Realização:

Estadão

Produção:

Blue Studio

O papel das escolas de negócios na preparação de executivos t-shaped

Por Alessandra Costenaro Maciel

Para que os profissionais se diferenciem no mercado de trabalho, cada vez mais competitivo e desafiador, o professor de Psicologia Organizacional David Guest (1991), da King’s College em Londres, propôs um modelo cunhado por ele como T-shaped, onde o eixo vertical corresponde a um conhecimento técnico profundo em uma área específica, e o eixo horizontal indica aptidões generalistas, como entendimento do setor, do mercado e da empresa, além de um pull de soft skills. Abre parênteses! Na verdade, as soft skills não têm nada de soft, porque mudar comportamento não é nem nunca foi fácil. Arrisco a dizer que é mais hard do que habilidades técnicas (hard skills). Por isso, gosto mais de chamá-las de real skills, people skills ou emotional skills. Fecha parênteses!

Trazendo ainda uma informação adicional de mercado para corroborar a necessidade de profissionais T-shaped, recentemente a Hays publicou dois relatórios que trazem informações de tendências salariais para o Brasil e a América Latina (2019 e 2020), onde os dados revelam que os empregadores, ao contratar um candidato externo, valorizam 60% as habilidades comportamentais ante 37% de experiência e trabalho especializado. Sendo assim, questiona-se: qual o papel das escolas de negócios na preparação e/ou aprimoramento dos executivos T-shaped?

Historicamente as escolas de negócios brasileiras têm se preocupado em oferecer matrizes curriculares que abordem robustas disciplinas técnicas, as tais hard skills, que compõem o eixo vertical do modelo de carreira em T. Porém, com as mudanças e tendências de um futuro cada vez mais imprevisível e incerto, mesmo antes da covid-19, nos deparamos com acrônimos que representam tentativas para explicar esse novo contexto de mundo, tais como: Vuca, Tuna, Dela, Bani e Vuca Prime.

Então, se esse novo mundo é uma realidade, como lidar com ele? Como os executivos podem tomar decisões assertivas sem ter a visão do todo ou conseguir analisar todas as variáveis e implicações de riscos incorridos diante de uma determinada decisão? Pensando nisso, o Fórum Econômico Mundial (WEF, 2018) descreve algumas chamadas skills emergentes para o profissional do futuro. Dentre elas, destaco as mais importantes: resolução de problemas complexos, pensamento analítico, crítico e inovador, gestão de pessoas e inteligência emocional. Por sua vez, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE (2019) reforça a necessidade de o profissional ter em seu perfil as tais people skills e acrescenta o lifelong learning como pré-requisitos imprescindíveis para o mundo do trabalho.

“As escolas de negócios do Brasil estão se reinventando e aderindo na composição de suas matrizes curriculares um mix de hard e people skills”

Diante da necessidade do mercado de trabalho e dos profissionais que nele atuam e constroem suas carreiras, as escolas de negócios do Brasil estão se reinventando e aderindo na composição de suas matrizes curriculares um mix de hard e people skills, visando desenvolver e/ou aprimorar o perfil do executivo T-shaped. Podemos citar exemplos de escolas que, para desenvolver a skill de pensamento analítico e crítico, promovem imersão internacional e, por consequência, acabam também trabalhando a skill de adaptabilidade e resiliência no aluno, visto que o mesmo está vivendo a situação em outro país, cuja língua e cultura são diferentes do seu hábitat. Há escolas que para desenvolver a maturidade em executivos juniores fornecem mentores em liderança ao longo do curso. E há ainda exemplos de escolas que na composição de seus MBAs possuem assessment Disc visando diagnosticar o perfil e identificar pontos de gargalos para posteriormente fornecer sessões de coaching executivo com o objetivo de aprimorar o eixo horizontal no executivo (modelo T-shaped).

Para acompanhar essas tendências de mercado, a Anamba (www.anamba.com.br) no corrente ano de 2021 renovou seus critérios de acreditação de qualidade para que os cursos de MBA acreditados com o seu selo de qualidade incluam em suas matrizes curriculares também as people skills. Uma notícia importante para aqueles em busca de um curso de MBA atualizado e de qualidade superior.

Alessandra Costenaro Maciel é diretora executiva da Anamba e coordenadora de pós-graduação na escola de negócios Imed