O  Brasil passa por um dos seus piores momentos econômicos dos últimos 90 anos ao anotar taxa média anual de crescimento do PIB de mísero 0,6% entre 2011 e 2018, com a agravante de ter amargado retração de 6,7% no acumulado do biênio 2015-2016. Certamente, tal feito entrará para a história econômica brasileira como “a nova década perdida: 2011-2020”.

Nos anos 1980, o Brasil viveu a conhecida “década perdida”, em que o PIB apurou média de crescimento anual de 1,7% (nossos pares emergentes cresceram o dobro), além de hiperinflação de mais de 580% na média ao ano, forte queda do consumo e da produção, grave quadro do desemprego e, por fim, fechamos os canais de financiamento externo ao declararmos moratória da dívida externa, em 1987.

Nesse contexto desalentador, o sistema financeiro não somente sobreviveu, como se fortaleceu e estabeleceu métodos e normas de controles de risco que serviram de estudos em universidades, como em Harvard. O objetivo era entender como instituições financeiras fundadas há mais de 70 anos, após o fim da 2ª Guerra Mundial, não sucumbiram nesse ambiente hostil aos negócios.

Na última crise financeira mundial, deflagrada em setembro de 2008 com a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, fundado em 1850, o sistema financeiro brasileiro passou praticamente ileso, sem encerramento de instituição financeira, enquanto cerca de 500 bancos fecharam as portas nos Estados Unidos e outros tantos precisaram de bilhões de dólares de ajuda do governo para não ir à bancarrota. Nesse caso, o mérito é do Banco Central do Brasil por ter adotado medidas prudenciais de regulação, supervisão e fiscalização que tornaram o sistema financeiro brasileiro um dos mais sólidos do mundo.

Os desafios de superação e reinvenção do sistema financeiro nacional, mais precisamente os bancos e as financeiras, são grandes para sua sobrevivência para mais longas décadas. Entre esses desafios, está, por exemplo, se adequar ao novo ambiente digital e ofertas de serviços financeiros pelas fintechs, bem como pela concorrência das cooperativas de crédito, melhorar o retorno financeiro das tesourarias num ambiente com taxas de juros baixas, além de enfrentar a concorrência bancária a partir do segundo semestre de 2020 com a adoção do open banking, no qual as instituições poderão assediar os clientes dos concorrentes sem ter de passar a porta giratória.

As instituições financeiras também vão se adaptar ao desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil, já que os canais tradicionais de financiamento bancário serão substituídos pelas emissões de títulos privados de médio e longo prazos como Debêntures,

FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios), CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), entre outros.

O mercado de capitais foi a principal fonte de financiamento do crescimento e desenvolvimento das economias centrais como, por exemplo, Estados Unidos, Japão e Inglaterra, e seu início se deu no século 16 com a fundação da bolsa de Frankfurt, na Alemanha. Ou seja, o Brasil está há mais de 400 anos atrasado.

O Brasil e o SFN (Sistema Financeiro Nacional), mesmo diante dos cenários econômicos desencorajadores para qualquer agente econômico, podem ser comparados ao grande pássaro Fênix, que na mitologia grega tinha competência de ressurgir das próprias cinzas demonstrando capacidade de resiliência, e mudar essa triste e dolorosa história econômica escrita até o momento. Há, portanto, um oceano de oportunidades às instituições participantes do sistema financeiro quando consideramos, por exemplo, que a força de trabalho do País é pouco mais de 100 milhões de pessoas (12% disso está desempregado) e com as reformas estruturantes em curso, muito provavelmente, o mercado de trabalho terá seus indicadores de renda e emprego substancialmente melhorados.

 

(*) Alex Agostini é economista-chefe da Austin Rating, coordenador da área de projetos e estudos especiais, responsável pela área de rating de entes públicos e professor universitário.