalho. Em 2025, serão atualizadas as áreas Automotiva, Construção Civil e Eletroeletrônica. “A educação profissional é intensiva em capital, com oficinas que replicam os processos produtivos das indústrias, o que envolve maquinário e outros investimentos. Por isso, a oferta de cursos tem que ser assertiva e eficiente ao contemplar as necessidades reais do mercado”, observa Marcello Luiz de Souza Junior, gerente de Inteligência de Mercado do Senai-SP.
Visão local
Conhecer as especificidades dos cenários regionais de São Paulo é um dos aspectos relevantes da produção de dados, pois ajuda a identificar necessidades de formação profissional específicas dos diferentes contextos locais. O Senai-SP oferece aos gestores de suas unidades acesso ao Mapa do Emprego Industrial, ferramenta elaborada internamente que proporciona uma visão detalhada das movimentações do mercado nos diversos setores industriais e regiões do Estado. Os indicadores sinalizam as possibilidades de oferta de serviços educacionais mais aderentes às necessidades presentes e futuras das indústrias locais.
Além dos registros administrativos de empregos, extraídos de fontes como a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o Mapa do Emprego Industrial conta também com informações quantitativas e qualitativas obtidas a partir de mecanismos de web scraping em plataformas de intermediação de força de trabalho, como Catho, LikedIn, 99Jobs, Indeed, Vagas.com, Google Jobs e Bing Jobs. Esse processo de investigação exige o uso de técnicas avançadas, como o Processamento de Linguagem Natural (NLP), para explorar grandes volumes de dados não estruturados.
“O conjunto de informações obtido permite não apenas uma análise do cenário atual, como também proporciona insights sobre tendências futuras do mercado de trabalho industrial”, avalia Souza Jr. Assim, forma-se um círculo virtuoso: ao detectar necessidades e antecipar demandas por profissionais qualificados na indústria, o Senai-SP está também desenvolvendo mecanismos para aprimorar o planejamento da sua oferta educacional.
Novidades do portfólio
Conheça alguns cursos desenvolvidos recentemente pelo Senai-SP a partir de tendências identificadas por meio de dados de mercado e tecnologia
Mercado e Operações com Drones
O estudo sobre drones destacou a crescente demanda por profissionais em áreas como fabricação, comercialização, manutenção e serviços especializados, além de aplicações em segurança, agricultura, construção civil, energia e inspeções industriais. Dentre os cursos criados, destacam-se Pilotagem de Drones e Inspeções Aéreas em Sistemas de Energia com Drones.
Tecnologia da Informação – Cibersegurança
Pesquisas sobre o mercado de trabalho americano e europeu na área de cibersegurança apontaram a ausência de perfis específicos no mercado brasileiro, mas com forte tendência de crescimento. Com base nisso, foram criados o Curso Técnico em Cibersegurança, o Curso Superior em Tecnologia em Segurança Cibernética, e cursos de aperfeiçoamento, como Análise de Vulnerabilidade para Tratamento de Riscos, Análise Forense Computacional, Cibersegurança em Servidores Windows e Linux e Cibersegurança em Nuvem, voltados a diferentes níveis de especialização.
Biocombustíveis
O estudo da área identificou tecnologias emergentes como etanol de segunda geração, biogás e produção de combustíveis a partir de biomassa. Para atender às necessidades desse mercado, foram lançados cursos como Operador de Planta de Biogás, Técnicas de Fermentação para Bioetanol 1,5G e 2G, Técnicas de Hidrólise Enzimática, Técnicas de Tratamento de Efluentes para Produção de Biogás e Processos de Biorrefino para Valorização de Resíduos da Indústria de Bioetanol.
Ensino técnico se adapta às demandas do mercado
Foto: Divulgação/Senai-SP