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Prosus, detentora do iFood, compra rival para criar gigante de entregas global

Prosus, detentora do iFood, compra rival para criar gigante de entregas global

Nova companhia se torna a quarta maior de delivery no mundo; é a segunda aquisição relevante de Fabrício Bloisi no comando da Prosus: anteriormente, a empresa comprou a Decolar

 

Por Gabriel Baldocchi (Broadcast) e Cristiane Barbieri (Broadcast) – editada por Mariana Collini

Um brasileiro esteve à frente de um dos maiores negócios realizados este ano em todo o mundo, a compra da Just Eat Takeaway.com pela Prosus, a dona do iFood, por US$ 4,3 bilhões. É Fabrício Bloisi, diretor-presidente da Prosus, uma gigante da tecnologia especializada no uso de dados e inteligência artificial que atende 2 bilhões de clientes em todo o mundo.

À frente do iFood por mais de uma década, ele assumiu a presidência da controladora há quase um ano e já fez duas aquisições relevantes: a compra da Decolar, no fim do ano passado, por US$ 1,7 bilhão, e a da Just Eat Takeaway agora. Ao colocar a Decolar para dentro de casa, a Prosus entrou no segmento de turismo online. Com a Just Eat Takeaway, o grupo cria a quarta maior empresa de delivery do mundo, atrás apenas da chinesa Meituan e das norte-americanas DoorDash e Uber Eats, que saiu do Brasil.

Os recursos para a aquisição vêm da venda de uma fatia que a Prosus tinha em empresa de tecnologia especializada em mídia, a Tencent. Com sede em Amsterdã, a Just Eat Takaway viu suas ações caírem rapidamente após o fim do lockdown, o que permitiu a aquisição agora, com um prêmio de 22% em relação ao valor negociado nos últimos três meses. A empresa terá o capital fechado na Bolsa de valores.

A compra tem contornos mundiais e um toque brasileiro. Com a Just Eat Takeway, a Prosus quer dominar o negócio de entregas de alimentos na Europa e vê potencial para prover o serviço à metade da população mundial. A inspiração virá do Brasil. A ideia é replicar os avanços obtidos pelo iFood no mercado local, em especial por meio do uso de aplicações de inteligência artificial para melhorar a operação e a experiência no negócio.

“A bem-sucedida trajetória de crescimento do iFood no Brasil é um guia prático para transformar o avanço da Just Eat Takeway por meio da tecnologia, de produtos, serviços e de qualidade”, afirmou a empresa em comunicado.

As partes já se conhecem muito bem. A Just Eat Takeway era até 2022 sócia da Prosus no iFood. Naquele ano, vendeu a sua participação de 33,3% para o parceiro por € 1,5 bilhão, num negócio que avaliou o iFood, na época, em € 5,4 bilhões (R$ 32 bi em valores atuais).

O iFood sempre foi exaltado pela Just Eat como um modelo a ser seguido mundialmente. Mas a empresa foi forçada a vender a operação diante das pressões por resultado. O setor de entregas e alimentos explodiu na pandemia, mas ficou em xeque no período subsequente por dúvidas sobre a sustentabilidade do modelo. A Just Eat mesmo acabou vendendo também uma de suas maiores operações, a GrubHub, nos EUA, por uma fração do valor pago anos antes.

Qual é o segredo do iFood
Impulsionada pela onda positiva das entregas na pandemia, o iFood saiu de 20 milhões de pedidos em 2019 para 103 milhões em 2024. Fechou o ano passado com uma receita de US$ 1,2 bilhão (R$ 7 bilhões), sendo hoje uma empresa rentável, coisa incomum no setor há alguns anos.

Sob o comando de Bloisi, apostou pesado em inteligência artificial, com a compra de ao menos quatro empresas. Tem hoje mais 200 pessoas na área e 150 aplicações rodando na plataforma de entregas, desde prevenção a fraudes a predição de pedidos, modelos que devem ser replicados na companhia adquirida.

Bloisi segue a cartilha de empreendedor de tecnologia de carteirinha. Abriu a primeira empresa com duas pessoas numa sala, após se formar na Unicamp, em Campinas. Errou diversas vezes até acertar na compra da pequena empresa de entregas, então com 15 pessoas, que transformou no maior grupo de delivery do País, expulsando concorrentes de peso, como o Uber Eats do mercado local.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast há pouco mais de um ano, reforçou a importância de fazer novas apostas, sem medo de errar. Para ele, o iFood é um grande barco, com diversas frentes de apostas, os chamados jet-skis . “Estamos sempre testando jet-skis, como se fossem 15 startups dentro do iFood. É assim que a gente erra. A gente faz para errar. E aprender, aprender, aprender.”

O sucesso com o iFood o alçou no ano passado ao comando de um dos seus principais apoiadores. O Prosus foi um dos primeiros investidores a apostar no negócio brasileiro, com um aporte US$ 2 milhões, feito por meio da Movile, holding dona do delivery, em 2013. Na época, a empresa cobria apenas 800 restaurantes — hoje são mais de 300 mil.

A Prosus, controlada pelo grupo sul-africano Naspers, é um veículo de investimentos em negócios empreendedores, com participações por todo mundo. Na área de delivery de comida, tem participações societárias na Meituan, da China, e no Delivery Hero, na Alemanha. Na América Latina, tem ainda fatias na OLX e na Kovi.

Dona do iFood, sob comando de brasileiro, compra rival para criar gigante de entregas global

Foto: Felipe Rau/Estadão