Artigo

Universidades globais

Rankings deixam de ser peças de marketing e viram instrumentos de governança

Por Carol Firmino

30 de outubro de 2025

Muito além da curiosidade, os principais rankings universitários internacionais divulgados todos os anos movimentam o ecossistema do Ensino Superior no mundo, influenciando a decisão de estudantes, direcionando estratégias das universidades e até mesmo pautando políticas públicas. As americanas Harvard, MIT e Stanford, e as britânicas Oxford e Cambridge costumam aparecer no topo, mas a expectativa não se resume a elas.

Os rankings deixaram de ser vistos apenas como peças de marketing e passaram a ser considerados como instrumentos de governança universitária, explica Adolfo Ignacio Calderón, professor da PUC-Campinas e diretor da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (ABAVE). De acordo com o especialista, muitas universidades incluem, hoje, metas ligadas a indicadores nacionais e internacionais em seus planos de desenvolvimento institucional, criando inclusive setores específicos para monitorar esse desempenho.

Apesar dessa influência crescente, os rankings apresentam limites, porque eles captam apenas parte da realidade universitária, informa Calderón. “Em geral, privilegiam critérios quantitativos e indicadores como número de publicações e citações. Isso tende a favorecer instituições com foco na pesquisa básica, em detrimento de dimensões igualmente relevantes para a missão universitária, como formação profissional, extensão, responsabilidade social, inovação e transferência de conhecimento para a sociedade.”

Apenas centrar esforços para subir no ranking, sem levar em conta o papel que as instituições têm na sociedade é um equívoco estratégico, segundo Sabine Righetti, jornalista, pesquisadora da Unicamp e cofundadora da Agência Bori – que incentiva o jornalismo científico no Brasil. “As instituições precisam atuar a partir da sua missão e em diálogo com o contexto em que estão inseridas. O importante é termos diversidade de perfis e avaliações variadas.”

Principais rankings
Inúmeros rankings internacionais chamam a atenção da comunidade acadêmica atualmente. Mas, de acordo com Calderón, são três os que mais se destacam. O chinês Ranking de Shanghai (ARWU), lançado em 2003, se baseia em critérios objetivos, como número de prêmios Nobel e publicações de alto impacto feitas pelos professores das universidades. O Times Higher Education (THE), da Inglaterra, surgiu um ano depois como resposta europeia, adicionando na metodologia de avaliação pesquisas de opinião com acadêmicos. Completa a lista o QS World University Rankings, também inglês, publicado desde 2010. Tabulação feita a partir de critérios que combinam reputação acadêmica com avaliações feitas por empregadores (empresas).

Além do trio principal, outros indicadores foram ganhando espaço nos últimos anos, como CWTS Leiden Ranking, o CWUR, o U-Multirank, o Scimago Institutions Rankings e o Webometrics, cada um com metodologias próprias. Mais recentemente surgiram rankings focados em sustentabilidade, como o THE Impact Rankings, o UI GreenMetric e o STARS.

No Brasil, existem indicadores oficiais produzidos no âmbito do Ministério da Educação. Para a avaliação das instituições de Ensino Superior, destaca-se o Índice Geral de Cursos (IGC). Mas dois indicadores independentes também atraem muita atenção das universidades e dos estudantes: este Guia da Faculdade e o Ranking Universitário Folha (RUF).

“Isso faz muito sentido em países europeus, que têm tradição de intercâmbio e aulas em inglês. No Brasil, o processo é mais complexo”
Sabine Righetti, jornalista, pesquisadora da Unicamp e co-fundadora da Agência Bori

As instituições que mais se destacam nas avaliações nacionais, como a USP e a Unicamp, também são as brasileiras mais bem colocadas nos rankings globais, mas ainda em posições modestas. A USP, por exemplo, aparece entre as 100 melhores do mundo em algumas áreas específicas, como engenharia e artes & humanidades.
Avançar mais do que isso, porém, exige superar o desafio da “internacionalização”, critério de peso nos rankings globais. No THE, por exemplo, 7,5% da nota de cada universidade é atribuída à presença de alunos e professores estrangeiros na instituição e a colaborações internacionais. “Isso faz muito sentido em países europeus, que têm tradição de intercâmbio e aulas em inglês. No Brasil, o processo é mais complexo”, analisa Sabine.

As melhores do mundo (e do Brasil)
Ranking THE¹ QS² Shangai³
Universidade de Oxford, Reino Unido Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), EUA Universidade de Harvard, EUA
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), EUA Colégio Imperial de Londres, Reino Unido Universidade de Stanford, EUA
Universidade de Harvard, EUA Universidade de Stanford, EUA Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), EUA
Universidade de Princeton, EUA Universidade de Oxford, Reino Unido Universidade de Cambridge, Reino Unido
Universidade de Cambridge, Reino Unido Universidade Harvard, EUA Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA
Melhores do Brasil THE¹ QS² Shangai³
USP USP USP
Unicamp Unicamp Unesp e Unicamp**
UFRJ, PUC-Rio e UFRGS* UFRJ

¹ Times Higher Education – World University Rankings 2025 / ² QS World University Rankings 2025 / ³ ShanghaiRanking’s Academic Ranking of World Universities 2025
* Empatadas na mesma faixa do ranking, das IES entre as posições 601 e 800 no mundo
** Empatadas na mesma faixa do ranking, das IES entre as posições 401 e 500 no mundo

Além dos EUA: calouros buscam novos destinos

A internacionalização tem um peso importante para o desempenho nos rankings globais. Como os Estados Unidos costumam ser um destino preferencial para muitos estudantes estrangeiros, as instituições de lá sempre levaram certa vantagem em relação a isso. Pelo menos até agora.

As universidades americanas atualmente enfrentam um cenário adverso, que inclui políticas migratórias cada vez mais rígidas e tensões com o novo governo do presidente Donald Trump, inclusive com ameaças a cortes nos financiamentos federais.

Isso pode fragilizar a internacionalização das instituições e abrir um vácuo que pode ser aproveitado por outros países. “Essa insegurança em relação ao visto e a percepção de receptividade reduzem o apelo dos EUA, mesmo se tratando de um dos destinos mais desejados”, afirma Gustavo Hoffmann, diretor da SKEMA Business School, escola global de negócios com foco em mobilidade internacional para os estudantes.

Canadá, Reino Unido, Alemanha, Holanda e Austrália buscam se fortalecer como alternativas para os jovens que buscam espaços mais receptivos a estrangeiros.
Hoffmann cita o exemplo de alguns estudantes que preferiram migrar do campus da SKEMA em Raleigh, na Carolina do Norte, para unidades em outros países: “Se as restrições se mantiverem ou se intensificarem, haverá uma redistribuição do fluxo de talentos para países que oferecem um ambiente mais estável e acolhedor.”

Foto: Adobe Stock

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