Projeção mostra que o Brasil poderia gerar US$ 17 bilhões em negócios baseados na natureza até o fim desta década
Projeção mostra que o Brasil poderia gerar US$ 17 bilhões em negócios baseados na natureza até o fim desta década
Por Maurício Oliveira
O mundo tem diante de si uma grande emergência, que é a questão climática, crucial para o futuro do planeta. Conter o aquecimento global exige esforço coordenado de todos os governos e ações objetivas das empresas. O problema é que vão surgindo situações e circunstâncias que parecem ainda mais urgentes, como a pandemia e, agora, as turbulências geopolíticas causadas pelas guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Há também as questões econômicas que contêm os investimentos, como a inflação e o aumento das taxas de juro registradas nos últimos dois anos. É um cenário que causa dificuldades para todos os tipos de mercado, incluindo os novos empreendimentos de tecnologia climática.
Por aqui, no Brasil, também seguimos numa espécie de compasso de espera pelo salto nos investimentos em tecnologias ligadas à sustentabilidade. De acordo com projeção do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), o País poderia gerar US$ 17 bilhões em negócios baseados na natureza até o fim desta década. Por enquanto, contudo, os projetos socioeconômicos nos principais biomas brasileiros seguem como esforços isolados e com baixa escala, tanto que as exportações brasileiras de produtos oriundos da floresta não chegam a 0,2% do total das vendas feitas pelo País.
A economista Elbia Gannoum, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), lamenta que os resultados atuais da economia brasileira tenham ainda pouquíssima influência da transição energética, tema em que o País apresenta todas as condições para se tornar protagonista global, a começar pelos atributos naturais privilegiados. “Enquanto isso, Estados Unidos e Europa já começam a colher os resultados das políticas de investimentos voltados à transição energética que desenvolveram”, ela compara.
“Infelizmente, o Brasil perdeu quatro anos, durante o governo Bolsonaro, em que poderia ter encaminhado a discussão da descarbonização de forma mais consistente”, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Ele lembra que, quando se fala no desenvolvimento de negócios relacionados à sustentabilidade, é fundamental que o País defina prioridades. “Não adianta querer abraçar tudo ao mesmo tempo, sob risco de dispersar os esforços.”
A expectativa é de que o esperado impulso ocorra na sequência do governo Lula, que anunciou um plano de “transformação ecológica” para o Brasil. “Esse plano pode trazer ao País uma retomada econômica de fato sustentada ao longo do tempo, diferente dos voos de galinha que temos visto”, avalia a executiva da ABEEólica. Ela considera que um dos grandes desafios no Brasil é convencer empreendedores, corporações e investidores a lidar com a transição energética não como obrigação, mas como fonte em potencial de excelentes negócios.
“Enquanto isso, Estados Unidos e Europa já começam a colher os resultados das políticas de investimentos voltados à transição energética que desenvolveram.”
Elbia Gannoum, economista e presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica.
Atraso mundial
Levantamento da PwC publicado em outubro revelou que os investimentos em startups, fontes essenciais de inovação, caíram pelo segundo ano consecutivo ao redor do planeta – desta vez a queda foi abissal (Leia mais), chegando a 50,2% em relação ao período anterior de 12 meses. O volume total de investimentos não passou de US$ 638 bilhões, ante quase US$ 1,3 bilhão apurado anteriormente. No que diz respeito especificamente ao capital de mercado privado e de financiamento de subsídios em startups de tecnologia climática, a queda foi um pouco menor, 40,5%. “Mesmo assim, suficiente para levar o nível de financiamento nesse segmento de volta ao padrão de cinco anos atrás”, observou o estudo.
O declínio dos investimentos contribui para tornar a taxa global de descarbonização ainda mais lenta, o que indica problemas cada vez mais graves para o futuro da humanidade. Para alcançar a meta de limitar o aquecimento a 1,5ºC acima da média pré-industrial, o mundo precisaria se descarbonizar sete vezes mais rápido do que a taxa atual, conclui o estudo da PwC. Como contrapontos a essa péssima notícia, a análise indica também algumas tendências positivas. Uma delas é que a participação da tecnologia climática no capital do mercado privado e no investimento em subsídios aumentou, algo que vem ocorrendo de forma consistente ao longo da última década – saltou de 1,14% no terceiro trimestre de 2013 para 11,41% no terceiro trimestre de 2023. Assim, quando os investimentos como um todo voltarem a subir, acredita-se que o segmento alcançará um novo patamar.
Relevância crescente
Participação das startups de tecnologia climática no total de investimentos globais em startups nos últimos dois anos
Período | Participação (%) |
4º tri/2021 | 7,73 |
1º tri/2022 | 8,26 |
2º tri/2022 | 9,67 |
3º tri/2022 | 8,77 |
4º tri/2022 | 10,35 |
1º tri/2023 | 9,68 |
2º tri/2023 | 9,27 |
3º tri/2023 | 11,41 |
Fonte: State of Climate Tech 2023, PwC
Imagem: Adobe Stock
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