Especialização
Qualidade de vida está entre as prioridades dos jovens profissionais que procuram especialização
Qualidade de vida no EAD: a analista de marketing Isabella Costa assistiu às aulas em casa e depois foi casar
Cursos online conquistam a geração Z, que busca acomodar MBA e pós-graduação na agenda
Por Tatiana Bertoni
22 nov 2024
O gosto pelos estudos sempre fez parte da vida da jornalista Carla Gomes de Sá, de 46 anos. No entanto, ela somente conseguiu retornar às aulas para uma especialização 14 anos após a graduação, quando assumiu a direção de um núcleo da empresa onde trabalhava. Carla notou que uma especialização a ajudaria na nova função e tinha uma agenda em que esse compromisso se encaixaria – o MBA escolhido foi o de Gestão de Projetos do Ibmec, no Rio de Janeiro.
Durante dois anos, conciliou o trabalho com o curso presencial, com aulas duas vezes por semana. “Morava e trabalhava no mesmo bairro, mas, mesmo assim, havia dias em que saía muito cansada. O que me motivava a não faltar eram os conteúdos”, recorda. Carla concluiu o MBA em 2016, quando estava grávida de sete meses. Apesar do sacrifício, afirma que faria tudo de novo. “O curso foi excelente e o networking também foi um ponto importante. Fiz bons amigos nesse período e os contatos continuam até hoje.”
Na época em que a Carla decidiu voltar aos estudos, a realidade dos MBAs e das pós-graduações era diferente e as opções online eram poucas, quase inexistentes. Atualmente, as coisas mudaram consideravelmente. Na Fundação Dom Cabral (FDC), instituição de ensino especializada nesse tipo de formação, por exemplo, além dos programas presenciais, começaram a ser oferecidos cursos remotos “ao vivo”, ou seja, os professores ministram aulas e aplicam atividades em tempo real, com alunos acompanhando os conteúdos a distância. “Temos ainda programas online assíncronos, com aulas gravadas e os programas ‘blended’ ou híbridos, combinando aulas presenciais com conteúdos digitais e atividades online, proporcionando maior flexibilidade e acessibilidade”, afirma Bruno Fernandes, diretor da Especialização da FDC. Segundo ele, o objetivo é proporcionar diversos formatos para atender às expectativas e necessidades de cada aluno, que têm mudado fortemente nos últimos anos.
Brenda Helen Alcântara da Silva, 27, iniciou, há seis meses, um MBA a distância em Gestão de Negócios pela USP/Esalq. O fato de o curso ser online foi determinante em sua escolha – permitiu que ela escolhesse uma instituição de renome, algo que não existe perto de onde mora. “Não encontrei um curso presencial como esse na minha região. E ter que me deslocar muitos quilômetros seria complicado”, conta. “Acredito que a qualidade de vida vem em primeiro lugar, até mesmo acima do salário. O lado positivo desse MBA online é que posso ficar em casa, mais descansada, sem precisar dirigir e enfrentar o trânsito”, diz. Seu objetivo ao voltar à sala de aula é se gabaritar para conquistar uma oportunidade melhor na empresa em que trabalha como secretária executiva, mas, para isso, ela não abre mão da qualidade de vida.
“É preciso ter tempo para o exercício, uma boa alimentação, qualidade do sono, bem-estar emocional, mental e momentos de descanso. A escolha por cursos online, muitas vezes, se deve à flexibilidade que esses cursos oferecem”
Danilca Galdini, diretora de Insights da Cia de Talentos e responsável pelo estudo
Brenda não está sozinha. Assim como ela, jovens da geração Z têm colocado o bem-estar à frente da vida profissional, mostrou a pesquisa Carreira dos Sonhos, realizada pela Cia de Talentos, consultoria de educação para carreira e de seleção de talentos. “É preciso ter tempo para o exercício, uma boa alimentação, qualidade do sono, bem-estar emocional, mental e momentos de descanso. A escolha por cursos online, muitas vezes, se deve à flexibilidade que esses cursos oferecem”, afirma Danilca Galdini, diretora de Insights da Cia de Talentos e responsável pelo estudo.
A pesquisa ouviu, ainda, profissionais de alta liderança – aqueles com mais experiência e uma carreira consolidada – e revelou que, embora eles também priorizem a qualidade de vida, há uma pequena diferença em relação aos novatos. Enquanto 38% dos jovens mencionam a qualidade de vida como prioridade, entre os profissionais mais velhos, essa porcentagem é um pouco menor, 34%.
Segundo Danilca, o profissional de alta liderança tem buscado qualidade de vida nesse momento da carreira, um privilégio possível devido à posição que ocupa. “E não se trata de trabalhar menos, mas de ter a flexibilidade de remanejar ou remarcar uma reunião. O profissional de alta liderança tem mais autonomia”, explica. Já os jovens, que não têm esse poder, testam essa flexibilidade em outros segmentos, como na Educação. E os cursos online surgem como uma dessas possibilidades de abrir espaço em sua agenda. Uma outra vantagem na modalidade é ter acesso a instituições de diferentes regiões do Brasil e até do exterior, algo também valorizado por eles. “O público mais jovem busca cada vez mais customização e personalização, e o curso online oferece justamente essa possibilidade.”
A analista de marketing Isabella Costa Pereira Grizani, de 26 anos, é um exemplo disso. A pós-graduação que ela procurava só estava disponível em uma instituição carioca, o Núcleo de Estratégias e Políticas Editoriais (Nespe), que oferecia a modalidade EAD. “Eu queria muito entender o assunto porque pretendo atuar nessa área. Escolhi o curso porque ele é completo, com dois anos de duração, aulas de professores experientes de todo o Brasil e um currículo robusto. Cheguei a considerar outros cursos, inclusive presenciais, mas nenhum oferecia essa diversidade”, afirma.
As aulas, que ocorrem quinzenalmente aos sábados, se acomodaram bem em sua agenda. “Não prejudicou meu trabalho e eu ainda tive tempo livre para fazer várias coisas – inclusive tive aula no dia do meu casamento. Assisti à primeira parte do curso e fui me arrumar para me casar”, conta.
Uma das preocupações de Isabella era sobre a possibilidade de não conseguir fazer networking em um curso online, vivência valorizada por quem procura uma especialização. “No começo pensei que esse seria um problema, mas percebi que a realidade era bem diferente. Tem uma colega na minha turma que é dona de uma editora em Rondônia, outro é um diplomata que mora na Europa. Eu fiz (durante o curso) uma amiga em Salvador que trabalha com uma editora no Canadá e graças a ela pude fazer meu primeiro trabalho de preparação de texto para o mercado editorial. Foi uma experiência incrível, um livro grande, e me senti muito realizada”, conta.
Crédito da Foto: Diego Padgurschi
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