
Parceiros da Educação lança edital pela excelência escolar em municípios de SP
Professor Herbert Lima chega à organização com o objetivo de desenvolver a educação de municípios paulistas para que se tornem referência em educação pública no Brasil
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Notícia
Por Renata Cafardo – editada por Mariana Collini
O secretário municipal de Educação de São Paulo, Fernando Padula, pretende fazer parcerias com escolas de elite, como Dante Alighieri, São Luís ou Santo Américo, para melhorar a aprendizagem de colégios municipais. A ideia é que instituições de ensino sem fins lucrativos assumam a gestão e a contratação de professores de 50 unidades da Prefeitura que têm pior desempenho.
Em entrevista ao Estadão, ele afirmou que os convênios seriam um “teste” e disse que não se trata de privatização. “Não posso falar nem em vantagem nem em desvantagem. Só posso dizer o seguinte: por que não tentar? Não é possível ter preconceito. Testa, avalia, vê se os alunos aprenderam”, disse. “Não se pode falar em privatização, porque a instituição não vai fazer lá o que ela faz na sua escola, ter o seu currículo. Ela vai aplicar o currículo da cidade.”
Segundo Padula, a Prefeitura ainda não fez contato com as escolas porque o projeto está em estudo. Em nota ao Estadão, o Colégio Santo Américo disse que se sentiram “prestigiados”. O São Luís afirmou não ter recebido até o momento informações sobre o convênio. Já o Dante Alighieri não quis comentar. As três instituições são colégios tradicionais, que atendem a classe alta paulistana, com mensalidades acima de R$ 5 mil.
Projetos que repassam custos de escolas públicas para a iniciativa privada, como os dos Estados do Paraná e de São Paulo, ganharam espaço no País no ano passado. O modelo é visto por gestores como uma promessa de mais eficiência em sistemas burocráticos, mas pesquisas sobre experiências internacionais não mostraram ganhos de aprendizagem dos alunos e apontam para riscos de aumento da desigualdade.
Na capital, o modelo de parcerias com repasse de verbas para organizações não governamentais já funciona nas creches há décadas. As chamadas “creches conveniadas” representam mais de 80% do total, com boa avaliação das famílias.
Padula, que foi mantido no cargo após a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) mesmo após críticas ao desempenho das escolas durante a campanha e pressão da ala bolsonarista por mudanças, promete ter todas as crianças alfabetizadas no 2º ano do fundamental até o fim do mandato do prefeito.
Hoje, segundo indicador do Ministério da Educação (MEC), está em 37%. “Vou trabalhar para isso obsessivamente. Daqui a quatro anos a gente conversa.”
A rede municipal de São Paulo é a maior do País, com cerca de um milhão de alunos. Veja a seguir os principais trechos da entrevista.
Como é o programa que a Prefeitura está fazendo para que a iniciativa privada assuma algumas escolas?
Estamos na modelagem, desenhando o programa. Mas está definido que empresa não participa. Quer dizer: só podem participar instituições sem fins lucrativos. E que já têm experiência com o ensino. Aí dou exemplos: embora não queira fazer propaganda, mas colégios que existem há muitos anos e são reconhecidos como boas instituições de ensino e também instituições sem fins lucrativos, como Dante, São Luís, Santo Américo. Não falamos com nenhum deles, mas é o que seria o desejável dessa proposta.
Mas de que forma esses colégios assumiriam uma escola municipal?
Assumiriam a gestão e a contratação de professores. Mas eles seguiriam o currículo da cidade, todas as diretrizes da Prefeitura. E seriam fiscalizados pela Prefeitura também, com metas da Prefeitura. Não se pode falar em privatização porque a instituição não vai fazer lá o que ela faz, ter o seu currículo. Ela vai aplicar o currículo da cidade. De 4,1 mil escolas, serão 50 nesse modelo, as que tiverem pior desempenho.
Qual a vantagem, na sua opinião, de fazer esse tipo de parceria? Há pesquisas internacionais que não mostram melhora na aprendizagem e ainda risco de causar desigualdade na rede.
Não posso falar nem em vantagem nem desvantagem. Só posso dizer o seguinte: por que não tentar? Não é possível ter preconceito. Testa, avalia, vê se os alunos aprenderam. Estamos fazendo estudos, o mandato do prefeito está começando. Ele anunciou essa intenção e vamos trabalhar para colocá-la de pé. Hoje temos exemplos tanto em Minas Gerais como em Porto Alegre de parcerias que estão dando certo. E temos um exemplo aqui na cidade de São Paulo, que é o Liceu Coração de Jesus (quando o colégio particular anunciou seu fechamento, a Prefeitura decidiu assumir a parte pedagógica, instituiu seu currículo e regras da rede municipal, mas a administração e contratação de professores continuam com a entidade). É de onde o prefeito tirou a inspiração para tentar.
A gestão Nunes, da qual o senhor já era o secretário da Educação, foi bastante atacada na campanha pelos maus resultados em avaliações de alfabetização e no Ideb (índice do MEC para medir a qualidade da educação). Como o senhor convenceu o prefeito de que deveria continuar no cargo?
Primeiro, sou muito grato a ele por ter essa oportunidade de continuar. Tudo mostra que continuidade em política educacional é essencial. É um reconhecimento de que houve bom trabalho. Os grandes temas das eleições municipais no passado eram fila de creche, uma questão superada na cidade de São Paulo, e falta de material escolar e uniformes. Hoje você tem um aplicativo em que a mãe pode ir em mais de 800 lojas, decidir o que ela quer, levar a criança, experimentar. Quer dizer, uma dignidade que se tem – e era um problema que existia todo ano. Também o programa Mães Guardiãs, que começou na pandemia, e elas se transformaram em agentes de busca ativa. Conseguimos ter a menor taxa de evasão escolar da história. E teve uma decisão dele de que não há negociação política na educação. Ele blindou a educação e reconduziu um secretário técnico.
Mas as avaliações mostram resultados ruins para a mais rica cidade do País. O fato de estar em 21º lugar no ranking de alfabetização, por exemplo. Por que a aprendizagem não melhorou?
Vivemos 2021 e 2022 ainda com a questão da pandemia. Em 2023 e 2024, fizemos um trabalho muito mais intenso e a prova mediu 2023. Mas tem também uma diferença de metodologia. Eles (o MEC) compararam, no caso de alfabetização, duas coisas incomparáveis. Definiram aquela marca de 743 (nota que equivale a uma criança alfabetizada segundo novos parâmetros do ministério) e colocam 20 itens nas avaliações estaduais. Tem questões técnicas de avaliação, mas quando você vê na própria avaliação da cidade, até 2023, tínhamos uma queda. Começamos a recuperar em 2024. Fizemos pela primeira vez concurso para professor com prova prática, mandamos para as escolas kits de experiências pedagógicas, de alfabetização, Matemática, Ciências para enriquecer as aulas. E ainda um apoio pedagógico que atua no 2º ano como professor de recuperação, no turno e no contraturno.
Qual vai ser a porcentagem de crianças alfabetizadas no 2º ano do ensino fundamental ao fim dos quatro anos de mandato?
Queremos todas. Vou trabalhar para isso obsessivamente. Daqui a quatro anos a gente conversa. O prefeito quer que melhore a aprendizagem, que é o que nós queremos também e é o foco absoluto dessa gestão. Já defini que é alfabetização, aprendizagem e expansão do integral na educação infantil e no ciclo de alfabetização. Essas são as três prioridades para os próximos 4 anos.
Há quem diga que a nova secretária executiva, Maria Silvia Bacila, ex-secretária de Curitiba, foi trazida para São Paulo para ajudar a aumentar o Ideb paulistano.
Durante a pandemia, eu ela e outros secretários de capitais trocamos angústias e experiência em um grupo que criamos. Deu match entre eu e ela estava encerrando um ciclo de oito anos em Curitiba, mas é paulistana. Eu senti que era necessário ter um reforço no gabinete na área pedagógico, que ia ao encontro também do que o prefeito quer, da priorização do IDEB, Saeb, da garantia do direito de aprendizagem. Então, eu trouxe essa proposta, o prefeito achou ótimo e nomeou a secretária executiva pedagógica.
O senhor diz que a educação foi blindada da política. Mas o prefeito foi eleito com o apoio de Jair Bolsonaro (PL) e há uma bancada na Câmara que defende algumas pautas de cunho ideológico na educação, contra discussões de questões de gênero, educação sexual…
Quando digo que não entrou na negociação política, não entrou nem do secretário nem dos cargos abaixo. Temos autonomia para continuar com a nossa equipe, que montamos sem nenhuma influência política. E a minha posição é a seguinte: a minha ideologia é da aprendizagem. Extrema esquerda, extrema direita, se quiser discutir questões ideológicas, para lacrar na rede social, faz na Câmara Municipal. Estou aberto a todos, dialogar com todo mundo, receber. É para melhorar a aprendizagem? Vamos entrar e discutir. Passou do tempo de política partidária ter espaço. Não podemos ter escola que não tenha avaliação, por exemplo, por uma questão ideológica. Temos de criar consensos na educação a favor da aprendizagem. Não existe mais espaço para esse tipo de ideologia. Nem de um lado nem do outro.
Não acha que nada vai mudar com a nova configuração de alianças que elegeu Nunes?
Durante quatro anos, o prefeito deu autonomia para a secretaria tocar o trabalho. Em quatro anos nunca tive demanda desse tipo, nem do prefeito nem da Câmara. Não tem por que acreditar que agora vai ter. Essa é uma discussão de outros lugares, não de São Paulo. O que o prefeito quer é a aprendizagem, é resultado. É criança alfabetizada, é criança aprendendo, que só assim vamos romper o ciclo de pobreza. Não é fazendo discussão ideológica.
O senhor falou também de professores contra a avaliação. Isso é comum na rede municipal?
Sim, há 200 escolas que não têm nota do Saeb (avaliação nacional do MEC). Não chegaram no mínimo de alunos exigido. Frequentemente ouvimos: ‘avaliação é reducionista’. Mas se não avaliar, não sabe como estão seus estudantes. Aí como é que vai apoiar a aprendizagem deles? Podemos fazer uma discussão em relação a isso na academia, num congresso, mas não tem mais espaço para não garantir a aprendizagem dos estudantes. Temos uma rede com um professor com melhoria do piso (salarial), com um plano de carreira que tem amplitude de até três vezes o salário inicial. E estamos fazendo também o prêmio, o bônus, 50% será pela aprendizagem, para o professor. Se a unidade melhorou, todos os professores ganham.
Ricardo Nunes quer colégios do padrão Dante e São Luís na gestão de escolas municipais
Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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