28 de junho de 2019
Desemprego, reforma e cenário externo travam crescimento
A economia brasileira começou a dar sinais de recuperação no início deste ano, mas o andamento lento da reforma da Previdência e incertezas com fatores externos colocaram o mercado em compasso de espera e levaram à redução das projeções para expansão do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano. Vale destacar que, no primeiro trimestre de 2019, o PIB recuou 0,2% em relação ao quarto trimestre de 2018, na série com ajuste sazonal, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas a expectativa é de que, com a aprovação da reforma, o PIB acelere no segundo semestre, fechando o ano abaixo do esperado inicialmente, mas com um crescimento que dará base para a consolidação da economia no ano que vem.
“O resultado do primeiro trimestre teve reflexo da volatilidade eleitoral de 2018, da Vale (rompimento da barragem em Brumadinho, MG) e da Argentina (crise econômica que atinge o país vizinho). No segundo trimestre, segue fraco e podemos atribuir à reforma”, diz Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco. Para ele, a instituição continua otimista com o futuro da economia nacional, mas ressalta que a reforma da Previdência é fundamental. “A agenda econômica é promissora”, considera Honorato. De acordo com o último relatório do banco, a estimativa é que haja a aceleração do PIB no segundo semestre, o que levará ao crescimento de 0,8% neste ano nas projeções do Bradesco. Vale destacar que no relatório anterior a expectativa da entidade era de alta de 1,1%. A projeção para 2019, diz a entidade financeira, pode ser alterada em função de eventuais estímulos específicos ao consumo, como liberação de recursos do FGTS e PIS/Pasep. “Se aprovar uma reforma previdenciária boa, é provável que aumentemos a projeção”, avalia. Para ele, a velocidade da retomada vai depender do entendimento entre governo e Congresso quanto à reforma. “Ainda está na mesa algo entre R$ 750 bilhões e R$ 1 trilhão”, comenta. Para 2020, a instituição estima um PIB de 2,20%.
O fato, diz Honorato, é que o País tem grandes oportunidades para avançar. O aumento do crédito imobiliário, que representa 10% do PIB, é uma das oportunidades de crescimento, segundo ele. Na África do Sul, por exemplo, a mesma proporção chega a 30%. No mercado automotivo também há espaço para crescer. Por aqui, existe um veículo para cinco habitantes. Na Argentina, é um carro para cada três pessoas. “A Selic deve fechar o ano em 5,75% (hoje está em 6,5%), a inflação deve continuar baixa e o dólar chegará a R$ 3,80”, projeta Honorato.
Segundo Felipe Sales, economista do Itaú Unibanco, o banco também reviu as projeções para este ano. “O ano começou com clima de otimismo, porque as pessoas acreditavam na reforma da Previdência, mas a tendência é que essa volatilidade diminua (conforme a reforma for avançando)”, diz Sales ao considerar que não é só no Brasil que a economia está desacelerando. “O Brasil sente mais o impacto porque aqui continuamos com a questão fiscal.” Para ele, a reforma será aprovada no segundo semestre, mas sua perspectiva é que será algo em torno de R$ 800 bilhões. “A reforma é fundamental e uma condição necessária, mas não é suficiente para o País voltar a crescer”, avalia. É importante, também, que o mundo não continue desacelerando.
A evolução mais contida da atividade indica que a ociosidade da economia está e será maior, olhando adiante, e o ritmo de crescimento não será suficiente para gerar pressões inflacionárias por um período mais prolongado. Diante disso, o Bradesco ajustou sua projeção de IPCA (inflação oficial) em 2019 de 4% para 3,8%. Para 2020, atualizou de 3,9% para 3,8%.
O Itaú Unibanco também reduziu a expectativa de alta do PIB de 1% para 0,8% no fim deste ano e de 2% para 1,7% no ano que vem. De acordo com o último relatório do banco, as novas projeções incorporam uma desaceleração mais intensa da economia global. “A economia brasileira tem uma grande fragilidade, que é a fiscal. Hoje temos um déficit grande e precisamos resolver isso, mas a agenda é enorme. Aprovando a Previdência e o mundo seguindo de forma benigna, devemos voltar a crescer. Mas precisamos também reduzir a burocracia”, alerta o executivo. A Selic deve fechar 2019 em 5% e manter o mesmo porcentual em 2020. E o dólar, por sua vez, tende a cair para R$ 3,80 neste fim de ano. Levando em conta o ambiente global mais desfavorável, o banco ajustou a previsão do dólar para R$ 4 em 2020. O Itaú Unibanco manteve a projeção do IPCA em 3,6% tanto neste ano quanto no próximo.
Em seu estudo recente sobre atividade econômica, publicado em abril, o Santander destacou que a ausência de uma solução para o desemprego elevado contribuiu não apenas para reduzir as expectativas de crescimento do PIB nos primeiros três meses do ano, mas também deve afetar a evolução da confiança nos próximos trimestres. “Esse contexto nos levou a reduzir ainda mais nossas estimativas de crescimento do PIB, para 1,3% (de 2,3%) em 2019 e 2,5% (de 3%) em 2020”, diz o relatório da instituição. Segundo o documento, o baixo dinamismo da atividade sugere que um novo ciclo de reduções da Selic não está fora de cogitação. “Ainda acreditamos que o Banco Central não adotará essa abordagem antes de esclarecer se o resultado da reforma da Previdência é favorável. Uma eventual piora das perspectivas associadas à evolução da agenda econômica poderia aumentar as incertezas financeiras e a volatilidade do mercado, a ponto de não ser recomendável um ciclo adicional de flexibilização monetária. Por outro lado, a evolução favorável das reformas seria suficiente para melhorar ainda mais as condições financeiras, tornando o impulso monetário adicional desnecessário.”