CARREIRA

Uma espiadinha no futuro

Estudiosos de futuro avaliam os sinais para mostrar como começar uma carreira próspera e no que a nova geração de universitários precisa investir

Por Wilson Dell'Isola

27 de outubro de 2023

Coloque-se na pele de um jovem que se prepara para ingressar na próxima geração de universitários. Vamos assumir que este estudante será diplomado em 2030 para, então, passar pela linha de largada do mercado de trabalho. O que espera por ele num futuro que parece próximo, mas que ao mesmo tempo se mostra tão volátil e recheado de incertezas?
As respostas, ainda que naturalmente cheias de “poréns”, indicam contornos de cenários que vão exigir atributos técnicos, mas também socioemocionais, indicam os especialistas em futuro.

Na visão de Carlos Piazza, especialista em estudos do futuro, formado pela Millenium Project, para entender a situação proposta é preciso visualizar antes o contexto no qual ela estará inserida. A começar, na sua avaliação, pelo descompasso oferecido pelo esgotamento de modelos econômicos aliado ao avanço da chamada 5ª Revolução Industrial, que é a convergência entre homem e máquina.

“Em 2030, o nível de incertezas vai aumentar brutalmente com um cenário caótico e dessincronizado. Como base está a sociedade do consumo, com produção e volume em massa, para consumidores em massa e que gera lixo em massa, num processo que nos leva a perder o nosso próprio hábitat”, explica o fundador da CPC Consultoria.

Aprendizagem contínua
Para Piazza, essa nova geração de profissionais será treinada para corrigir rotas. “Ela tenderá, como necessidade, a ser regenerativa. Diferente das anteriores, que foram treinadas para serem especialistas, no futuro, a polimatia [estudar e aprender sobre diferentes áreas] será algo requerido porque trata de toda a cadeia de impactos.”

Um polímata domina diversos campos do conhecimento. Necessita aprender muito além do que pode oferecer um curso regular da faculdade e segue ao encontro do conceito conhecido por “lifelong learning” (“aprendizado ao longo da vida”, na tradução livre). Ideia vista como necessária pela economista e pensadora de futuros Lília Porto: “O importante será a aprendizagem contínua, aprimorando habilidades que o profissional já tem e desenvolvendo outras, tanto técnicas como de soft skills, aquelas relacionadas à personalidade e ao comportamento humano. No fim do dia, as pessoas vão precisar se atualizar cada vez mais para que suas habilidades não sejam substituídas pelas máquinas e pelos algoritmos”. A frase soa implacável, mas encontra sinais nítidos na realidade, especialmente num momento em que a IA (Inteligência Artificial) mostra suas credenciais.

Parte indeclinável do processo, as instituições de ensino também têm o desafio de acompanhar a movimentação para entregar condições aos estudantes – e futuros profissionais. Na ESPM, por exemplo, Cristina Helena Pinto de Mello conta que a universidade, da qual é diretora da Área de Sucesso Docente e Discente, volta os currículos para tópicos nesta direção: “Incluímos uma linha de conteúdo a partir de cursos voltados para o desenvolvimento de soft skills, de letramento digital e de metacognição, que preparam o aluno para o lifelong learning”.

“Em 2030, o nível de incertezas vai aumentar brutalmente com um cenário caótico e dessincronizado. Como base está a sociedade do consumo, com produção e volume em massa, para consumidores em massa e que gera lixo em massa, num processo que nos leva a perder o nosso próprio hábitat”.
Carlos Piazza, fundador da CPC Consultoria.

E as profissões?
Apesar de a automação tornar muitas funções obsoletas, no curto prazo haverá mais vagas criadas do que eliminadas. É essa uma das conclusões do mais recente relatório anual “O Futuro do Trabalho”, do Fórum Econômico Mundial. Na esteira, porém, vem a expectativa de alta rotatividade por causa do aumento da digitalização.

O documento traz no top-5 as seguintes profissões para o futuro: especialista em IA e aprendizado de máquina; especialista em sustentabilidade; analista de inteligência de negócios; analista de segurança da informação; e engenheiro de fintech.

“O relatório indica as áreas que vão crescer, como tecnologia e economia verde. Então, é preciso estar atento e saber que a demanda vai orbitar nessas esferas”, pontua Lília Porto, que também é fundadora e CEO da plataforma O Futuro das Coisas.

“Nós temos que, sistematicamente, mudar para permanecer. É preciso ter muita plasticidade, capacidade de se moldar às novas realidades”, finaliza Carlos Piazza.

Foto: Adobe Stock

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