O olhar de um professor de Stanford sobre a educação na era da inteligência artificial

Especialista em IA, Li Jiang diz que atual revolução tecnológica mostra que devemos parar de fazer o que as máquinas fazem para focar em habilidades humanas

Por Renata Cafardo - editada por Mariana Collini

22 de abril de 2024

Na era das revoluções tecnológicas, não adianta competir com softwares e robôs, mas entender quais as habilidades que tornam os humanos diferentes. Essa é uma das reflexões de Li Jiang, professor da Universidade de Stanford (EUA), responsável pela primeira disciplina da instituição juntando inteligência artificial, robótica e ensino.

Em entrevista ao Estadão, o pesquisador comentou algumas das suas visões sobre o uso e as potencialidades da tecnologia na educação para o presente e o futuro.

Veja cinco visões do especialista.

Deixe os cálculos para as máquinas
“Você precisa ter a habilidade de diferenciar a capacidade humana da capacidade da máquina. Basicamente, se você está incentivando seus filhos a fazerem muitos cálculos, isso não está certo. É como pedir pra ele calcular mais rápido e com mais precisão do que uma máquina. Não tem sentido.”

“O que aprendem na sala de aula geralmente não é muito inspirador, são conhecimentos antigos. Não estou dizendo que o conhecimento antigo não é bom. Eles são importantes, mas não devem ser a única coisa que aprendemos no ensino fundamental e médio.

Eles deveriam ter canais para se expor às novidades que ocorrem na pesquisa, nas universidades, nos laboratórios nos últimos anos. Os cientistas deveriam dedicar algum tempo para ensiná-las de alguma forma.”

Inovação é o que importa
“Nos velhos tempos, o conhecimento era a chave. Se você sabia algo e eu não, você tinha mais chances. Você poderia ir às bibliotecas, encontrar livros, memorizar conhecimentos. E, se alguém precisasse encontrar as informações, deveria ir à biblioteca, pegar todos esses livros. Hoje está tudo ao alcance de todos. Não competimos no conhecimento existente e em quão rápido você chega neles porque todos podem fazer isso.

É a inovação que importa, como usar o conhecimento e criar algo novo. É importante ensinar criação e inovação de modo mais humanizado, já que toda a IA ainda está presa ao anterior.”

Proibir celular em sala adianta?
“Claro que notamos que o tempo de atenção dos alunos é mais curto na universidade por causa das distrações causadas por mensagens de texto, eles olham para o telefone a cada minuto. É um problema. Mas em países asiáticos, os pais proíbem celulares e jogos de computador antes da faculdade. Depois que vão para a faculdade e os pais não estão por perto, eles começam a faltar às aulas. Eles só jogam no computador dia e noite, não conseguem mais se controlar, não têm a capacidade de lidar com isso, de dizer não.”

Perguntar ao ChatGPT?
“Acho que é a primeira vez na história humana que podemos realmente impulsionar uma aprendizagem orientada pelo interesse. Sou professor, mas meus filhos sempre vêm com perguntas que não consigo responder. Eu digo: vá perguntar para o ChatGPT. Ele provavelmente tem mais de 99% de chance de ter alguma resposta. Pelo menos para guiá-los e dizer ‘você quer isso, pesquise aqui’. Porque se você me fizer um monte de perguntas em uma área que não conheço, eu nem sei para que lado apontar.”

O olhar de um professor de Stanford sobre a educação na era da inteligência artificial

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