Artigo

Competências para o futuro

Escolas criam disciplinas para desenvolver habilidades essenciais no século 21, como resolução de problemas, flexibilidade e empatia

28 de setembro de 2024

Por Nathalia Molina

O conteúdo escolar clássico, por si só, não enfrenta os desafios do século 21. Com mudanças na sociedade, crise climática e avanço tecnológico, o futuro exige competências como flexibilidade, pensamento crítico e resolução de problemas. Para desenvolver essas habilidades, os colégios mudaram a forma de abordar as disciplinas tradicionais, criaram outras e adotaram projetos.

“Todas essas competências precisam estar inseridas de forma transversal, da educação infantil ao ensino médio. Projetos e disciplinas são momentos marcados que garantem: aqui sei que estamos trabalhando a empatia, aqui a criatividade”, explica Cristina Godoi, diretora-geral dos colégios Albert Sabin, Vital Brazil e AB Sabin, de São Paulo.

Foi assim que a construção de um carrinho acabou ensinando mais do que cálculo a três alunos no médio do Vital Brazil. Antes de chegar ao protótipo, o trio conheceu a dura vida de moradores de rua em São Paulo, soube que o Brasil recicla muito alumínio, considerou modelos de distribuição e propôs soluções para a carrocinha guardar sucata e servir de abrigo à noite.
“A gente fez pesquisas de campo e trabalhos manuais para o carrinho em escala reduzida”, diz João Henrique Colombo Vidal, que dividiu o projeto com Vinicius Correia Pereira e Tomas Amaral de Souza Lima. Mas foi a empatia um dos maiores aprendizados.

“Pude ver a felicidade dos catadores quando propusemos a ideia. Isso me ajudou nas minhas relações. Tive um choque de realidade. Você começa a ter outra visão do mundo”, Vinicius Correia Pereira

Como tudo o que se aprende na escola, as competências do futuro precisam ser reforçadas. “Pesquisas recentes nos contam que são parte de um desenvolvimento, assim como aprender história e geografia. É necessário expor, valorizar, sinalizar, expor de novo. Ao longo de anos de escolaridade, quanto mais o aluno vivencia situações que fomentem essas habilidades, mais vai chegar no final com elas conhecidas”, afirma Cristina.

Mudança estrutural
Na última década, a educação básica foi transformada pela nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e pela reforma do ensino médio. Hoje, as habilidades combinam aspectos cognitivos, interpessoais e intrapessoais. “As competências mais exigidas incluem leitura crítica, posicionamento diante da realidade e capacidade de resolver problemas, superando desafios e colaborando com flexibilidade”, afirma Erik Hörner, diretor brasileiro do Colégio Humboldt, de São Paulo.

A escola alemã adota assembleias de classe e rodas de conversa na educação básica. “Essas atividades ensinam os alunos a se comunicar, lidar com frustrações e entender que o desejo individual nem sempre prevalece sobre os interesses coletivos, reforçando a importância da resiliência”, diz Hörner.

Ele explica que esses ensinamentos permeiam todas as disciplinas. “Não adianta o aluno aprender a resolver conflitos na assembleia e não saber aplicá-los em outro contexto.” A intenção é que o estudante possa levar essas habilidades para a vida.

No Colégio Franciscano Pio XII, um problema cotidiano no ensino médio foi a poluição ambiental causada pelos carros. “Com eletricidade, a pegada ecológica é menor do que em outros métodos de energia. Também é preciso considerar o custo-benefício: rodar duas horas custa um décimo do que um chuveiro elétrico gasta”, compara Enzo Fonseca Maiorano Pereira, aluno do 1º ano que participou da iniciativa.

Para discutir alternativas, a turma aprendeu sobre circuitos elétricos e planejamento para projetar um veículo movido por energia sustentável. Outro ponto importante, segundo Enzo, foi trabalhar em um grupo heterogêneo. “A classe tem alunos do 1º, 2º e 3º ano, então não ficamos só entre amigos. As empresas valorizam a capacidade de trabalhar com pessoas diferentes.”

Olho no mercado
O preparo para o mercado também preocupa Cristiane Maria Barra da Matta, mãe de Rafael, aluno do 2º ano do ensino médio do Colégio Marista Arquidiocesano, de São Paulo. “Hoje, profissionais são contratados pela capacidade técnica, mas demitidos por falhas nas habilidades socioemocionais”, conta.

A escola também fomenta as competências a partir da educação infantil. No Projeto de Investigação, as crianças investem em pesquisa, debate e síntese sobre um tema. “Inspirada pelos Jogos Paralímpicos, uma turma fez um passeio no entorno do colégio para verificar a acessibilidade e o tempo dos sinais”, conta Everson Caleff Ramos, diretor-geral.

Aspectos como autoconhecimento e consciência corporal, no combate ao bullying, são abordados em Interioridade, disciplina criada no fundamental 2. No ensino médio, a nova Future Skills alia habilidades humanas (negociação e ética) a digitais (programação e inteligência artificial). Para acomodar as mudanças de conteúdo, o Arquidiocesano investiu em salas makers, mais verdes nas áreas externas e ateliês de arte. “Acreditamos que os espaços físicos também formam os sujeitos. Precisamos de ambientes que instiguem e criem pertencimento”, diz Ramos.

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