Enquanto os conflitos armados aumentam a sensação global de instabilidade, o Brasil surge como opção segura para o capital estrangeiro
Enquanto os conflitos armados aumentam a sensação global de instabilidade, o Brasil surge como opção segura para o capital estrangeiro
Por Maurício Oliveira
O Brasil tem muito futuro na economia de baixo carbono e apresenta um grande potencial em obras de infraestrutura, entre vários outros atrativos. “Os investidores estrangeiros têm visto o País de maneira mais positiva, devido à redução de percepção de risco em relação ao final do ano passado possibilitada pela aprovação do novo regime fiscal e manutenção das metas de inflação pelo Conselho Monetário Nacional”, avalia a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria. “Com relação aos investimentos, do ponto de vista do setor real, aqueles em infraestrutura relacionados à energia, saneamento, rodovias, ferrovias e portos mostram-se atraentes para participação de estrangeiros.”
Uma das características brasileiras que os investidores estão mais levando em consideração neste momento é o fato de ser um país com a cultura da paz. Além de não querer guerra com ninguém, o Brasil está localizado na América do Sul, bem distante da Ucrânia e da Faixa de Gaza, focos de conflitos armados que podem se estender por longo tempo e envolver mais países das regiões próximas. O risco de o conflito na Faixa de Gaza se espalhar e se transformar numa guerra regional tem sido alertado por António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) (leia mais na página 16).
Ao mesmo tempo que reforçam a imagem do Brasil como destino seguro para investimentos, no entanto, as guerras podem também prejudicar a economia brasileira. “Caso o conflito na Faixa de Gaza tenha dimensões mais expressivas, podemos ver consequências para o Brasil pelos canais financeiro e de comércio”, analisa a economista da Tendências. Alguns dos possíveis resultados são a maior pressão sobre os ativos brasileiros – incluindo depreciação do Real –, menor espaço para redução de juros pelo Banco Central e maior limitação para o cenário de crescimento econômico doméstico.
Os conflitos se somam a um cenário internacional que já estava complicado. Um dos maiores focos de preocupação é o freio no crescimento da economia chinesa, causado em grande parte pelo colapso imobiliário evidenciado a partir de 2021, com a derrocada da gigante Evergrande, que deixou de entregar mais de um milhão de apartamentos. Outra grande empresa de construção do país, a Country Garden, não está conseguindo pagar as dívidas e pode deixar de entregar 400 mil apartamentos já comprados.
“Investidores estrangeiros têm visto o País de maneira mais positiva, devido à redução de percepção de risco em relação ao final do ano passado possibilitada pela aprovação do novo regime fiscal e manutenção das metas de inflação.”
Alessandra Ribeiro, economista.
Queda na arrecadação
Ao participar de um evento promovido pelo Estadão no dia 23 de outubro, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que as economias emergentes, como o Brasil, deverão ser afetadas pela redução do fluxo de capital decorrente em grande parte dos juros mais altos pagos a investidores de títulos do governo americano. O presidente do BC lembrou que o cenário de aperto da liquidez global reforça a necessidade de estabilizar as contas públicas, já que o nível de exigência dos investidores em relação a esse tópico deve subir.
No mesmo evento, o presidente da B3, Gilson Finkelsztain, mostrou otimismo em relação à capacidade de atração de investimentos estrangeiros pelo Brasil. “Tenho escutado que o Brasil tem janela única, com juro em queda, PIB e mercado local grande, além de menor competição de recursos entre os emergentes”, afirmou. “Mesmo em períodos mais complexos, as boas histórias encontram investidores.”
Para desemperrar
O cenário reforça a importância da aprovação no Congresso do pacote enviado pelo governo para aumentar suas receitas. Zerar o déficit nas contas públicas já em 2024, como pretende o governo, exige um aumento de R$ 168,5 bilhões na arrecadação. O mercado aposta, no entanto, que a meta de eliminar o déficit precisará de pelo menos três anos para ser alcançada.
Até porque a tendência, no momento, é de desaceleração na arrecadação de impostos. “O atual pico dos preços do petróleo poderia proporcionar algumas receitas adicionais no final deste ano, se permanecerem assim por algum tempo, mas isso não seria um divisor de águas”, avalia Tiago Sbardelotto, economista da XP. A arrecadação até o fim de setembro chegou a R$ 1,691 trilhão, queda de 0,78% em termos reais na comparação com o mesmo período do ano passado. “Isso era bastante esperado, uma vez que a arrecadação de impostos em 2022 estava muito acima dos níveis históricos, de modo que podemos chamar o movimento recente de ‘normalização’”, conclui o economista.
Imagem: Adobe Stock
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