Intercâmbio

Brasileiros apostam no intercâmbio universitário

Modalidade é a segunda mais procurada entre aqueles que desejam estudar fora

Por Bianca Bibiano

21 de outubro de 2024

O objetivo de se destacar no mercado de trabalho leva um número cada vez maior de universitários brasileiros a investir em um intercâmbio. Esse interesse, segundo pesquisa da BMI/THE — empresa organizadora do Salão do Estudante —, tem crescido nos últimos cinco anos, especialmente entre mulheres e jovens. Entre os tipos de intercâmbio, a graduação “sanduíche”, que permite a realização de parte do curso em uma universidade internacional, é a segunda mais procurada, sendo a escolha de 35% dos entrevistados no levantamento (em 2019, esse número era de 24,33%). Países como Estados Unidos, Canadá, Portugal e Reino Unido se destacam entre os destinos preferidos.

A aluna de Engenharia Civil no Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) Letícia Cilira Xavier Pereira é um exemplo de quem apostou nessa experiência. Seu interesse pelo intercâmbio surgiu ainda antes de iniciar a faculdade, influenciando até na escolha da instituição de ensino. No segundo ano da graduação, Letícia passou um semestre na Universidade do Porto, em Portugal. “Foi uma das melhores escolhas que fiz. A adaptação foi desafiadora, mas com o tempo me acostumei com a rotina de estudos, que era bastante diferente e exigia mais autonomia.”

O intercâmbio também expandiu seu networking e abriu novas oportunidades no mercado. “Conheci empresas com atuação no Brasil e isso me abriu grandes oportunidades.” Ainda durante a experiência internacional, Letícia foi indicada por uma professora do IMT para uma vaga de estágio. A empresa fez a entrevista a distância com ela e optou por esperar pelo seu retorno. Assim, logo que voltou ao Brasil, ela já havia conquistado um estágio.

Além dos benefícios para o início de carreira, o olhar de Letícia para a graduação no Brasil também mudou. “Quando voltei, tive mais facilidade em acompanhar matérias, a exemplo de Estatística, que já havia estudado lá fora”, diz.

Para os interessados, há pré-requisitos exigidos pelas universidades, como bom desempenho acadêmico e proficiência mínima no idioma em que vão estudar no exterior. “Há uma preocupação de que o aluno tenha, de fato, as condições de acompanhar um curso acadêmico em outro idioma, com outra metodologia e longe de sua zona de conforto”, afirma Guilherme Ginjo, assessor de Assuntos Internacionais do IMT.

Crescimento pessoal e profissional
Para Andrea Tissenbaum, consultora em educação superior internacional e colunista do Estadão, o amadurecimento proporcionado pelo intercâmbio vem da convivência com cenários e pessoas distintas, que exige adaptação e desenvolve flexibilidade. Segundo ela, o contato com a diversidade é intenso e ensina o estudante a ouvir novas perspectivas sobre questões globais e a trabalhar com múltiplas opiniões. “Cada aluno internacional traz uma visão de mundo que parte da sua experiência como indivíduo e cidadão de seu país e essa troca não só é muito rica, mas fundamental nessa etapa da vida.”

Para o especialista em Recursos Humanos e CEO da EDC Group, Daniel Campos Neto, o intercâmbio universitário agrega valor e destaque no mercado de trabalho.

“Estudar fora demonstra uma capacidade de adaptação essencial, pois o estudante é desafiado a interagir em um ambiente diverso, desenvolvendo habilidades interpessoais cada vez mais procuradas”
Daniel Campos Neto, especialista em Recursos Humanos e CEO da EDC Group

Além disso, aprimorar o domínio de um idioma estrangeiro é uma competência muito valorizada, especialmente em empresas globais ou com relações internacionais.

Outro benefício do intercâmbio é que ele revela traços de independência e proatividade: “Estar em um país estrangeiro, longe da rede de apoio familiar e de amigos, exige que o universitário desenvolva habilidades de resolução de problemas e tome iniciativas”, salienta Neto. No entanto, ele alerta que a experiência no exterior, embora enriqueça o perfil do candidato, não garante uma remuneração mais alta, já que a base salarial depende de variados fatores.

Ainda assim, saber comunicar as habilidades desenvolvidas no intercâmbio, como resolução de problemas em contextos diversos, trabalho em equipe multicultural e fluência em idiomas, pode ser um diferencial nas entrevistas. “É importante destacar não apenas o fato de ter estudado fora, mas também as habilidades específicas adquiridas na experiência”, conclui.

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