Empresas que se destacaram revelaram alta resiliência

Ajuste vigoroso de custos propiciou maiores margens de lucro

Capacidade de resiliência das empresas. É assim que Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, descreve o comportamento do setor produtivo nacional em 2020. Na verdade, foi um ano que se estendeu por 18 meses ou até mais para muitos, devido à necessária extensão das medidas de distanciamento social motivada pela pandemia. Comerciantes viram os consumidores sumirem das ruas, enquanto os serviços se reinventaram para atender à demanda cada vez mais digital. E as fábricas passaram por uma dura adaptação.

A economia brasileira já vinha em ritmo lento em 2019, com crescimento do PIB pouco superior a 1%, quando começaram a surgir notícias de que um novo vírus causador de síndrome respiratória aguda poderia se espalhar pelos continentes. O primeiro dos mais de 22 milhões de casos foi confirmado no Brasil no final de fevereiro e a primeira das mais de 600 mil mortes ocorreu no início de março.

Embora essa nova realidade tenha gerado impactos seguidos nas mais diversas atividades ao longo dos meses, o “ficar em casa” não foi tão prejudicial para as 1,5 mil maiores empresas do Brasil. Segundo Agostini, a medida do Ebitda (que observa o lucro antes de juros e impostos) cresceu 16% em 2020 ante 2019. Mesmo sem pandemia, o indicador havia crescido apenas 1% entre 2018 e 2019.

Ocorreu o mesmo para a margem operacional, que avançou 11,1% ante 8,8% na mesma comparação. “As empresas fizeram um ajuste de custo vigoroso e isso propiciou ganho de margem”, explica o economista.

Ainda usando as medianas dos dois períodos, nota-se que os ativos totais cresceram 11,4% no ano da crise sanitária, menos que os 15,2% do ano anterior, mas a evolução da rentabilidade foi maior em 2020: 15,5% ante 12,9%. Agostini explica que as empresas conseguiram não só fazer essa gestão efetiva de custos, mas ainda geraram mais retorno para seus acionistas. Outro fator positivo é que o endividamento sobre o patrimônio líquido cresceu 152%, pouco acima dos 149,5% do ano anterior. Ou seja, a dívida cresceu pouco num ano em que a receita avançou.

ArcelorMittal

Os dados de empresas de áreas diferentes mostram esse desempenho. A companhia siderúrgica e de mineração ArcelorMittal, destaque na categoria Metalurgia e Siderurgia, fechou 2020 com receita líquida de R$ 33 bilhões e lucro líquido de R$ 1 bilhão, resultados maiores que os de 2019.

Segundo a empresa, isso foi possível graças a uma combinação de medidas tomadas para preservação do caixa, redução de custos, apoio às cadeias de clientes e fornecedores, otimização de processos e aumento de produtividade. Em abril, considerado o mês mais agudo da crise, se viu obrigada a ajustar sua produção à queda da demanda por aço e reduziu suas operações, desligando o alto-forno 3, da unidade de Tubarão (ES), que fornece aços planos.

Também foram feitas paradas temporárias em unidades de aços longos. Com a recuperação do mercado, entre julho e agosto a operação plena foi retomada, incluindo a do alto-forno 2, desligado desde 2019.

Tramontina

A Tramontina, primeira colocada na categoria Bens de Consumo, recebeu o inesperado benefício de as pessoas ficarem mais tempo em suas casas porque precisarem renovar alguns itens como utensílios e equipamentos para cozinha, móveis, ferramentas e materiais elétricos.

Segundo Clovis Tramontina, presidente do conselho de administração da empresa, o período permitiu até lançamentos da marca em diferentes segmentos. “Um exemplo foi o lançamento da lâmpada SmartLED, que permite controlar a iluminação do ambiente, acender, apagar, variar a intensidade e sincronizar a variação da cor conforme a melodia da música”, explica. Mais recentemente, foi lançado o GURU, cooktop conectado que ajuda a cozinhar, o primeiro da marca a utilizar a Internet das Coisas (IoT).

É nessa capacidade de reinvenção do setor que Agostini, da Austin, deposita as esperanças para o ranking de 2022. O avanço da vacinação estimulando a recuperação de economias dos principais parceiros brasileiros é um dos fatores na mesa. O mesmo vale para o comércio e o setor de serviços domésticos.