Currículo
Um currículo cada vez mais diverso
Pós-graduação permitiu que o administrador Fabio Accunzo deixasse o mercado financeiro para trás e investisse em carreira ligada ao meio ambiente
Cursos de especialização mudaram para atender alunos cada vez mais comprometidos com causas socioambientais
Por Laís Duarte
22 nov 2024
O diploma de Economia na Universidade Mackenzie já havia sido conquistado em 1998, seguido por um Master of Business Administration, o MBA clássico, destinado a administradores das áreas de gestão de empresas e de projetos. A carreira em um grande banco deslanchava e, quanto mais conectado com o mercado financeiro estava o executivo Fabio Accunzo, 50, menos ele se sentia próximo do seu propósito, descoberto só depois de muitos anos no mercado: trabalhar em projetos ligados a sustentabilidade e meio ambiente.
Buscando uma nova especialização que atendesse ao seu desejo, descobriu uma pós-graduação em gestão de Negócios Socioambientais da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Escas). A localização da instituição de ensino estava fora do circuito das universidades mais concorridas e tradicionais – o curso é oferecido de forma presencial em Nazaré Paulista, interior de São Paulo, cidade cercada de Mata Atlântica, a cerca de 60 quilômetros da capital. Quando se viu dividindo a sala de aula com biólogos, engenheiros, jornalistas e advogados, pela primeira vez conseguiu aplicar seu conhecimento e experiência sob uma nova ótica: a de negócios que levam em conta o respeito ao meio ambiente e às questões sociais. “(A pós) mudou minha visão de mundo e me deu vontade de trabalhar por algo maior do que o dinheiro. Me levou a valorizar outras áreas da minha vida que eu não enxergava”, diz.
Ainda durante o curso, o executivo decidiu sair do banco em que trabalhava e criar o próprio negócio, empreendendo na área de alimentação natural. Depois, passou ainda a atuar como diretor da UK Export Finance para o Brasil e países do cone sul na Agência Britânica de Crédito à Exportação, órgão do Reino Unido que fomenta a negociação com fornecedores britânicos, auxiliando empresas brasileiras a financiar projetos de descarbonização, energias renováveis e manutenção de águas.
Mesmo sabendo que os salários de quem atua na área socioambiental costumam ser mais baixos do que os daqueles executivos que trabalham no mercado financeiro, não se arrepende da mudança de rota. “Hoje tenho uma visão diferente. Olho para a economia verde e para os recursos limitados do planeta, penso em como usá-los de forma mais eficiente. Trabalho com o propósito de viabilizar alternativas e caminhos para atração de soluções, tecnologias e capital para apoiar projetos com impacto positivo para a sociedade e para o meio ambiente.”
“Agora, profissionais mais jovens utilizam a formação no MBA para saltar de uma área mais técnica a um cargo de gestor de equipe. Querem se preparar para olhar para o futuro, entendem que as empresas buscam gestores que consigam se antecipar às mudanças do mercado”
Leandro Morilhas, ex-diretor da Fundação Instituto de Administração (FIA) e professor de MBA
Um novo horizonte para o MBA e pós-graduação
Hoje em dia, é cada vez mais comum que os profissionais queiram aprender como implementar a pauta da sustentabilidade de forma efetiva dentro das empresas e, por isso, tem aumentado a oferta de cursos de pós-graduação e de MBA com um currículo fortemente dedicado a questões socioambientais, como o escolhido pelo executivo. Existem ainda especializações que oferecem formação relacionada à transição energética, pauta que está em todos os noticiários e que faz parte do compromisso de diversos países em frear os impactos da mudança climática, por exemplo. A PUC/PR oferece uma pós-graduação sobre o tema, chamada Transição Energética, Novos Negócios e o Futuro da Energia; já a USP/Esalq tem a pós ESG e Negócios Sustentáveis, só para dar alguns exemplos.
No passado, era necessário um mínimo de cinco anos de experiência em cargos de liderança para ingressar em um MBA, que muitas vezes era pago pelas empresas para qualificar seus líderes. Hoje, as grandes companhias avaliam de forma positiva aqueles colaboradores que se tornam protagonistas da própria formação e investem em novas qualificações – esses profissionais são vistos pelos gestores e pelo departamento de Recursos Humanos como responsáveis e comprometidos.
E os interessados nessa capacitação são cada vez mais jovens, afirma Leandro Morilhas, ex-diretor da Fundação Instituto de Administração (FIA) e professor de MBA. A motivação para cursar uma especialização também é diversa. “Agora, profissionais mais jovens utilizam a formação no MBA para saltar de uma área mais técnica a um cargo de gestor de equipe. Querem se preparar para olhar para o futuro, entendem que as empresas buscam gestores que consigam se antecipar às mudanças do mercado”, completa. E mesmo quem não sonha com cargos de gestão percebeu que pode investir em especializações que podem melhorar sua performance no dia a dia da vida profissional. Já há no mercado algumas pós-graduações com foco em compliance, mercado de seguros, neurociência, aprendizagem na educação, entre outros. “Depende do objetivo de carreira. Por exemplo, MBAs executivos provavelmente terão como perfil pessoas que querem seguir a carreira executiva. Já MBAs voltados para ESG podem ser boas opções para profissionais que queiram entrar na carreira de consultoria de sustentabilidade. Por fim, MBAs de inovação são mais atrativos para empreendedores focados em abrir startups”, completa Morilhas.
Crédito da Foto: Diego Padgurschi
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