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Natura faz caminho oposto ao movimento de internacionalização de Arezzo e Soma e estuda dividir Avon
Por Cristiane Barbieri
Depois de Arezzo e Soma finalmente anunciarem sua união, a Natura veio a público dizer que estuda dividir a Avon em duas companhias independentes – uma na América Latina e outra com as operações na África, Ásia e Europa. Com isso, a fabricante de cosméticos estaria se preparando para vender os negócios mais distantes do Brasil – e abrindo mão de sua última grande aquisição internacional. Procurada, Natura não se pronunciou.
Num País em que se contam nos dedos das mãos o número de empresas verdadeiramente internacionais, o movimento simultâneo foi quase simbólico – e levantou dúvidas sobre a efetividade do plano das empresas de moda, que têm na internacionalização um dos objetivos da fusão.
Especialistas da área afirmam que um dos grandes problemas na expansão das companhias brasileiras para outros países é a falta de acesso a recursos baratos. “Além do grande mercado interno do País, que é atraente por si só, uma expansão internacional contundente acontece apenas quando se tem acesso a capital de maneira competitiva”, diz Daniel Wainstein, sócio da Seneca Everecore, uma das maiores empresas de fusões e aquisições do País.
“Quando se inclui nessa conta o câmbio, muitas vezes desfavorável às corporações brasileiras, fica muito difícil ganhar musculatura para competir internacionalmente.”
A LVMH, de Bernard Arnault, o homem mais rico do mundo é um símbolo bem sucedido do crescimento a partir de aquisições internacionais. Hoje, a LVMH abriga 75 marcas de luxo e vale mais de € 400 bilhões (mais de R$ 2 trilhões) em bolsa. Segundo especialistas da área, o movimento dele é clássico: compra marcas conhecidas e dá uma roupagem nova a quem já tem posicionamento tradicional no mercado.
Foi o que o 3G fez com ABInbev. A empresa até tentou fazer da Brahma uma marca internacional, mas quando percebeu que Stella Artois era uma marca consolidada, fortaleceu o produto com bom posicionamento – e teve sucesso para conquistar clientes.
No caso da Natura, segundo analistas, a estratégia de comprar marcas internacionais renomadas foi correta. Porém, o problema foi o preço pago por Avon e The Body Shop, num período em que já estavam em declínio. Construir reputação de marca brasileira do zero lá fora é quase impossível, com a honrosa exceção de Havaianas.
Internamente, a leitura é que, dadas as condições que a Natura enfrentou, foi retirado o melhor de cada uma das empresas. A Aesop, por exemplo, foi vendida por 25 vezes o valor da compra para a L’Oreal.
Já a The Body Shop, por ser uma grande cadeia de varejo, não teria se recuperado por conta da pandemia. A Natura pagou R$ 3,6 bilhões pelo negócio, vendido em novembro para a gestora alemã Aurelius Group por até R$ 1,25 bilhão. Foi um peso a menos no balanço. Nesta semana, a rede entrou em recuperação judicial no Reino Unido.
A Avon América Latina, por sua vez, que vem sendo integrada à estrutura existente da Natura nos países da região com a manutenção de marca e produtos, tem tudo para continuar a crescer, dizem fontes. Porém, a Avon Internacional sem sinergias operacionais com a Natura, não oferece à empresa as mesmas oportunidades.
A leitura geral, porém, é de que a iniciativa de separação das operações destravará valor para a Natura, que se livrará do peso e da complexidade da Avon Internacional, presente em países espalhados, que crescem pouco e têm lucratividade limitada. Segundo os analistas, o movimento traz a perspectiva de que seus indicadores financeiros voltem a patamares pré-aquisições.
Na avaliação da analista de varejo da Empiricus Research, Larissa Quaresma, o anúncio de separação das duas companhias deve ser visto como “um aviso” da holding aos acionistas sobre as diferenças entre os dois negócios em termos de qualidade de execução e valor de marca. “Separar as duas entidades, sendo que a Natura manterá a operação Latam da Avon, pode destravar valor para os acionistas”, diz Larissa.
Ainda segundo a analista, a separação pode significar, mais do que representar uma possível venda da subsidiária, um movimento de reduzir os danos do mau desempenho da companhia no balanço da Natura dentro da América Latina.
O sócio-diretor da Gouvêa Consulting, Jean Paul Rebetez, afirma que os movimentos das duas empresas visam valorizar mais os negócios, cada uma à sua maneira. “O movimento desamarra a Avon da Natura internacional, que está sofrendo bastante. A curtíssimo prazo, a desvinculação vai gerar valor para a Natura, que está relativamente bem nas finanças. A simplificação dos negócios pode aumentar o seu valor em relação à margem EBITDA (lucro). No caso de Soma e Arezzo, juntas, elas conseguem ser mais fortes e ter maior ascendência no mercado. Apesar das estratégias diferentes, elas são similares”, diz.
Poder de barganha
Soma e Arezzo, por sua vez, dobram de tamanho – e em poder de barganha, negociações e alguns ganhos de escala – ao se juntarem, mas a expectativa é que os passos na internacionalização sejam dados de maneira paulatina. Em 2007, por exemplo, a Arezzo anunciou planos de abrir 300 lojas na China até 2016, em parceria com o gigante chinês Prime Sucess. A ideia era dobrar o faturamento da companhia com a entrada na Ásia. Mas uma combinação de preços altos dos sapatos, câmbio e diferenças culturais – até mesmo os pés menores orientais – fizeram com que a empresa tivesse de abortar o plano.
Do lado da Arezzo, marcas como Schutz e Alexandre Birmann têm um braço internacional que respondeu por 10% do faturamento da empresa no terceiro trimestre. Já no Soma, a grande aposta é a Farm, que foi responsável por 8,8% da receita no mesmo período. A nova empresa, que está prevista para começar a funcionar somente no ano que vem, também pensa em trazer novas marcas ao Brasil./COLABORARAM WESLEY GONSALVES E LUCAS AGRELA
Foto: Natura/Divulgação
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