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Por Diego Brito
Um “cantinho misterioso” logo na entrada do Insper, na Vila Olímpia, em São Paulo, chamou a atenção do estudante de Engenharia Mecânica Pedro Célia, de 22 anos, desde o primeiro semestre da graduação. Quando ele tomou coragem e entrou na sala, um leque de oportunidades se abriu para o aluno, que, dali para frente, entrou de cabeça no mundo da inovação e do empreendedorismo.
O lugar em questão era o Hub de Inovação Paulo Cunha, espaço no Insper para os estudantes criarem e desenvolverem novas tecnologias e negócios. Foi o que aconteceu com Pedro. No penúltimo ano da faculdade, ele desenvolveu com um colega de curso uma solução inovadora na sua área de atuação: um processo de impressão 3D que se equipara às injetoras de grandes indústrias.
De acordo com Pedro, a “receita do bolo” que eles criaram para a impressão 3D tem como diferencial qualidade, flexibilidade e custo-benefício em comparação com as injetoras. O estudante afirma que a tecnologia de impressão 3D ainda “tem muito a oferecer” e, por isso, eles conseguiram criar “algo totalmente novo”.
“Teve um momento em que a gente parou e pensou: ‘opa, isso aqui é novo, ninguém nunca fez’. Imprimir peças na impressora 3D e depois finalizar com a usinagem trouxe uma qualidade absurda e acima do proporcionado pela injetora”, diz. Atualmente, o projeto criado com o colega de faculdade é utilizado na empresa Braskem.
Empolgado com os próximos passos, Pedro ressalta a importância de ter um espaço de inovação dentro da faculdade. “Inovação é uma das tendências dentro das empresas e, quando você tem contato com essa área logo de cara, você entende como são os processos e fica mais fácil desbravar o mundo de ideias.”
Encarando desafios
O investimento em inovação não é exclusividade do Insper e da Braskem. Cada vez mais a iniciativa privada e as instituições de ensino estão de olho nas novas tecnologias que criam soluções para as empresas e também trazem impactos positivos para a sociedade.
O levantamento “Práticas de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Tecnologia da Informação e Comunicação”, realizado pela Deloitte em parceria com o Instituto Eldorado, mostra que a quantidade de empresas brasileiras que investem em inovação aumentou 24% entre 2019 e 2022. A porcentagem de negócios que destinam verba para pesquisa na área passou de 45% para 69%.
A maioria das 102 empresas que participaram do último levantamento trabalha com inovação aberta – quando há parceria com universidades e outras instituições. Head do Hub de Inovação e professor do Insper, Rodrigo Amantea afirma que é fundamental o contato entre estudantes, universidades e empresas em um mundo cada vez mais dinâmico e inovador.
“As empresas trazem os desafios para as faculdades e os alunos fazem as pesquisas aplicadas para construir soluções. Há tanto uma ótica de resolver problemas, como uma ótica de aproveitar a oportunidade. As empresas precisam correr atrás de uma adaptação e isso demanda profissionais que consigam usar processos inovadores”, pontua Amantea.
Filipe Braga Ivo, 40 anos, é diretor comercial da empresa Pipefy, que desenvolve softwares para automação de fluxos de trabalho. Com mais de 12 anos de experiência na área de inovação e tecnologia, ele ressalta que o mercado de trabalho procura hoje pessoas que estão em constante processo de aprendizado por causa da transformação digital.
“Falar inglês era diferencial, hoje é básico. Trabalhar com inteligência artificial é um diferencial no momento, mas no futuro pode ser algo básico. Para se manter competitivo, é preciso aprender e se reinventar”, afirma o executivo. “O que há de mais inovador hoje ainda é automatizar operações com robotização e inteligência artificial. Para ter essas habilidades, só com um constante processo de aprendizagem.”
“As empresas trazem os desafios para as faculdades e os alunos fazem as pesquisas aplicadas para construir soluções. Há tanto uma ótica de resolver problemas, como uma ótica de aproveitar a oportunidade. As empresas precisam correr atrás de uma adaptação e isso demanda profissionais que consigam usar processos inovadores”
Rodrigo Amantea, Head do Hub de Inovação e professor do Insper
O jogo do ganha-ganha nas universidades públicas
Agências de inovação também ganham cada vez mais espaço em universidades públicas, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O último relatório da Inova, da Unicamp, revelou que as empresas-filhas da universidade bateram recorde de empregos gerados e faturamento.
As empresas-filhas são negócios criados por alunos, ex-alunos, professores, ex-professores, funcionários ou ex-funcionários da Unicamp, além das empresas que foram incubadas na instituição de ensino ou criadas a partir de uma tecnologia desenvolvida na universidade.
Segundo o relatório, as 1.156 empresas-filhas ativas geraram 47.156 postos de trabalho este ano – 2.532 novos empregos em comparação com 2022. Além disso, o faturamento anual chegou a R$ 25,9 bilhões em 2023, aumento de 32% em relação ao ano anterior.
Inovar é preciso
Hoje com 42 anos, Glauco Pereira entrou no mundo da inovação quando tinha apenas 23 anos e estudava Engenharia Elétrica na Unicamp. A empresa que ele fundou com mais cinco familiares – três deles também ex-alunos da universidade – é uma das empresas-filhas da instituição de ensino de Campinas.
“Os espaços de inovação dentro das universidades são grandes catalisadores de ideias. Uma boa universidade te dá as ferramentas necessárias para criar e inovar”, afirma Pereira ao relembrar dos primeiros passos que deu na agência de inovação da Unicamp.
A empresa de Glauco produz equipamentos cirúrgicos feitos sob medida para animais, que podem ter diversos tamanhos e formas. Algo que até parece simples, mas é bastante inovador, já que é comum as clínicas veterinárias utilizarem produtos fabricados para cirurgias em humanos.
Diretor executivo associado da Inova Unicamp, Renato Lopes afirma que a inovação é essencial neste momento de mudanças tecnológicas. “Se você parar de inovar, você se torna obsoleto. A inovação no mercado de trabalho e na formação pessoal se tornou uma questão de sobrevivência.”
Por outro lado, Lopes também ressalta o viés social do tema. “A maioria dos empreendedores que são bem-sucedidos não inova somente pelo dinheiro, mas também para mudar o mundo com suas criações.”
Foto: Adobe Stock
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