Universidade ainda é passaporte para o mercado de trabalho

Cursar uma faculdade é vantagem para quem procura o primeiro emprego

Por Laís Duarte

27 de outubro de 2024

Era na cozinha de casa que a aula do “professor” Igor acontecia, no início dos anos 2000. Brincar de escolinha era a diversão favorita do menino que nasceu na cidade de Atibaia, a 60 km de São Paulo. Igor Augusto Leite, hoje com 31 anos, foi criado só pela mãe, auxiliar de enfermagem, que via na educação o único caminho para a ascensão econômica e social da família.

Aos 15 anos, Igor perdeu a mãe e foi morar com a tia até se formar no ensino médio, que cursou em escola pública. Foi aprovado no curso de Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e se mudou para Assis, no interior de São Paulo. Sem ter como se manter na universidade, teve acesso à moradia estudantil. O diploma garantiu a ele a qualificação necessária para prestar concurso e se tornar professor em escolas municipais de São Paulo. Foi contratado também pelo Colégio São Domingos, instituição privada tradicional da zona oeste da capital paulista. “A universidade mudou minha vida.”

E Igor não está sozinho nessa. A proporção de trabalhadores contratados com educação superior no Brasil vem crescendo, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada pelo IBGE. Em 2023, de um total de 100,7 milhões de trabalhadores ocupados, 23,1% (23,2 milhões) tinham ensino superior completo. Trata-se do maior porcentual da série histórica.

Quem decide fazer faculdade sente os impactos positivos dessa escolha no bolso. Concluir um curso superior no Brasil garante ao trabalhador vantagem salarial e empregabilidade, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Quem tem uma graduação tem em média uma remuneração 144% maior do que quem só concluiu o ensino médio e ganha até 258% a mais do que os trabalhadores que não têm a educação básica completa.

Mas os ganhos podem ir além. “O mercado funciona com certificação. Sendo assim, o diploma tem peso, é uma senha de entrada no mundo do trabalho. Há ainda o capital cultural gerado pela vivência acadêmica. Aprende-se a negociar, a divergir. É uma formação de cidadania. O diploma é consequência”, diz Diego Moreira, pesquisador com doutorado em Educação, História Política e Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP).

Para Jaime Ribeiro, cofundador da Educa 21, empresa de saúde emocional para escolas, a universidade habilita o estudante a fazer uma mudança social. “O acesso à informação focada, de alto nível, você só consegue na universidade. Você tem contato com bons livros, estabelece conexões e possibilidades. Quando você escolhe um curso universitário, amplia relações e competências como a capacidade de cooperar, desenvolver projetos, habilidades que serão importantes para o futuro no mercado de trabalho.”

“O mercado funciona com certificação. Sendo assim, o diploma tem peso, é uma senha de entrada no mundo do trabalho. Há ainda o capital cultural gerado pela vivência acadêmica. Aprende-se a negociar, a divergir. É uma formação de cidadania. O diploma é consequência”
Diego Moreira, pesquisador com doutorado em Educação, História Política e Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP).

As chances de alcançar uma vaga também se ampliam: a conquista do ‘canudo’ é um empurrão extra para os jovens que estão em busca do primeiro emprego: 77% dos formados conseguem se inserir no mercado de trabalho em até um ano e meio após o fim do curso, de acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes).

Igor foi a primeira pessoa do seu núcleo familiar a conquistar o diploma que ele, hoje, deseja para todos os seus alunos. “Acho que todos têm que viver a experiência da universidade. E eu não digo que é pelo diploma, nem pela profissão final em que eles irão atuar, mas passar pela vivência universitária, que é transformadora.”

O CAMINHO DAS PEDRAS
No Brasil, o acesso à universidade se dá a partir do vestibular ou do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para quem tem nota do Enem mais recente, há mais oportunidades, como disputar vagas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o Programa Universidade para Todos (Prouni) e Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), programas do governo federal. Se o objetivo é ingressar em uma instituição pública, o Sisu oferta vagas em universidades e institutos federais e estaduais.

Para ingressar em instituições privadas de ensino superior, o Ministério da Educação (MEC) oferece bolsas de estudo, por meio do Prouni, e vagas para financiamento pelo Fies. A Lei de Cotas (lei nº 12.711/2012), sancionada em 2012, reserva 50% das matrículas por curso e turno nas 59 universidades federais e 38 institutos federais a alunos oriundos integralmente do ensino médio público. Cotas ainda são destinadas a pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência.

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