Diversificação é palavra de ordem quando o assunto é investimento financeiro, especialmente em tempos de juros baixos. Para especialistas, essa é a melhor maneira de conseguir maior retorno dos recursos aplicados e minimizar os riscos. “Minha dica é não colocar todos os ovos na mesma cesta”, ensina Gisele de Andrade, planejadora financeira da Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar). O fato, dizem especialistas, é que os juros mais baixos vieram para ficar e isso requer ainda maior atenção dos investidores.

“O primeiro ponto a considerar é se a inflação está corrigindo o meu valor efetivo. Se consigo comprar os mesmos produtos daqui a um ano”, comenta Andrew Frank Storfer, diretor da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). E exemplifica: se com o dinheiro que você guardou é possível comprar hoje um pacote de arroz, outro de feijão, óleo e café, daqui a um ano esse mesmo valor tem de dar para comprar os mesmo itens. “Isso significa que o seu dinheiro está sendo corrigido pela inflação”, explica. Agora, se você conseguir comprar todos esses produtos e ainda for possível colocar mais um quilo de carne e tomate na cesta, essa diferença é o que você ganhou, ou seja, o retorno.

Nos investimentos ocorre a mesma coisa. Os aplicadores esperam que seus recursos tenham retornos maiores que a inflação e, para isso, é necessário arriscar mais. “Durante muito tempo, o juro real (diferença entre juros e inflação) era alto, entre 4% e 4,5%, mas hoje a realidade é diferente. Estamos com juro real abaixo de 2% e para quem quer um rendimento maior tem que ir para a renda variável, que tem riscos maiores, mas com chances de conseguir melhor retorno”, sugere Storfer.

Com o cenário de juros baixos, a caderneta de poupança está rendendo menos, quase empatando com a inflação, e mesmo assim ainda é a aplicação favorita de 88% dos brasileiros. “A poupança é um jeito seguro de perder dinheiro”, alerta o representante da Anefac. De acordo com as regras em vigor para a caderneta, sempre que a Selic estiver abaixo de 8,5% ao ano, a correção anual da poupança ficará limitada a 70% da taxa Selic. Como atualmente a taxa básica de juros está em 6%, a correção anual da caderneta é de 4,2%, cobrindo praticamente só a inflação. Segundo o Boletim Focus divulgado na primeira semana de agosto, o IPCA (inflação oficial) deve fechar o ano em 3,8% e em 3,9% no ano que vem. A Selic, por sua vez, deve ficar em 5,25% no fim deste ano. Para o ano que vem, a estimativa é que haja uma pequena alta, chegando a 5,5%.

Vale destacar que a inflação está em baixa porque ainda há muito desemprego e, consequentemente, menor consumo. No entanto, a aprovação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, aliada à redução dos juros, deve contribuir para a retomada econômica. “O Brasil tem um histórico de investimento em títulos públicos. Porém, com a redução dos juros, a tendência é que os investidores apliquem em ações, por exemplo. O investimento em empresas leva a um círculo virtuoso da economia, que deve gerar mais emprego, mais impostos e consumo”, diz o consultor Gustavo Junqueira ao lembrar que a trajetória de redução de juros tem sido usada por vários países como estratégia para a retomada econômica.

Juros menores significam também menor preço para financiamentos, menor preço para empréstimos e menores rendimentos em aplicações conservadoras. “Logo, as pessoas tendem a assumir mais risco, inclusive empreendendo, o que gerará mais emprego. Quanto menor o juro de uma aplicação ‘ultraconservadora’, maior a disposição do investidor ou empresário para assumir riscos. Isso gera emprego”, avalia Danilo Oliveira, economista e investidor financeiro.

Oliveira explica que a queda da Selic ajuda os empresários e companhias, haja vista que a dívida de muitas delas é lastreada a Selic ou CDI (Certificado de Depósito Interbancário). Em resumo, se uma empresa tinha uma dívida em 2014 pagando CDI+1%, ela estava desembolsando 15% ao ano de juros e hoje essa mesma dívida custa 7%.

CAUTELA

“Há de se louvar o cenário econômico doméstico que afastou a possibilidade de uma trajetória explosiva da dívida pública com a aprovação em segundo turno da reforma da Previdência, mas ainda assim o cenário requer extrema cautela em relação às decisões sobre investimentos. As tensões comerciais entre Estados Unidos e China estão longe de se encerrar e seu prolongamento e sua complexidade em conjunto com uma não desprezível probabilidade de a economia norte-americana entrar em recessão já em 2020 afetam o nosso cenário doméstico”, alerta Roberto Dumas, economista e professor do Insper.

“Infelizmente, os brasileiros ainda têm pouca afinidade com o mercado financeiro. A poupança teve um crescimento de 10% em 2018 e, hoje, com a Selic a 6%, rende apenas 4,2% ao ano. Há investimentos mais seguros que rendem 30% a mais”, diz Oliveira.  No entanto, explica o especialista, a escolha do investimento depende de três pontos: Qual o seu perfil (conservador, moderado ou arrojado)? Quando irá utilizar os recursos (daqui a 1 ano, 5 anos ou 10, por exemplo)? E qual o montante que a pessoa tem para investir. “Para cada tipo de investidor existe uma estratégia de investimentos diferente. O investimento para alguém que tem

R$ 10 milhões é diferente do investimento de alguém que tem R$ 10 mil”, diz Oliveira ao comentar que para todos os perfis existem boas opções de investimentos.

A representante da Planejar sugere que recursos emergenciais sejam aplicados em produtos mais conservadores, atrelados à Selic ou ao CDI. Para um horizonte de médio prazo, de dois a três anos, a especialista sugere alocação em multimercados. E, para longo prazo, normalmente valores que serão destinados à aposentadoria, a sugestão é investir em Bolsa de Valores ou produtos atrelados a juro real, porque o retorno sempre estará acima da inflação. “O importante é olhar o seu orçamento e fazer o mix de investimentos”, diz Gisele de Andrade.

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CUIDADOS

O objetivo de buscar maior rentabilidade pode levar muitos investidores a entrar em situações irreais com promessas de ganhos incompatíveis com a realidade. “Não há milagres. Por isso, é importante que o investidor tenha ao seu lado pessoas confiáveis que conheçam o mercado e que tenham competência para ajudar nos seus objetivos e que não queiram só vender produtos”, diz Gisele de Andrade ao comentar casos de pessoas que foram iludidas com ganhos muito acima dos de mercado. “Quando a pessoa promete ganhos muito altos, como receber o dobro em poucos meses, desconfie.”