19 de agosto de 2019
Com a aprovação da reforma da Previdência, especialistas afirmam que expansão deve ser maior no ano que vem
A aprovação da reforma da Previdência pela Câmara dos Deputados promete dar novo fôlego para a economia brasileira e especialistas consideram que a fase mais difícil da crise ficou para trás. A expectativa é de que a retomada do crescimento deva dar os primeiros sinais já neste segundo semestre, com expansão mais significativa a partir do ano que vem. Essa previsão, no entanto, depende do cenário externo e de como vai caminhar a agenda de reformas e privatizações do governo federal. Os sinais de recuperação da economia vêm acompanhados de uma nova realidade em relação à taxa de juros, que devem permanecer em níveis baixos, levando brasileiros a buscar novas oportunidades de investimentos para garantir melhores retornos.
O Monitor do PIB-FGV aponta, nas séries dessazonalizadas, crescimento de 0,2% do PIB no segundo trimestre, na comparação com o primeiro, revertendo a queda de 0,1% observada no primeiro trimestre. “O crescimento de 0,2% da economia neste segundo trimestre põe a economia de volta à trajetória de crescimento que havia se perdido no primeiro trimestre. Entre os três grandes setores, a agropecuária e a indústria apresentam taxas negativas, salvando-se os serviços que já apresentam taxas positivas há dez trimestres. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, o crescimento é fraco, mas positivo como já ocorre desde o quarto trimestre de 2016. Os dados mostram que, apesar do crescimento, a economia ainda não consegue se expandir a taxas mais robustas”, avalia Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB-FGV.
“A reforma da Previdência é imprescindível, mas não é suficiente. Acredito que essa reforma vai acabar puxando as outras, como a tributária. Estamos vendo que as condições necessárias para o crescimento sustentável estão sendo dadas”, considera Marcelo Fonseca, sócio da HLB Brasil. “As medidas aprovadas, como a reforma da Previdência e a medida provisória da liberdade econômica, trazem pontos importantes para a economia”, avalia José Eduardo Laloni, vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
O contador Mauricio de Luca, da Partwork Associados, explica que atualmente o governo gasta com a Previdência e deixa de investir em outras áreas afetando o crescimento econômico e a manutenção dos programas sociais. “Após a aprovação da reforma, o Brasil receberá investimentos, pois a economia é muito grande e há espaço para crescer, principalmente em infraestrutura”, diz Luca.
Laloni concorda que o movimento de privatizações e concessões deve abrir um novo ciclo de investimentos em infraestrutura, como em portos, aeroportos, estradas e saneamento. “Só na área de saneamento serão mais de R$ 500 bilhões nos próximos anos. Vai trazer uma grande oferta de novas operações e pode ser um bom destino para aplicações de pessoas físicas”, considera o representante da Anbima.
Os especialistas lembram que os juros baixos vieram para ficar e isso levará brasileiros a buscar novas alternativas de investimento. Com a Selic em 14,5% e o juro real acima de 6%, brasileiros não precisavam fazer muito esforço para conseguir bons retornos em suas aplicações. “O juro mais baixo veio para ficar. Essa é uma tendência mundial”, diz Laloni.
Vale destacar que nos últimos três anos a Selic (taxa básica de juros) caiu de 14,5% para 6%, com projeções de mais reduções até o fim deste ano. Paralelamente, o juro real (diferença entre a Selic e a inflação) também está no menor patamar histórico, abaixo de 2%, com expectativa de mais reduções.
“Em um cenário no qual os juros eram de 14,25%, obter retornos com baixo risco era relativamente simples de fazer. O investidor conseguia, até recentemente, obter o famoso ‘1% ao mês’ sem ter que incorrer em nenhum dos três tipos de risco: mercado, crédito e liquidez”, diz a XP Investimentos em relatório sobre o Brasil após a reforma da Previdência. “O tesouro-Selic, que rende a taxa básica de juros, não tem oscilação de preço na cota e tem o menor risco de crédito do Brasil, pois é garantido pelo governo, além de não ter risco de liquidez, podendo ser resgatado diariamente. Enquanto em 2015 e 2016 ele rendia 14,25% ao ano menos impostos, hoje rende 6% menos impostos, com perspectiva de ir para 5%”, complementa a XP no relatório.
Para Fonseca, da HLB Brasil, diante do cenário reformista, a Bolsa de Valores deve trazer boas oportunidades para os investidores. “Vemos a Bolsa como o melhor ativo no Brasil. Uma agenda reformista e liberal deve destravar valor dos ativos no Brasil, com revisão positiva de lucros, menor percepção de risco e maior alocação para ações. Neste contexto, gostamos de empresas estatais e cíclicas domésticas, mas destacamos também oportunidades nas cíclicas globais, que negociam a desconto excessivo”, diz o relatório da XP.
CENÁRIO EXTERNO
No entanto, o cenário externo pode ser um componente de mudança das previsões para a economia e investimentos para este ano. A tensão comercial entre Estados Unidos e China se acirrou na semana passada e levou a oscilações nas Bolsas de Valores das principais economias, com reflexo no mercado brasileiro. Aliada a isso, a crise na Argentina traz ainda mais incertezas para a economia nacional. Para especialistas, porém, o Brasil passa pela construção de bases sólidas para sua economia e isso fará com que o País sinta um impacto menor da turbulência internacional.