Artigo

A bolha da IA

Ascensão das ferramentas tecnológicas mexe com as escolhas profissionais dos jovens

Por Amanda Nonato

30 de outubro de 2025

As ferramentas tecnológicas atreladas à inteligência artificial vão mexer nos tabuleiros das profissões cada vez mais. Nada que treinamento e uma visão de mundo transversal e qualificada não deem conta, assim como ocorreu em outras transformações disruptivas da história da humanidade.

Ao mesmo tempo que a IA abre horizontes para funções inéditas, ela desperta o medo de substituição em áreas mais tradicionais. Para Alessandra Montini, professora da FIA Business School, o futuro do trabalho passa pelo desenvolvimento de competências que vão além da técnica em si. “Os profissionais que desejam um diferencial competitivo devem ter conhecimento em análise de dados e IA.”

Para quem se interessa por cursos de graduação que formam profissionais dessas áreas, uma saída para enfrentar a expansão da IA é investir em atualizações. “O aluno precisa investir em aprendizado, novos cursos e atualização de conhecimentos para manter o currículo competitivo”, orienta Roberto Uchôa, professor da Escola de Negócios da PUC-Rio.

Impacto desigual
As projeções sobre a bolha da IA no dia a dia das profissões mudam rapidamente em um cenário que ainda traz um alto grau de incertezas. Profissões que hoje podem se beneficiar com a expansão da IA podem acabar amanhã sendo impactadas também e vice-versa. “A demanda por profissionais em análise de dados, bancos de dados e estatística tem aumentado, mas parte desse trabalho será gradualmente substituída por soluções de IA”, afirma Uchôa.

Na linha de frente para encarar todas essas transformações, estão os jovens que vivem o complexo momento de escolha de uma carreira. Fazendo cursinho pré-vestibular para entrar em Medicina, Ayla Karine de Toledo, de 21 anos, enxerga um impacto desigual da IA entre áreas profissionais: “Vejo muita incerteza em carreiras como Design ou Publicidade, onde há medo de substituição. Na Medicina, a sensação é diferente: penso na IA como uma ferramenta para pesquisa, diagnóstico e democratização do conhecimento científico”.

Apesar de manter o otimismo em relação à área na qual está buscando uma carreira, Ayla também revela receios: “Ela [a IA] pode ampliar o acesso à saúde e melhorar muito a prática médica. Ao mesmo tempo, tenho medo de que se dê mais voz à IA do que ao profissional, que se preparou, que estudou”. A adaptação das universidades ao mundo em constante movimento também preocupa a estudante. “Na Medicina, seria essencial aprender como usar robôs, softwares de imagem ou até programação aplicada ao diagnóstico. Mas isso ainda não existe dentro da grade curricular”, afirma Ayla.

Vejo muita incerteza em carreiras como Design ou Publicidade, onde há medo de substituição. Na Medicina, a sensação é diferente: penso na IA como uma ferramenta para pesquisa, diagnóstico e democratização do conhecimento científico
Ayla Karine de Toledo, 21, estudante de cursinho pré-vestibular para Medicina

A adaptação das instituições de ensino é mesmo um dos pontos mais críticos desse desafio, que não é pequeno. A IA cresce em uma velocidade rápida e ignorar esse processo tecnológico é brigar com a realidade. Por isso, as instituições começaram a se movimentar. Na PUC-Rio, por exemplo, existem disciplinas que utilizam ferramentas de IA em cursos de Administração. “Estamos ensinando os alunos a usar a IA para aumentar produtividade e assertividade nos trabalhos”, explica Roberto Uchôa. Para o docente, uma das formas de acelerar o processo seria o aumento das parcerias entre universidades e empresas de tecnologia.

O dilema das instituições passa também por preparar os alunos para um cenário em constante transformação, ao mesmo tempo que a formação crítica é mantida, para que os futuros profissionais não sejam altamente dependentes da tecnologia.“O excesso de telas e a facilidade gerada pela IA podem criar alunos menos preparados. O pensamento crítico será cada vez mais uma obrigação das universidades”, defende Paulo Marcelo, gerente da Faculdade Sebrae, em São Paulo.

Onde encontrar graduações em IA

O Guia da Faculdade 2025 mapeou 68* graduações oferecidas este ano que se apresentam como cursos com ênfase em IA, um aumento de 36% em relação ao ano passado. Elas se dividem em duas áreas principais.

Confira quais são elas e algumas das principais faculdades onde são oferecidas.

Ciência de Dados e Inteligência Artificial
Área à qual o curso pertence: Sistemas de Informação ou Banco de Dados
Número de cursos no Guia: 32
Algumas faculdades que oferecem: Fecap, FEI, FGV, Ibmec, PUC-SP e PUCRS

Inteligência Artificial
Área à qual o curso pertence: Análise e Desenvolvimento de Sistemas
Número de cursos no Guia: 31
Algumas faculdades que oferecem: Cruzeiro do Sul, FMU, PUCPR, Unicesumar e Unicid

* Existem ainda outros cinco cursos com nomes como Engenharia de Produção com Ênfase em IA, Matemática com Ênfase em IA e Engenharia de Computação com Ênfase em IA

Foto: Adobe Stock

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